sábado, 25 de dezembro de 2010

Um Estranho

Olhando para o canto
Raciocinando sobre o passado
Expondo minhas memórias a um estranho
Que diz não saber o que é o sofrimento

De repente, ele chora
Debruça-se sobre seu colo
E diz ter perdido alguém

Ele não sabe o motivo, refuta sempre
Não sabe aonde errou e o que cometeu
Nem mesmo o que deixou de fazer
Mas afirma que se tornaria uma pessoa melhor
E faria o possível para reaver este alguém

Já não demonstra tanta tristeza em sua face
Ele agradece, levanta-se e segue seu caminho

Reflexivo e sozinho
Decidi que faria o mesmo por mim
Embora eu não demonstre
A dor que sinto quando penso em você.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Demência

Eu realmente iria desaparecer daqui pelo resto do ano, mas algo me chamou a atenção nos últimos dias que precisava ser abordado e, como é bem certo, escrever é um exercício para se exorcizar os demônios interiores.

O que leva uma pessoa a se apaixonar por outra sem nenhum grande motivo aparente e sair por aí dizendo para quem quiser ouvir que ama tal pessoa, sendo que esta literalmente não dá a mínima? Como pode um ser humano, além de infeliz, ser infeliz com o que tem e desejar mais o que é dos outros? E por que esta pessoa se porta bem com outras para tentar conseguir o que tanto almeja? E o pior de tudo, por que uma pessoa se diz amiga e trai a confiança alheia com a mesma facilidade em que rasga um pedaço de papel?

A resposta para todas estas perguntas não é apenas a falsidade. Seria muito simples. Tais pessoas são realmente dementes, loucas, insanas. E não me refiro ao tipo que se encontra em hospícios (os mais humanos e inteligentes), e sim às pessoas brochantes e estúpidas que se encontram por todos os outros lugares.

Uma pessoa que não se valoriza e não é amada o suficiente e coloca outra como sua prioridade de vida jamais terá capacidade para levar estes planos a cabo, ainda que esta seja sua grande vontade. Tentar preencher o vazio deixado por outra pessoa não adiantará. Você não conseguirá sequer encher um dedo do copo, pois você nada mais é do que um João-Ninguém.

O que dizer então de um João-Ninguém mais burro que uma porta – aquele que fala o que quer e escuta apenas o que quer, ou não escuta definitivamente nada? Alguém poderia me dizer qual o nível necessário de tolerância e paciência com alguém assim? Só conheço uma pessoa tão boa a ponto de suportar e conviver quase que diariamente com um ser com essas características.

Se você diz possuir amizade com duas pessoas que também são amigas entre si, não defeque em suas cabeças! Para que inventar histórias para tentar deixar alguém mais à vontade? E quanto a ocultar informações? Se não é capaz de ser sincera, fique em cima do muro, porra! Ao menos todo mundo ficará feliz por saber que você não fede e nem cheira.

Quando escrevi o post “Um Tributo À Mediocridade”, me referia justamente a alguém do tipo acima. São todos farinha do mesmo saco, literalmente falando. Não chega nem a ser uma metáfora. O lado bom da raiva é que, quando ela passa, eu me divirto. Muito. Apenas uma coisa é certa: demência pode ser contagiante, não importa o quão forte você aparente ser ou realmente é. Portanto, pule do barco e se salve enquanto é tempo, mesmo tendo que nadar contra a correnteza.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Apenas Um Outro Nômade: 1 ano de blog

Ontem, 16 de Dezembro de 2010, meu blog completou um ano de existência. Como o aniversário dele coincide com as comemorações de fim de ano, nada mais justo que olhar para trás e avaliar o ano que se passou.

2010 foi, provavelmente, o melhor ano que tive até hoje. Tantas pessoas fantásticas entraram em minha vida em tão pouco tempo que realmente não dá para falar de todas e como as conheci. O pessoal de Goiânia e a turma da faculdade em Brasília são exemplos de pessoas que quero guardar por muito tempo. Minha avó se casou novamente em Junho e foi ótimo reencontrar parentes em Belo Horizonte após tanto tempo.

O irônico é constatar que iniciei o ano de 2010 com o pé esquerdo, para depois perceber que coisas boas estavam começando a acontecer. Meu trabalho como professor havia melhorado e eu estava me divertindo bastante no primeiro semestre, o qual passei em Goiânia. Porém, surgiu a oportunidade de entrar na faculdade no segundo semestre em Brasília. Eu tinha certeza de que aquela seria uma última oportunidade durante um bom tempo e decidi que, desta vez, iria entrar de cabeça. Me surpreendi por perceber que só não fui um bom aluno nos tempos de escola porque eu era (e ainda sou) muito preguiçoso e realmente não queria saber de nada. Minha dedicação foi tão grande que fui convidado por alguns colegas a ser parte integrante de uma futura produtora de filmes independentes.

Porém, quando tudo anda muito bem é sinal de que algo ruim irá acontecer. O fim de algo que durou muito, muito tempo. Isso aconteceu e não me senti bem por uns dias, mas, na verdade, me recuperei rápido demais. Creio que o que aconteceu foi o melhor para todos e já não tenho mais vontade de voltar no tempo. Quero apenas viver minha vida e desejar que façam o mesmo. Minha mãe passou por algo semelhante ao mesmo tempo e nossa amizade nunca foi tão forte quanto é agora. Sem dúvida, ela se tornou minha maior companheira. Minha relação com minha linda filha também nunca esteve em tão boa sintonia.

