quarta-feira, 27 de outubro de 2010

1000

Eu havia planejado muitos posts para o mês de Outubro. Tudo começou muito bem, mas infelizmente me senti desmotivado há algumas semanas e, agora que tudo voltou ao normal, estou escrevendo bastante. O único problema é que as coisas que ando escrevendo não são para o blog, pois se tratam de roteiros de filmes direcionados à faculdade. O tempo anda meio escasso e tenho (junto de meus colegas, é claro) dois grandes projetos para entregar até Dezembro, além de outro filme em estágio inicial de elaboração de roteiro que deve ser rodado e editado ainda nesta semana. Tudo isso dá um puta trabalho, mas não há nada como fazer o que a gente gosta.

De qualquer forma, Outubro de 2010 é o mês com o maior número de posts do blog (o que não é grande coisa, visto que outros blogs são atualizados quase todos os dias), ao menos por enquanto. Mesmo que eu contribua muito pouco e desapareça por um tempo – às vezes, semanas – as pessoas sempre voltam para checar se há novidades e, graças a isso, fico muito feliz de ver que meu blog atingiu a marca de 1000 visitas. No começo, eu não imaginava que isso aconteceria e comemorava cada centena. Nunca fui de fazer muita divulgação do blog (até mesmo a Aninha, minha ex-namorada, era mais disposta a isso do que eu). Eu achava que as pessoas que passavam por aqui logo iriam se cansar de ler as coisas muito longas e nada interessantes que escrevo e acabariam se esquecendo eventualmente. Mas, se continuo a escrever aqui, é porque sei que alguém se interessa, e esta é minha maior recompensa.

Portanto, gostaria de dedicar este post a todas as pessoas que visitam o blog e têm paciência para lê-lo, pois o mesmo provavelmente não estaria ativo até hoje se não fosse por elas. Agradeço especialmente àqueles que comentam aqui ou em outros meios, pois são estes comentários que me instigam a escrever cada vez melhor, como já afirmei em outra ocasião.

Muito obrigado mesmo!

PS: Assim que for possível, voltarei a atualizar o blog com mais freqüência.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Iniciou-se em um Sábado, Concluiu-se em um Sábado

Neste último Sábado eu finalmente descobri o que é a dor de verdade. Precisava sair. Não me sentia bem, e não queria ficar sozinho. Não queria ficar sozinho. Disseram-me: “Até que você está levando numa boa.”. Sou ótimo para disfarçar o que sinto. A verdade é que posso estar rindo por fora, mas agonizando por dentro. Não gosto de infectar ninguém com tristeza, a não ser que esta seja através da Arte. Caso contrário, prefiro ficar sozinho mesmo.

Sei exatamente onde errei. A culpa foi toda minha. Uma pergunta aperta meu coração e não sai de minha cabeça desde aquele momento decisivo, para o qual eu já estava preparado por saber que era apenas uma questão de tempo. Mas eu não sabia que doeria tanto. Ao fim da conversa, meus dedos tremeram e meus olhos se encheram de lágrimas, assim como agora. Mal pude falar sem tremer os lábios. Percebi que na vida não existem finais felizes como eu imaginava – ela apenas encontra novos caminhos, de um jeito ou de outro.

Agora sei como ela se sentiu. Apenas gostaria de poder beijá-la uma última vez.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

American History X (A Outra História Americana - 1998)

O racismo é uma das coisas mais estúpidas na história da humanidade. Apesar de todos os absurdos provocados por Adolf Hitler, ainda existem diversos otários espalhados pelo mundo que seguem seus ideais, inclusive nos países que lutaram contra o ditador durante a Segunda Guerra Mundial.

Esta é a base da trama de American History X (A Outra História Americana), dirigido por Tony Kaye e lançado em 1998. O filme narra a história de dois irmãos, Derek (Edward Norton) e Danny Vinyard (Edward Furlong) em sua inclusão ao neonazismo. Derek era um aluno excepcional na escola, mas a morte de seu pai o provocou uma ira que o deixou completamente cego perante seus atos. Ao conhecer Cameron Alexander (Stacy Keach), membro da supremacia branca, Derek se torna o líder de uma gangue de skinheads e eventualmente é preso pelo assassinato de dois negros. Durante os três anos que passou em confinamento, percebeu que sua ira e suas ações não o ajudaram a se sentir melhor e que nada realmente valeu à pena. Determinado a deixar o neonazismo e seguir com uma vida nova ao ser libertado, Derek vê seu irmão mais novo seguindo os mesmos passos que o levaram à prisão.

