Mike
Patton foi sugerido ao posto de novo vocalista do Faith No More através de Jim
Martin, quem havia conferido uma demo do
Mr. Bungle (grupo do qual Patton fazia parte na época), e juntou-se à banda no
início de 1989. Em aproximadamente duas semanas, escreveu todas as letras do
que viria a ser The Real Thing, o
álbum que finalmente revelou o Faith No More ao mundo (foi este o primeiro
recomendado por Bruno a mim). Aparentemente, o instrumental já estava todo
pronto, já que Patton não chegou a contribuir nesta parte. Ao ouvir o álbum, é
clara a impressão de alívio por parte da banda por terem se livrado do
problemático Chuck Mosley, o que acabou libertando-os de possíveis limitações,
resultando em um boom criativo
incansável se comparado aos dois primeiros discos.
From Out Of Nowhere nos mostra logo de
cara o que The Real Thing tem de
melhor: um som energético, bem construído e acabado, com ótimo trabalho
instrumental e vocal. Um grande início para a nova fase da banda. A música
seguinte, Epic, se tornou o maior hit da história do FNM e é um Rap Metal
contagiante com direito a um ótimo solo guitarrístico de Martin e refrão
grudento que funciona ainda melhor ao vivo. O fim da música é belíssimo ao som
do teclado de Roddy Bottum. Billy Gould anuncia Falling To Pieces com seu baixo marcante e logo percebemos que se
trata de uma boa mistura de Hard Rock e Funk com um apelo mais comercial,
somando mais um sucesso. Aqui já é possível notar que Patton usa e abusa de uma
voz mais nasalada, presente em boa parte do álbum.
Surprise! You’re Dead! é o primeiro
grande Heavy Metal do Faith No More. Carente de teclados, a faixa confere um
peso mais brutal em relação às anteriores e faz em pouco mais de dois minutos o
que os álbuns We Care A Lot e Introduce Yourself falharam tentando. Zombie Eaters é simplesmente a melhor
música deste terceiro álbum. A princípio, trata-se de uma linda balada calma ao
som de violão, voz suave e o velho teclado climático. Porém, aos exatos dois
minutos, a distorção do baixo indica que a atmosfera da canção irá mudar e a
mesma se transforma em outra porrada cadenciada e maravilhosa – similar ao que
acontece em The Crab Song, do álbum
anterior. (Por às vezes chamar a Kiss de “my
little zombie”, gosto de dedicar esta música a ela.) The Real Thing, a faixa-título, é uma boa promessa, com ares
progressivos em diferentes passagens interessantes, mas que peca pela repetição
excessiva em seus oito minutos de duração. Ainda assim, pode ser considerada
uma das melhores da bolacha.
Underwater Love e The Morning After retomam a sonoridade mais comercial e
descompromissada do início do álbum e são ótimas composições que só não se
destacam mais por estarem entre tantas outras melhores. Minha segunda faixa
preferida aqui é Woodpecker From Mars,
um dos melhores instrumentais dos quais já ouvi. Posso afirmar com toda a
certeza de que Roddy Bottum, Jim Martin, Billy Gould e Mike Bordin apresentaram
o ápice de seu entrosamento musical em uma composição cheia de passagens
distintas e mudanças bruscas de andamento. Apesar da linha de teclado ser
reminiscente de música oriental, Woodpecker
From Mars é Metal em sua mais pura forma. Uma mini obra-prima.
War Pigs é um clássico absoluto do Black
Sabbath que, na versão do Faith No More, ganhou maior peso, agressividade e
energia. Basicamente, esta releitura é uma atualização condizente com o Heavy
Metal praticado em meados do final dos anos 80. Embora eu ame o Black Sabbath,
devo admitir que o update não deva
nada à original. Edge Of The World é
um excelente Jazz guiado pelo piano que empolga e encerra com estilo o primeiro
álbum de real sucesso e qualidade do Faith No More.
Live At The Brixton Academy (1991)
Durante
a turnê de divulgação de The Real Thing,
um show foi gravado em Londres em 28 de Abril de 1990 e em Agosto daquele mesmo
ano foi lançada uma versão editada da apresentação em VHS chamada You Fat Bastards: Live At The Brixton Academy.
A versão em disco, Live At The Brixton
Academy, saiu apenas em Fevereiro do ano seguinte. No show em questão, o
Faith No More executou todas as canções de seu terceiro álbum e algumas poucas
da época de Chuck Mosley. No
entanto, no disco entraram apenas oito canções: Falling To Pieces, The Real
Thing, Epic, War Pigs, From Out Of Nowhere,
We Care A Lot (a única a não fazer
parte de The Real Thing), Zombie Eaters e Edge Of The World. A versão em VHS conta ainda com Underwater Love, As The Worm Turns e Woodpecker
From Mars.
Live At The Brixton Academy apresenta a
energia ao vivo que se espera de uma banda como o Faith No More e de um frontman tresloucado como Mike Patton que,
não raramente, brinca com a própria voz (por vezes estremecendo-a), culminando
em um momento totalmente “What the fuck?!”
ao cantar o refrão de Pump Up The Jam,
hit mundialmente conhecido do
Technotronic, ao final de Epic. War Pigs também não é poupada das
bizarrices de Patton, que balbucia alguns trechos na parte final da canção. We Care A Lot nos dá uma amostra de como
as canções da “Era Mosley” soam bem mais energéticas na voz de seu substituto –
inclusive, todas as versões de Live At
The Brixton Academy possuem um peso e velocidade mais elevados se
comparadas às originais.
A
edição em CD do disco ainda conta com duas faixas gravadas em estúdio, lançadas
anteriormente como b-sides do single de From Out Of Nowhere. A primeira delas é The Grade, um bom Country instrumental executado ao violão. Nada
demais. A outra, The Cowboy Song, nos
faz questionar o motivo de a mesma não ter entrado no tracklist de The Real Thing,
pois trata-se de uma excelente fusão Hard N’ Heavy que poderia perfeitamente
figurar no lugar de Underwater Love ou
The Morning After. The Cowboy Song encerra muito bem o
único disco ao vivo do Faith No More e este, por sua vez, marca o fim de mais uma
fase da banda, que ainda atingiria seu ápice musical.
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