Excetuando-se este e alguns outros equívocos da minha parte, nunca me senti tão bem comigo mesmo. Creio que precisava apenas de um rumo e, neste caso, foi a faculdade. Não poderia desejar uma turma melhor. Cada um ali tem seu próprio talento, intelecto e personalidade e, o que mais me agrada, um grande senso de união. É sempre divertido quando nos juntamos pra tocar um violão, jogar uma sinuca ou simplesmente conversar. Neste semestre estive envolvido em três filmes. O primeiro foi horrível, o segundo foi divertido e o terceiro foi uma animação em stop motion trabalhosa, mas que deixou todo mundo orgulhoso ao ver o produto final. O problema é que todos estes filmes foram trabalhos da faculdade, o que implica que tivemos muito pouco tempo e recursos para fazê-los. Porém, a tendência é só melhorar.

Este texto faz um belo contraste com o primeiro post deste blog“Obrigado”, uma expressão poderosa – no qual eu lamentava não ter aproveitado minha vida como deveria. Aprendi que tudo tem um momento certo para acontecer e já não me arrependo do tempo que joguei fora. Afinal, não adianta chorar pela Coca derramada. Então, o correto a se fazer é comprar outra e ser feliz.

Agradeço (novamente) a todos os que passam ou passaram por aqui no decorrer de 2010 e desejo-lhes ótimas comemorações de fim de ano. A gente se vê em 2011!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

01:02:03

Uma hora para sonhar
Sentir aquele momento inalcançável que se perde ao despertar
E o lamento de que aquilo jamais irá voltar
Com muito pesar

Dois minutos para refletir
Sobre a sensação de que o mundo irá ruir
Implodir conflitante e a vida se extinguir
Em um mar de almas, se subtrair

Três segundos para morrer
A tormenta se encarrega raivosamente de trazer
O corpo decomposto de seu ser
Para, em um novo útero, renascer

O que houve com a emoção?
Do que se fez a criação?
Por que não estamos em união?
Aonde foi parar minha inspiração?

domingo, 28 de novembro de 2010

The Hitcher (A Morte Pede Carona - 1986)

A primeira coisa que você precisa saber sobre The Hitcher é que o roteirista Eric Red criou a trama do filme inspirando-se na canção Riders On The Storm (a qual já comentei sobre neste blog). Ainda não é motivo suficiente para assisti-lo? Vamos então à sinopse:

O filme de 1986 dirigido por Robert Harmon nos apresenta o jovem Jim Halsey (C. Thomas Howell) atravessando os Estados Unidos pela Rota 66 para efetuar a entrega do carro que está dirigindo. Certa noite, próximo ao amanhecer, Halsey sente o peso do sono e, na esperança de manter-se acordado, decide dar carona a John Ryder (Rutger Hauer), um sujeito que se encontra à beira da estrada, sob uma forte tempestade. Logo, Ryder confessa ser um assassino frio e que Halsey será sua próxima vítima. Começa-se então um perturbador jogo de gato e rato que se conclui apenas ao final do filme.

Se a trama é bastante simples, o que tem de tão bom em The Hitcher? Para começar, esse é justamente um dos motivos que me fazem gostar deste filme. Aqui não temos explicações sobre a origem do assassino e os motivos que o levam a matar. Por exemplo, jamais descobrimos a razão de Ryder não matar Halsey nas várias oportunidades vistas ao longo do filme, muito menos o porquê de Halsey ter sido o “escolhido” para participar do jogo mortal de Ryder. Sabe-se apenas qual foi o propósito final do assassino. O foco aqui é o suspense e a ação.

Falando em suspense, Rutger Hauer encarna aqui um dos melhores vilões que já tive o prazer de assistir, transformando Ryder em um assassino sagaz, doentio e extremamente perigoso, e isso é algo para poucos. A atuação de Hauer é tão brilhante que me fez torcer por seu personagem. Em contrapartida, C. Thomas Howell encarna um jovem fraco e inseguro e é interessante acompanhar sua gradual transformação em um sujeito corajoso e vingativo. Já Jennifer Jason Leigh cumpre bem seu papel como Nash, uma garçonete que decide ajudar Halsey a fugir do assassino e até mesmo da polícia (culminando em uma fantástica perseguição envolvendo três viaturas, cujo desfecho é o melhor momento de The Hitcher).

O maior enigma do filme é a relação entre Halsey e Ryder. Alternando momentos de puro ódio e repulsa com ligeiros flertes (como na cena do interrogatório de Ryder), é impossível imaginar o que cada um deles realmente sente em relação ao outro, principalmente nos momentos finais da projeção. Não sei se a idéia foi proposital ou não, mas com certeza gerou discussões em mesas de bares na época do lançamento do filme.

Um dos grandes destaques de The Hitcher (além de Rutger Hauer, claro) é a Fotografia. O diretor Robert Harmon nos fornece enquadramentos de câmera fantásticos e que funcionam ainda melhor com a atmosfera criada pela iluminação, tanto nas cenas noturnas (como a primeira conversa entre os protagonistas) como nas diurnas (a já citada perseguição de carros). A trilha sonora (bem oitentista, por sinal) também contribui e muito, especialmente nos momentos de maior tensão.