Danny também é um aluno exemplar da mesma escola em que Derek estudou. Porém, ao escrever sobre a autobiografia de Hitler, Mein Kampf, para seu professor de História, Murray (Elliott Gould), amigo e ex-namorado de Doris (Beverly D’Angelo), mãe de Derek e Danny, ele é encaminhado à sala do diretor (ironicamente, um negro) Dr. Robert Sweeney (Avery Brooks), antigo professor de Derek, o qual exige que Danny escreva um novo texto, desta vez baseado em Derek, intitulado “American History X”.

Uma das melhores qualidades do filme é a forma com que ele é contado. Seguindo uma narrativa não-linear, todos os acontecimentos anteriores ao dia em que Derek é libertado são mostrados em preto-e-branco, como a razão da influência de Derek ao racismo, sua ascensão como líder do D.O.C. (o grupo de skinheads), a discussão envolvendo Murray (um judeu) e ele durante uma refeição com toda a família, o assassinato dos negros e o tempo em que Derek passou na prisão. Porém, um destes flashbacks destaca-se ainda mais: a aposta feita entre os skinheads e os negros envolvendo a quadra de basquete e a subseqüente partida. A seqüência foi muito bem executada, pontuada pela emoção do jogo e a ótima trilha sonora de Anne Dudley, além de a película em preto-e-branco conferir à cena um tom mais artístico.

Outro ponto técnico interessante de American History X é o uso de closes nos rostos dos personagens enquanto estes dialogam, o que torna a narrativa muito mais intimista, facilitando a compreensão do caráter de cada um deles. Por exemplo, durante uma conversa entre Danny e Cameron, podemos notar no rosto deste último a convicção em todos os absurdos que verbaliza, além de sua expressão fria e sarcástica. Porém, de nada serviriam estes closes faciais caso os atores não fossem tão bons.

Furlong está sensacional como Danny. É uma pena que o ator se envolveu demais com drogas e teve seu trabalho relativamente reduzido na década seguinte, atuando em filmes precários e medíocres. Beverly D’Angelo (a Sheila Franklin de Hair) alterna os diversos estados emocionais e físicos de Doris com maestria, enquanto Avery Brooks transmite os conhecimentos de Sweeney de forma econômica, mas sem jamais soar capenga. Stacy Keach transforma Cameron no grande monstro do filme, ainda que seu tempo em tela seja razoavelmente curto. Fairuza Balk (Stacey, namorada de Derek), Ethan Suplee (Seth Ryan, o amigo skinhead gordo de Derek), Jennifer Lien (Davina, irmã de Danny e Derek), William Russ (Dennis, o pai dos irmãos Vinyard), Guy Torry (o negro Lamont, colega de trabalho de Derek na prisão e responsável por algumas das cenas mais divertidas do filme) e Elliott Gould reforçam o ótimo elenco.

E Edward Norton? Simplesmente fantástico. Não assisti a todos os filmes nos quais ele atuou, mas acredito que esta seja sua melhor performance. Norton é um ator que abraça fortemente todos os seus papéis e, aqui, confere a Derek um personagem brilhante e inteligente, ainda que humano e, conseqüentemente, sujeito a erros.

American History X ainda destaca-se da grande maioria dos filmes por não seguir certos padrões que acabam se transformando em clichês cinematográficos. Aqui não temos uma luta do bem contra o mal, pois tanto negros quanto skinheads são retratados como sujeitos perigosos de Venice Beach, bairro de Los Angeles onde a história se passa. Algo que me deixa particularmente muito feliz é a decisão do roteirista David McKenna de não ter transformado Derek em um cristão devoto ao se arrepender de seus pecados, o que é tão comum aos fracos tanto na vida real quanto na ficção. Felizmente, esta não é a natureza do protagonista.

“Então eu acho que é aqui que lhe digo o que aprendi – minha conclusão, certo? Bem, minha conclusão é: ódio é bagagem. A vida é muito curta para se estar irritado o tempo todo. Simplesmente não vale à pena. Derek diz que é sempre bom terminar um texto com uma citação. Ele diz que alguém mais já o fez melhor. Então, se você não pode superá-los, roube-os e termine em grande estilo. Então escolhi um cara que achei que você gostaria: ‘Nós não somos inimigos, e sim amigos. Não devemos ser inimigos. Embora a paixão possa ter se exaustado, ela não deve romper nossos laços de afeição. Os acordes místicos da memória se intensificarão quando tocados novamente, como certamente serão, pelos grandes anjos de nossa natureza.’” – Danny Vinyard

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Em Companhia Da Escuridão

Em se tratando de águas passadas
Quando a corrente foi rompida
E o corpo brutalmente corrompido
Esvaído em sangue e lágrimas
Pude perceber a expressão em seu rosto
A notável presença do medo se escancarava cada vez mais
Não fosse pela cor de sua pele, diria que você está pálida

Eu não sei onde estava durante todo este tempo
Em nosso último encontro, tudo estava bem
Não havia tristeza, tampouco raiva
Sua vida está ausente por completo
Mas você ainda se move

O que aconteceu com aquela pessoa que inspirava garra, força e coragem?

