sexta-feira, 17 de agosto de 2012

I Hate No More: Parte II

We Care A Lot (1985)


We Care A Lot, o debut do Faith No More, já se inicia com sua faixa-título. A canção mais conhecida da banda com Chuck Mosley nos vocais logo denuncia qual é o grande problema deste álbum (e de seu sucessor): os vocais de Chuck Mosley. O vocalista parece cantar em constante bocejo, sem qualquer vontade de tentar fazer bonito. O que se salva aqui são os competentíssimos instrumentistas e sua habilidade – ainda em desenvolvimento – em criar boas composições. We Care A Lot apresenta uma fusão interessante de Metal, Funk e o Pop inconfundível dos anos 80 (essa mistura seria utilizada pela banda durante todo o resto da década).

The Jungle apresenta um belo trabalho de guitarra e teclado, com os instrumentos se alternando em alguns momentos e criando uma forte parede sonora juntos em outros – o teclado de Roddy Bottum, inclusive, se manteria fundamental ao som da banda por muitos anos. Mark Bowen aponta outro problema recorrente na estréia do FNM, que é a repetição. Algumas canções desta época simplesmente não decolam, embora pudessem ser ótimas caso tivessem sido mais cuidadosamente trabalhadas. Jim é uma bela canção instrumental, bastante semelhante àquelas encontradas em caixinhas de música, muito bem executada ao violão por Jim Martin, quem deu nome à faixa.

Why Do You Bother começa com o baixo sempre funkeado de Billy Gould, criando uma ótima introdução para outra música que jamais abandona a base rítmica, apesar de conseguir criar um clima mais denso em seus momentos finais, com a desaceleração da bateria, culminando em um simples piano que se repete até que não possamos mais ouvi-lo. Greed não traz nenhuma novidade. Assim como algumas outras canções aqui, ela é descartável. Pills For Breakfast – outra faixa instrumental – é, justamente por não possuir vocais, uma das melhores do álbum. Ela mostra uma vertente um pouco mais pesada da banda (cortesia de Martin), com riffs simples e o interessante acompanhamento de um climático sintetizador.

Por falar em sintetizador, Bottum rouba As The Worm Turns para si com sua maravilhosa linha de teclado, tomando conta de quase toda a primeira metade da canção. É uma pena, porém, que o resto da mesma não tenha sido tão bem desenvolvido – em pouco mais de três minutos, ela acaba um tanto abruptamente, e poderia ter rendido uma excelente faixa mais longa e com mais variações. Ainda assim, é minha preferida deste álbum. Arabian Disco é puro Pop datado, ainda que levemente interessante, mas nada mais do que isso. New Beginnings é um bom encerramento para o primeiro registro oficial do Faith No More. Esta faixa apresenta um pouco do que faltou em boa parte do trabalho: maior variação de andamentos e melhor acabamento.

Introduce Yourself (1987)


We Care A Lot foi um começo bastante morno para uma banda que ficou mundialmente famosa pela sua capacidade de criar, inovar e ousar. Introduce Yourself, o segundo disco, segue a mesma linha musical de seu antecessor e está longe de ser uma obra-prima. Porém, aqui a banda apresenta uma considerável melhora em suas composições. Até mesmo a voz de Mosley está um pouco mais “tragável”. Slash Records, a nova gravadora, permitiu que a banda produzisse seu segundo esforço de estúdio com melhores condições, permitindo uma qualidade de gravação superior.
Faster Disco abre o álbum de forma boa, porém econômica. Apesar de ainda bastante perceptível, o Pop dos anos 80, tão gritante em We Care A Lot, está bem mais contido aqui, fazendo de Introduce Yourself um disco menos datado. O delicioso Funk de Anne’s Song traz outra ótima linha de baixo de Gould, sendo o grande destaque da faixa, juntamente a um solo de Martin, não tão comum em sua passagem pela banda. Esta canção foi lançada como um single, mas não vingou (o que é uma pena, pois tinha tudo para dar certo). O fim abrupto da canção é imediatamente emendado pela rápida faixa-título, um Hard Rock direto, com apenas um minuto e meio de duração. Esta canção é certamente uma das melhores e mais famosas desta primeira fase da banda.

Um grande destaque neste álbum é Chinese Arithmetic, um Heavy Metal com pitadas de Rap e um discreto e climático teclado fazendo cama para os riffs inspirados de Martin, sempre roubando a canção quando aparecem. Minha preferida deste álbum. Death March começa com um Mosley indignado e mantém um clima tenso e pesado durante todo o tempo. Apesar de soar repetitiva, é uma faixa interessante. A regravação da faixa-título do álbum de estréia do Faith No More aparece em seguida, sendo quase idêntica a original, com algumas modificações na letra. Acredito que a banda regravou a canção por vontade da gravadora, que sabia que se tratava de um hit em potencial e bastava apenas uma melhor produção e divulgação.

RN’R mantém o bom nível do álbum, mesclando Heavy Metal e Funk com precisão. The Crab Song é a mais longa e bela composição aqui. O início se dá com Mosley se arrependendo das barbaridades que proferiu a uma mulher, implorando para que ela volte. Embora não seja um dos melhores vocalistas, ele até se esforça para conseguir cantar no tom correto na primeira parte da canção (a rouquidão chega a me lembrar do Seal), que se converte em uma porrada musical em sua segunda metade, também contando com versos recitados ao melhor estilo Rap, tão comum para Mosley. Blood é mais um bom Heavy com ótimas guitarras, mas é com Spirit que Introduce Yourself termina em real agressividade. Eu gosto de pensar nesta faixa como uma despedida de Mosley (embora esta realmente não tenha sido a intenção da banda ou do vocalista), que foi substituído por Mike Patton um ano depois.

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