Enfim, conclui-se que, mesmo não sendo uma obra-prima, The Hitcher é um grande filme de suspense que fará você refletir sobre fazer uma refeição em uma lanchonete de beira de estrada ou preferir passar fome até chegar à civilização.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Luke Strike: Cena X

Por falta de tempo para escrever para o blog, resolvi postar uma cena que escrevi para a aula de Oficina de Roteiro Audiovisual. Infelizmente não foi possível formatar aqui o roteiro exatamente como ele deve ser, mas a proposta permanece intacta.
CENA X – INT. NOITE (CASA)

Luke está em seu quarto. É noite e todas as luzes de sua casa estão apagadas, exceto a luminária que auxilia sua escrita sobre a escrivaninha cheia de objetos e materiais. O silêncio predomina em toda a casa. Ao olhar para a folha de papel em branco, Luke se dá conta de que não está em um bom momento de inspiração. Segurando a caneta com sua mão direita, passa a mão esquerda por seu rosto a fim de encontrar soluções para seu bloqueio criativo.

Luke larga a caneta, levanta-se, caminha lentamente em direção ao interruptor de luz, acendendo-a, e segue em direção à sua coleção de vinis. Dedilhando os álbuns, opta por The Lamb Lies Down On Broadway. Remove o segundo disco do álbum, pressiona o botão de energia de seu estéreo, levanta a tampa da vitrola, insere o disco e coloca a agulha sobre o mesmo. Quando Lilywhite Lilith se inicia, Luke volta para sua escrivaninha, senta-se na cadeira e pega sua caneta novamente.

Quando sentia que sua inspiração estava voltando, o braço direito de Luke contendo a caneta repousa sobre a folha de papel. Ao encostar sua caneta no papel para começar a escrever, ouve o barulho do som da campainha de sua casa. Faz cara de impaciência, larga novamente e caneta, levanta-se, sai do quarto e liga algumas luzes da casa que auxiliam sua direção à porta da frente.

Ao abrir a porta, Luke se surpreende ao ver Elektra.

LUKE
Elektra?
ELEKTRA
Oi, Luke.
LUKE
O que faz aqui?
ELEKTRA
Estou com muita dificuldade para fazer o texto que a professora Fletcher pediu. Sei que você gosta muito de escrever, então pensei se poderia me ajudar.
LUKE
Quando é o prazo para a entrega?
ELEKTRA
Segunda-feira.

Luke olha para o lado esquerdo e fica reflexivo por alguns segundos.

ELEKTRA
Por favor! Esta é a última chance que tenho para conseguir me livrar da disciplina dela!

Luke percebe que o desespero de Elektra é genuíno, abaixa a cabeça, olha para baixo, reflete por mais alguns segundos, respira fundo, ergue a cabeça e olha para ela.

LUKE
Tudo bem. Irei ajudá-la, mas no momento estou muito ocupado. Volte amanhã neste mesmo horário.

Elektra respira aliviada e abre um sorriso.

ELEKTRA
Muito obrigada, Luke. Você não faz idéia do quanto isto é importante para mim.
LUKE
Não há de quê.

Os dois se encaram por alguns segundos, sem dizer uma palavra.

ELEKTRA
Então é isso. Não irei mais incomodá-lo. Virei aqui amanhã como combinamos.
LUKE
Tudo bem. Boa noite.
ELEKTRA
Tchau.

Elektra dá meia-volta e começa a caminhar, enquanto Luke permanece na entrada de sua casa olhando para ela.

LUKE
Você...

Elektra então pára, dá outra meia-volta e olha para Luke.

LUKE
...gostaria de entrar por um momento?

Elektra abre um sorriso, ainda olhando para Luke.

ELEKTRA
Adoraria.

Luke então sorri discretamente, abre a porta da frente completamente, ainda olhando para Elektra, que começa a caminhar em direção à porta. Ao passar pela porta e ao lado de Luke, os dois trocam um intenso olhar. Luke continua a olhar para Elektra enquanto fecha a porta.

LUKE
Fique à vontade. Gostaria de beber alguma coisa?
ELEKTRA
Apenas um copo d’água, por favor.
LUKE
Já volto.

Luke então se dirige para a cozinha, enquanto Elektra se senta no sofá da sala e percebe a música vinda do quarto de Luke. Luke regressa com um copo d’água na mão direita e o entrega para Elektra, que sorri novamente.

ELEKTRA
Obrigada.

Luke senta-se no sofá de frente ao que Elektra se encontra. Debruça-se, entrelaça os dedos das mãos e fica olhando para um ponto do chão. Elektra, ao perceber seu nervosismo, tenta deixá-lo mais à vontade.

ELEKTRA
Não sabia que você gostava de Genesis. Costuma se inspirar na música para escrever?
LUKE
Quando minha inspiração não flui naturalmente, sim.
ELEKTRA
Costumo me inspirar em Bob Dylan para escrever.
LUKE
Por isso você tem dificuldade para tal.

Elektra sorri para Luke, que sorri para ela de volta. Ambos abaixam a cabeça enquanto riem.