A mente é mais fraca que o corpo.

Andarilha, em busca de um mundo utópico
Perverso é o que irá encontrar
Ardendo em chamas e desmoronando por fora
Nem as cinzas remanescem por muito tempo
Logo não haverá para onde correr, pois o chão está cedendo

Sim, o mundo é cruel
Mas não seja cruel consigo mesma

Destemido, o medo antecede a coragem
O vazio toma conta do espaço preenchido
A luz do dia é envolta em escuridão
E as estrelas brilham apenas por obrigação

A corrente se rompeu, mas você continua presa
Seu corpo se curou, mas continua ferido
Você ainda se move, mas sua vida está ausente por completo
Não fosse pela cor de sua pele, diria que você está pálida.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Hair (1979)

Na época em que morei em Goiânia pela primeira vez, em meados de 1995, costumava gravar muitos filmes que passavam na televisão. Meu pai fazia diversas viagens para Manaus a trabalho e sempre me trazia caixas com fitas VHS novas. Ele nunca se preocupava em gravar filmes. Porém, certa vez, acordei de manhã e percebi que ele havia pegado uma destas fitas para realizar uma gravação. Quando fui perguntá-lo o que havia sido gravado, ele simplesmente encheu a boca e os olhos e disse: Hair! Um dos melhores filmes da história!”, ou algo assim. Ele explicou que o filme havia passado no Intercine, começando à uma da madrugada e terminando um pouco depois das três. Ele não me convidou a vê-lo na hora porque eu acordava muito cedo para ir para a escola.

Imaginei que o filme deveria ser uma coisa de outro mundo, já que meu pai jamais gravaria qualquer coisa por conta própria. Fiquei naturalmente curioso, algo bastante comum para uma criança de 9 anos de idade sedenta por aprender mais sobre a arte do Cinema e da Música. Ao assistir ao filme, estava ciente de que havia presenciado algo espetacular. Os personagens, a música, os cenários, a época e a cultura dela tornam Hair um dos melhores filmes a que já tive o prazer de assistir. Após reproduções constantes, a fita foi finalmente tragada pelo videocassete e isto fez com que eu passasse bons anos sem contato algum com o filme.

Até que, morando em Boston em 2006, eu estava em uma loja de CDs e DVDs sem saber o que comprar e, de repente, foi como se uma cópia do filme pulasse em minha mão e dissesse: “Buy me! Buy me!”. Como eu poderia recusar? Então fui para casa rever o filme após quase uma década e me surpreendi quando percebi que havia passado a sessão inteira com um sorriso contínuo em meu rosto. Sorriso este que refletia a saudade de Hair sendo morta durante quase duas horas de projeção.

Hair é um filme de 1979 dirigido por Milos Forman, vencedor do Oscar de Melhor Diretor por seu filme anterior, o excelente One Flew Over The Cuckoo’s Nest (Um Estranho No Ninho – 1975). O filme foi inspirado no musical homônimo de 1968 da Broadway, mas exceto pelo título, nomes de personagens e algumas canções, pouco têm em comum. James Rado e Gerome Ragni, escritores do musical, afirmam que a versão cinematográfica do mesmo ainda não foi produzida, deixando claro que não gostaram do filme em questão. Mas o que realmente importa é que Hair, o filme, consegue se manter sozinho por seu próprio mérito e deleite audiovisual.

Na trama, que se passa em 1968, somos apresentados a Claude Bukowski (John Savage), um ingênuo jovem fazendeiro do interior de Oklahoma que viaja para New York para se alistar no exército. Era o auge da Guerra do Vietnam e do movimento hippie que lutava contra a mesma. Ao passear pelo Central Park, Claude conhece um grupo de hippies liderado pelo carismático George Berger (Treat Williams, em um papel inesquecível). Juntos, mostram a Claude as coisas belas da vida (leia-se haxixe e LSD) que ele não teve a oportunidade de conhecer em sua cidadezinha em Oklahoma e tentam convencê-lo das barbaridades da Guerra do Vietnam. Ao mesmo tempo, Claude se apaixona por uma garota da alta sociedade, Sheila Franklin (Beverly D’Angelo), que, mesmo sabendo do interesse amoroso deste por ela, não hesita em flertar com Berger (Ah, as mulheres!). Enfim, Claude acaba se alistando no exército após um problema de comunicação entre Berger e ele, indo parar em uma base de treinamento militar em Nevada. Sheila, após receber uma carta de Claude, mostra-a a Berger, que decide fazer uma viagem, junto a ela e seu grupo, através do país para visitar o amigo.