ELEKTRA
Eu não acredito que estou aqui, em sua casa.
LUKE
Por que é tão difícil de acreditar?
ELEKTRA
Nos conhecemos desde o início do segundo grau e, exceto por algumas vezes em que trocamos olhares distantes ou dissemos “olá” um para o outro, nunca chegamos realmente a conversar.
LUKE
De fato.
ELEKTRA
Poderíamos ter nos tornado grandes amigos.
LUKE
É, poderíamos.
ELEKTRA
Estamos perto da formatura.
LUKE
Já decidiu o que fará do futuro?
ELEKTRA
Ainda não. Talvez estude para ser uma fotógrafa profissional.
LUKE
É uma bela profissão. Combina com você.

Elektra sorri timidamente e olha para o lado. Olha novamente para Luke.

ELEKTRA
E você? O que acha que a vida o reserva?
LUKE
Quero apenas escrever sobre o que gosto e apreciar o trabalho de outras pessoas.
ELEKTRA
E sobre o que está tentando escrever agora?
LUKE
O vazio que a solidão me traz.

Elektra adquire imediatamente uma expressão triste. Luke continua olhando para ela, mudo. Elektra coloca o copo já vazio sobre a mesinha em frente ao sofá.

ELEKTRA
É melhor eu ir agora.

Elektra se levanta do sofá. Luke levanta-se logo em seguida. Ambos caminham em direção à porta. Luke a abre lentamente para que Elektra possa sair.

ELEKTRA
Obrigada por ter me convidado a entrar.

Luke apenas afirma gesticulando a cabeça, olhando para Elektra.

ELEKTRA
Então, até amanhã.
LUKE
Até.

Elektra sai da casa. Luke fecha a porta e segue para a janela, se escondendo atrás da cortina minimamente aberta, observando Elektra ir embora. Elektra, ao dar alguns passos, se distanciando da casa, olha para trás, em direção à porta, ainda com uma expressão de tristeza. Luke segue olhando firmemente para ela. Elektra volta a olhar para frente e segue seu caminho. Luke dá um leve sorriso e fecha a cortina completamente.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

1000

Eu havia planejado muitos posts para o mês de Outubro. Tudo começou muito bem, mas infelizmente me senti desmotivado há algumas semanas e, agora que tudo voltou ao normal, estou escrevendo bastante. O único problema é que as coisas que ando escrevendo não são para o blog, pois se tratam de roteiros de filmes direcionados à faculdade. O tempo anda meio escasso e tenho (junto de meus colegas, é claro) dois grandes projetos para entregar até Dezembro, além de outro filme em estágio inicial de elaboração de roteiro que deve ser rodado e editado ainda nesta semana. Tudo isso dá um puta trabalho, mas não há nada como fazer o que a gente gosta.

De qualquer forma, Outubro de 2010 é o mês com o maior número de posts do blog (o que não é grande coisa, visto que outros blogs são atualizados quase todos os dias), ao menos por enquanto. Mesmo que eu contribua muito pouco e desapareça por um tempo – às vezes, semanas – as pessoas sempre voltam para checar se há novidades e, graças a isso, fico muito feliz de ver que meu blog atingiu a marca de 1000 visitas. No começo, eu não imaginava que isso aconteceria e comemorava cada centena. Nunca fui de fazer muita divulgação do blog (até mesmo a Aninha, minha ex-namorada, era mais disposta a isso do que eu). Eu achava que as pessoas que passavam por aqui logo iriam se cansar de ler as coisas muito longas e nada interessantes que escrevo e acabariam se esquecendo eventualmente. Mas, se continuo a escrever aqui, é porque sei que alguém se interessa, e esta é minha maior recompensa.

Portanto, gostaria de dedicar este post a todas as pessoas que visitam o blog e têm paciência para lê-lo, pois o mesmo provavelmente não estaria ativo até hoje se não fosse por elas. Agradeço especialmente àqueles que comentam aqui ou em outros meios, pois são estes comentários que me instigam a escrever cada vez melhor, como já afirmei em outra ocasião.

Muito obrigado mesmo!

PS: Assim que for possível, voltarei a atualizar o blog com mais freqüência.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Iniciou-se em um Sábado, Concluiu-se em um Sábado

Neste último Sábado eu finalmente descobri o que é a dor de verdade. Precisava sair. Não me sentia bem, e não queria ficar sozinho. Não queria ficar sozinho. Disseram-me: “Até que você está levando numa boa.”. Sou ótimo para disfarçar o que sinto. A verdade é que posso estar rindo por fora, mas agonizando por dentro. Não gosto de infectar ninguém com tristeza, a não ser que esta seja através da Arte. Caso contrário, prefiro ficar sozinho mesmo.

Sei exatamente onde errei. A culpa foi toda minha. Uma pergunta aperta meu coração e não sai de minha cabeça desde aquele momento decisivo, para o qual eu já estava preparado por saber que era apenas uma questão de tempo. Mas eu não sabia que doeria tanto. Ao fim da conversa, meus dedos tremeram e meus olhos se encheram de lágrimas, assim como agora. Mal pude falar sem tremer os lábios. Percebi que na vida não existem finais felizes como eu imaginava – ela apenas encontra novos caminhos, de um jeito ou de outro.

Agora sei como ela se sentiu. Apenas gostaria de poder beijá-la uma última vez.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

American History X (A Outra História Americana - 1998)

O racismo é uma das coisas mais estúpidas na história da humanidade. Apesar de todos os absurdos provocados por Adolf Hitler, ainda existem diversos otários espalhados pelo mundo que seguem seus ideais, inclusive nos países que lutaram contra o ditador durante a Segunda Guerra Mundial.

Esta é a base da trama de American History X (A Outra História Americana), dirigido por Tony Kaye e lançado em 1998. O filme narra a história de dois irmãos, Derek (Edward Norton) e Danny Vinyard (Edward Furlong) em sua inclusão ao neonazismo. Derek era um aluno excepcional na escola, mas a morte de seu pai o provocou uma ira que o deixou completamente cego perante seus atos. Ao conhecer Cameron Alexander (Stacy Keach), membro da supremacia branca, Derek se torna o líder de uma gangue de skinheads e eventualmente é preso pelo assassinato de dois negros. Durante os três anos que passou em confinamento, percebeu que sua ira e suas ações não o ajudaram a se sentir melhor e que nada realmente valeu à pena. Determinado a deixar o neonazismo e seguir com uma vida nova ao ser libertado, Derek vê seu irmão mais novo seguindo os mesmos passos que o levaram à prisão.

Danny também é um aluno exemplar da mesma escola em que Derek estudou. Porém, ao escrever sobre a autobiografia de Hitler, Mein Kampf, para seu professor de História, Murray (Elliott Gould), amigo e ex-namorado de Doris (Beverly D’Angelo), mãe de Derek e Danny, ele é encaminhado à sala do diretor (ironicamente, um negro) Dr. Robert Sweeney (Avery Brooks), antigo professor de Derek, o qual exige que Danny escreva um novo texto, desta vez baseado em Derek, intitulado “American History X”.

Uma das melhores qualidades do filme é a forma com que ele é contado. Seguindo uma narrativa não-linear, todos os acontecimentos anteriores ao dia em que Derek é libertado são mostrados em preto-e-branco, como a razão da influência de Derek ao racismo, sua ascensão como líder do D.O.C. (o grupo de skinheads), a discussão envolvendo Murray (um judeu) e ele durante uma refeição com toda a família, o assassinato dos negros e o tempo em que Derek passou na prisão. Porém, um destes flashbacks destaca-se ainda mais: a aposta feita entre os skinheads e os negros envolvendo a quadra de basquete e a subseqüente partida. A seqüência foi muito bem executada, pontuada pela emoção do jogo e a ótima trilha sonora de Anne Dudley, além de a película em preto-e-branco conferir à cena um tom mais artístico.

Outro ponto técnico interessante de American History X é o uso de closes nos rostos dos personagens enquanto estes dialogam, o que torna a narrativa muito mais intimista, facilitando a compreensão do caráter de cada um deles. Por exemplo, durante uma conversa entre Danny e Cameron, podemos notar no rosto deste último a convicção em todos os absurdos que verbaliza, além de sua expressão fria e sarcástica. Porém, de nada serviriam estes closes faciais caso os atores não fossem tão bons.

Furlong está sensacional como Danny. É uma pena que o ator se envolveu demais com drogas e teve seu trabalho relativamente reduzido na década seguinte, atuando em filmes precários e medíocres. Beverly D’Angelo (a Sheila Franklin de Hair) alterna os diversos estados emocionais e físicos de Doris com maestria, enquanto Avery Brooks transmite os conhecimentos de Sweeney de forma econômica, mas sem jamais soar capenga. Stacy Keach transforma Cameron no grande monstro do filme, ainda que seu tempo em tela seja razoavelmente curto. Fairuza Balk (Stacey, namorada de Derek), Ethan Suplee (Seth Ryan, o amigo skinhead gordo de Derek), Jennifer Lien (Davina, irmã de Danny e Derek), William Russ (Dennis, o pai dos irmãos Vinyard), Guy Torry (o negro Lamont, colega de trabalho de Derek na prisão e responsável por algumas das cenas mais divertidas do filme) e Elliott Gould reforçam o ótimo elenco.

E Edward Norton? Simplesmente fantástico. Não assisti a todos os filmes nos quais ele atuou, mas acredito que esta seja sua melhor performance. Norton é um ator que abraça fortemente todos os seus papéis e, aqui, confere a Derek um personagem brilhante e inteligente, ainda que humano e, conseqüentemente, sujeito a erros.

American History X ainda destaca-se da grande maioria dos filmes por não seguir certos padrões que acabam se transformando em clichês cinematográficos. Aqui não temos uma luta do bem contra o mal, pois tanto negros quanto skinheads são retratados como sujeitos perigosos de Venice Beach, bairro de Los Angeles onde a história se passa. Algo que me deixa particularmente muito feliz é a decisão do roteirista David McKenna de não ter transformado Derek em um cristão devoto ao se arrepender de seus pecados, o que é tão comum aos fracos tanto na vida real quanto na ficção. Felizmente, esta não é a natureza do protagonista.