A sinopse do filme o dá a impressão de ser bastante ordinário, não fosse pelas seqüências musicais e seus fortes personagens que, além de Claude, Berger e Sheila, constam Woof Daschund (Don Dacus, guitarrista e vocalista da banda Chicago), LaFayette “Hud” Johnson (Dorsey Wright), a noiva de Hud (Cheryl Barnes) e Jeannie Ryan (Annie Golden), garota adorável que está grávida, mas não sabe se o pai do bebê é Woof ou Hud. Temos, naturalmente, outros personagens de menor destaque, mas de igual importância para o andamento da projeção.

Porém, quem rouba todas as cenas nas quais aparece é Berger. O sujeito de 23 anos demonstra uma liderança natural para com seu grupo e não mede esforços para que todos estejam bem, como fica provado na excelente seqüência em que todos os demais (inclusive Claude) encontram-se presos enquanto Berger sai às ruas em busca de dinheiro para pagar suas fianças. Da mesma forma com que preza pelos amigos, tem amor pela vida e pelo estilo com que a leva. Não se importa nem um pouco com as obrigações que a sociedade lhe impõe e simplesmente faz as coisas que tem vontade, quando tem vontade, sem prejudicar a ninguém (de certa forma). Seu grande destaque na tela é a cena na qual protagoniza uma dança sobre uma longa mesa ao ir a uma festa que não foi convidado (a canção em questão é I Got Life).

As seqüências musicais e suas coreografias são de embasbacar. Até hoje, quando assisto à fantástica seqüência no Central Park ao som de Aquarius, sinto arrepios e percebo um grande sorriso em meu rosto (como quando assisti ao filme novamente em 2006). Acredito que grande parte do impacto que esta cena me causa é justamente a força da canção em questão, que virou um grande sucesso em 1969 quando foi lançada em single. Temos cenas/canções engraçadas como Sodomy (Woof recitando palavras safadas para duas mulheres enquanto andam a cavalo), Hair (a famosa canção-título executada na prisão) e Black Boys/White Boys (alternada entre mulheres no Central Park e militares responsáveis pela avaliação física dos alistados, resultando no momento mais hilário do filme).

Porém, à medida que o filme se desenvolve, as cenas/canções mais alegres dão lugar às mais tristes, e este é um dos méritos do filme. Os trinta minutos finais contrastam imensamente com a mesma duração inicial e é interessante poder acompanhar todas as suas transições. Temos canções mais densas como a bela Walking In Space (My Body) (que traz arrepios em minha espinha toda vez que a garota vietnamita aparece cantando, mesmo que a voz da canção não seja realmente dela), Easy To Be Hard (quando a noiva de Hud o encontra e este a hostiliza, numa belíssima cena mostrando para quê servem os amigos) e a fantástica The Flesh Failures/Let The Sunshine In, o clímax/desfecho da narrativa (que não comentarei para não estragar a surpresa de quem não assistiu ao filme, mas tem vontade).

Todas as vezes nas quais assisto Hair, sinto a nostalgia que nunca tive. Ao testemunhar como era a sociedade no final dos anos 60, a cultura americana (e também européia), o Rock N’ Roll atingindo seu auge, o movimento hippie pregando paz e amor acima de tudo, entre outras coisas, faz-me querer cada vez mais ter vivido aquela época, mesmo com todas as dificuldades que ela também apresentava. Atualmente, vivemos em um mundo aonde as pessoas não interagem mais entre si e não se preocupam umas com as outras. São tão fúteis e conformistas que se contentam com o nível mais baixo de conhecimento cultural (ao menos, os brasileiros) e acham que a Política algum dia irá consertar o mundo. Os jovens estão cada vez mais estúpidos e unidimensionais. Não existe mais a vontade de se causar uma revolução através da inteligência e do inconformismo, muito menos o tesão pela vida. Tudo isso me convence de que nasci na época errada, onde quase tudo é ruim demais, sugerindo que a humanidade vai gradualmente caminhando em direção ao fim.

“Quando a lua estiver na Sétima Casa e Júpiter se alinhar com Marte, então a paz irá guiar os planetas e o amor dirigirá as estrelas.”Aquarius