“Então eu acho que é aqui que lhe digo o que aprendi – minha conclusão, certo? Bem, minha conclusão é: ódio é bagagem. A vida é muito curta para se estar irritado o tempo todo. Simplesmente não vale à pena. Derek diz que é sempre bom terminar um texto com uma citação. Ele diz que alguém mais já o fez melhor. Então, se você não pode superá-los, roube-os e termine em grande estilo. Então escolhi um cara que achei que você gostaria: ‘Nós não somos inimigos, e sim amigos. Não devemos ser inimigos. Embora a paixão possa ter se exaustado, ela não deve romper nossos laços de afeição. Os acordes místicos da memória se intensificarão quando tocados novamente, como certamente serão, pelos grandes anjos de nossa natureza.’” – Danny Vinyard

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Em Companhia Da Escuridão

Em se tratando de águas passadas
Quando a corrente foi rompida
E o corpo brutalmente corrompido
Esvaído em sangue e lágrimas
Pude perceber a expressão em seu rosto
A notável presença do medo se escancarava cada vez mais
Não fosse pela cor de sua pele, diria que você está pálida

Eu não sei onde estava durante todo este tempo
Em nosso último encontro, tudo estava bem
Não havia tristeza, tampouco raiva
Sua vida está ausente por completo
Mas você ainda se move

O que aconteceu com aquela pessoa que inspirava garra, força e coragem?

A mente é mais fraca que o corpo.

Andarilha, em busca de um mundo utópico
Perverso é o que irá encontrar
Ardendo em chamas e desmoronando por fora
Nem as cinzas remanescem por muito tempo
Logo não haverá para onde correr, pois o chão está cedendo

Sim, o mundo é cruel
Mas não seja cruel consigo mesma

Destemido, o medo antecede a coragem
O vazio toma conta do espaço preenchido
A luz do dia é envolta em escuridão
E as estrelas brilham apenas por obrigação

A corrente se rompeu, mas você continua presa
Seu corpo se curou, mas continua ferido
Você ainda se move, mas sua vida está ausente por completo
Não fosse pela cor de sua pele, diria que você está pálida.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Hair (1979)

Na época em que morei em Goiânia pela primeira vez, em meados de 1995, costumava gravar muitos filmes que passavam na televisão. Meu pai fazia diversas viagens para Manaus a trabalho e sempre me trazia caixas com fitas VHS novas. Ele nunca se preocupava em gravar filmes. Porém, certa vez, acordei de manhã e percebi que ele havia pegado uma destas fitas para realizar uma gravação. Quando fui perguntá-lo o que havia sido gravado, ele simplesmente encheu a boca e os olhos e disse: Hair! Um dos melhores filmes da história!”, ou algo assim. Ele explicou que o filme havia passado no Intercine, começando à uma da madrugada e terminando um pouco depois das três. Ele não me convidou a vê-lo na hora porque eu acordava muito cedo para ir para a escola.

Imaginei que o filme deveria ser uma coisa de outro mundo, já que meu pai jamais gravaria qualquer coisa por conta própria. Fiquei naturalmente curioso, algo bastante comum para uma criança de 9 anos de idade sedenta por aprender mais sobre a arte do Cinema e da Música. Ao assistir ao filme, estava ciente de que havia presenciado algo espetacular. Os personagens, a música, os cenários, a época e a cultura dela tornam Hair um dos melhores filmes a que já tive o prazer de assistir. Após reproduções constantes, a fita foi finalmente tragada pelo videocassete e isto fez com que eu passasse bons anos sem contato algum com o filme.

Até que, morando em Boston em 2006, eu estava em uma loja de CDs e DVDs sem saber o que comprar e, de repente, foi como se uma cópia do filme pulasse em minha mão e dissesse: “Buy me! Buy me!”. Como eu poderia recusar? Então fui para casa rever o filme após quase uma década e me surpreendi quando percebi que havia passado a sessão inteira com um sorriso contínuo em meu rosto. Sorriso este que refletia a saudade de Hair sendo morta durante quase duas horas de projeção.

Hair é um filme de 1979 dirigido por Milos Forman, vencedor do Oscar de Melhor Diretor por seu filme anterior, o excelente One Flew Over The Cuckoo’s Nest (Um Estranho No Ninho – 1975). O filme foi inspirado no musical homônimo de 1968 da Broadway, mas exceto pelo título, nomes de personagens e algumas canções, pouco têm em comum. James Rado e Gerome Ragni, escritores do musical, afirmam que a versão cinematográfica do mesmo ainda não foi produzida, deixando claro que não gostaram do filme em questão. Mas o que realmente importa é que Hair, o filme, consegue se manter sozinho por seu próprio mérito e deleite audiovisual.

Na trama, que se passa em 1968, somos apresentados a Claude Bukowski (John Savage), um ingênuo jovem fazendeiro do interior de Oklahoma que viaja para New York para se alistar no exército. Era o auge da Guerra do Vietnam e do movimento hippie que lutava contra a mesma. Ao passear pelo Central Park, Claude conhece um grupo de hippies liderado pelo carismático George Berger (Treat Williams, em um papel inesquecível). Juntos, mostram a Claude as coisas belas da vida (leia-se haxixe e LSD) que ele não teve a oportunidade de conhecer em sua cidadezinha em Oklahoma e tentam convencê-lo das barbaridades da Guerra do Vietnam. Ao mesmo tempo, Claude se apaixona por uma garota da alta sociedade, Sheila Franklin (Beverly D’Angelo), que, mesmo sabendo do interesse amoroso deste por ela, não hesita em flertar com Berger (Ah, as mulheres!). Enfim, Claude acaba se alistando no exército após um problema de comunicação entre Berger e ele, indo parar em uma base de treinamento militar em Nevada. Sheila, após receber uma carta de Claude, mostra-a a Berger, que decide fazer uma viagem, junto a ela e seu grupo, através do país para visitar o amigo.

A sinopse do filme o dá a impressão de ser bastante ordinário, não fosse pelas seqüências musicais e seus fortes personagens que, além de Claude, Berger e Sheila, constam Woof Daschund (Don Dacus, guitarrista e vocalista da banda Chicago), LaFayette “Hud” Johnson (Dorsey Wright), a noiva de Hud (Cheryl Barnes) e Jeannie Ryan (Annie Golden), garota adorável que está grávida, mas não sabe se o pai do bebê é Woof ou Hud. Temos, naturalmente, outros personagens de menor destaque, mas de igual importância para o andamento da projeção.

Porém, quem rouba todas as cenas nas quais aparece é Berger. O sujeito de 23 anos demonstra uma liderança natural para com seu grupo e não mede esforços para que todos estejam bem, como fica provado na excelente seqüência em que todos os demais (inclusive Claude) encontram-se presos enquanto Berger sai às ruas em busca de dinheiro para pagar suas fianças. Da mesma forma com que preza pelos amigos, tem amor pela vida e pelo estilo com que a leva. Não se importa nem um pouco com as obrigações que a sociedade lhe impõe e simplesmente faz as coisas que tem vontade, quando tem vontade, sem prejudicar a ninguém (de certa forma). Seu grande destaque na tela é a cena na qual protagoniza uma dança sobre uma longa mesa ao ir a uma festa que não foi convidado (a canção em questão é I Got Life).

As seqüências musicais e suas coreografias são de embasbacar. Até hoje, quando assisto à fantástica seqüência no Central Park ao som de Aquarius, sinto arrepios e percebo um grande sorriso em meu rosto (como quando assisti ao filme novamente em 2006). Acredito que grande parte do impacto que esta cena me causa é justamente a força da canção em questão, que virou um grande sucesso em 1969 quando foi lançada em single. Temos cenas/canções engraçadas como Sodomy (Woof recitando palavras safadas para duas mulheres enquanto andam a cavalo), Hair (a famosa canção-título executada na prisão) e Black Boys/White Boys (alternada entre mulheres no Central Park e militares responsáveis pela avaliação física dos alistados, resultando no momento mais hilário do filme).

Porém, à medida que o filme se desenvolve, as cenas/canções mais alegres dão lugar às mais tristes, e este é um dos méritos do filme. Os trinta minutos finais contrastam imensamente com a mesma duração inicial e é interessante poder acompanhar todas as suas transições. Temos canções mais densas como a bela Walking In Space (My Body) (que traz arrepios em minha espinha toda vez que a garota vietnamita aparece cantando, mesmo que a voz da canção não seja realmente dela), Easy To Be Hard (quando a noiva de Hud o encontra e este a hostiliza, numa belíssima cena mostrando para quê servem os amigos) e a fantástica The Flesh Failures/Let The Sunshine In, o clímax/desfecho da narrativa (que não comentarei para não estragar a surpresa de quem não assistiu ao filme, mas tem vontade).

Todas as vezes nas quais assisto Hair, sinto a nostalgia que nunca tive. Ao testemunhar como era a sociedade no final dos anos 60, a cultura americana (e também européia), o Rock N’ Roll atingindo seu auge, o movimento hippie pregando paz e amor acima de tudo, entre outras coisas, faz-me querer cada vez mais ter vivido aquela época, mesmo com todas as dificuldades que ela também apresentava. Atualmente, vivemos em um mundo aonde as pessoas não interagem mais entre si e não se preocupam umas com as outras. São tão fúteis e conformistas que se contentam com o nível mais baixo de conhecimento cultural (ao menos, os brasileiros) e acham que a Política algum dia irá consertar o mundo. Os jovens estão cada vez mais estúpidos e unidimensionais. Não existe mais a vontade de se causar uma revolução através da inteligência e do inconformismo, muito menos o tesão pela vida. Tudo isso me convence de que nasci na época errada, onde quase tudo é ruim demais, sugerindo que a humanidade vai gradualmente caminhando em direção ao fim.

“Quando a lua estiver na Sétima Casa e Júpiter se alinhar com Marte, então a paz irá guiar os planetas e o amor dirigirá as estrelas.”Aquarius

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

The Gold Rush (Em Busca Do Ouro - 1925)

“Durante a Grande Busca do Ouro no Alaska, milhares de homens vieram de todas as partes do mundo. Muitos não estavam cientes das dificuldades perante a eles, o frio intenso, a falta de comida – e uma jornada através de regiões de gelo e neve era um problema que os aguardava.”

Assim iniciava-se The Gold Rush (Em Busca Do Ouro), filme de 1925 do mestre Charlie Chaplin. A trama se passa no ano de 1898 e traz o personagem mais icônico de Chaplin, o famoso Vagabundo, retratado aqui como “um prospector solitário”, vagando pelas montanhas geladas do Alaska. Quando uma forte nevasca é iniciada, o Vagabundo e Big Jim, outro prospector que acabara de encontrar uma mina de ouro, se vêem obrigados a buscar refúgio na velha cabana de Black Larsen, procurado pela polícia. A nevasca se estende por dias e os três homens se encontram totalmente famintos e decidem tirar na sorte quem irá partir em busca de comida. O próprio Larsen é “sorteado” e parte para a jornada.

A partir deste momento, as inúmeras cenas clássicas de The Gold Rush perduram até sua conclusão, começando pelo momento no qual Big Jim e o Vagabundo jantam uma das botas cozidas deste último, passando pela hilária cena mostrando Big Jim, alucinado pela fome, imaginando o Vagabundo como um grande frango (aliás, até o desempenho de Chaplin como um frango é digno de aplausos). E tudo o que foi citado até agora é apenas referente à meia-hora inicial do filme.

Outros personagens relevantes são: Hank Curtis – um homem que ajuda o Vagabundo quando este finge desmaio para conseguir uma refeição e o deixa encarregado de sua cabana enquanto parte em uma jornada com seu parceiro –, Jack Cameron, o antipático garanhão pegador de mulheres e Georgia, interesse romântico do Vagabundo.

Aliás, não posso deixar de comentar sobre a personagem Georgia. Freqüentadora assídua de um cabaré e constantemente assediada por Cameron, a moça usa o Vagabundo (que acaba se apaixonando) para poder se livrar momentaneamente do garanhão. Acontece que, durante o filme, temos claras demonstrações de que ela realmente tem uma queda por Cameron e julga que a melhor forma de demonstrá-lo é fazer cu-doce até que este perca a paciência. Em certo momento, Georgia responde positivamente quando Cameron a pergunta se ela o ama, apenas para se sentir mal quando percebe que fez uma brincadeira de mau gosto com o Vagabundo, culminando em mais cu-doce. Inclusive, este é um raro momento da projeção no qual Georgia demonstra algum afeto pelo Vagabundo, já que em grande parte do tempo ela apenas o provoca e, quando ele sai de cena, é zombado por ela e suas amigas. Mesmo tendo ficado profundamente triste (a expressão de Chaplin ao abrir a porta da cabana e perceber que não há absolutamente nada lá fora é tocante), o Vagabundo não pensa duas vezes quando o fazem crer que Georgia se arrependeu da “brincadeira” e vai correndo atrás da vagaba, num claro exemplo de quão malditas são as mulheres, que possuem o dom de transformar homens em simples capachos.

E já que falei sobre Georgia, não posso deixar de comentar sobre Big Jim, personagem fundamental da história que, a princípio, pode ser encarado como um sujeito antipático e egoísta. Porém, no decorrer da narrativa, percebe-se gradualmente que ele é um homem do bem (apesar de tentar matar o “frango” em prol de seu estômago) e, ao lado do Vagabundo, protagoniza as melhores cenas de The Gold Rush.

Tracemos, então, um breve perfil do Vagabundo. O protagonista de 90% dos trabalhos de Charlie Chaplin é um andarilho que sobrevive graças a sua esperteza, bajula outras pessoas para seu próprio bem e é apaixonado pelas mulheres. Não ouvimos a sua voz, mas ele fala com os outros personagens. Medroso em muitos casos, mas fica irado quando o bicho pega pro lado de quem ele ama (quem já assistiu The KidO Garoto –, sabe do que estou falando). Apesar de simplório, é um grande cavalheiro que sabe valorizar as pequenas coisas da vida e as pessoas que ela nos traz. Tem problemas com a Lei o tempo todo, mas nunca é realmente culpado. Mais atrapalhado e divertido, impossível. Enfim, são tantas as características do Vagabundo que eu poderia consumir uma página inteira falando sobre elas, mas me limito a citar apenas algumas de minhas preferidas.

Falar da parte técnica de qualquer filme de Chaplin é desnecessário. Afinal, um gênio que escreve, produz e dirige seus próprios filmes (além de atuar e compor a trilha sonora) há de fazer um trabalho realmente impecável. Chaplin estava em um grande momento de sua carreira e isto se reflete em outras grandes cenas como a da famosa “dança dos pães” e da cabana equilibrando-se na beira de um penhasco. Minha única reclamação é justamente o desfecho da história, que acontece de maneira óbvia e muito conveniente, mas nada que tire o mérito alcançado em The Gold Rush, uma clara demonstração de talento do maior mestre da história do Cinema mundial e um prenúncio do que seriam suas obras-primas definitivas.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

3:30 a.m.

Poema escrito em meados de 2000. O manuscrito foi encontrado somente agora, após tanto tempo.

Se você soubesse como me sinto agora
Não teria feito isso antes
Tudo terminou em um hospital
Às três e meia da manhã
Não faz mais sentido algum
A vida não vale mais nada
Quero me afundar no mar
Com você tentando me salvar
Um traficante ontem me disse
Que o pó tava barato
E que uma garota tinha comprado
Cem gramas do bem malhado
E eu não liguei, não pensei em você
Eu achei que era outra pessoa
Mas não queria correr o risco
Fui correndo para sua casa
Cheguei lá, mas ninguém estava
Pensei bem: “Onde ela está?”
Mas não adianta, não vou achar
Não resta mais aonde procurar
Em minha casa, o telefone tocou
Minha garota perguntou: “Por onde andou?”
“Estava te procurando, mas não te achei
Então fui para casa e descansei.”

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O Maior Tesouro do Mundo

Hoje é aniversário de uma das poucas pessoas que, hoje sei, farão parte da minha vida para sempre. Quanto a algumas outras, não sei bem ao certo. Na verdade, nem me preocupo, apenas deixo rolar. Ou melhor, arrastar.

A aniversariante da vez é a minha linda filhota Vicky. Já se fazem 5 anos desde o inesquecível dia em que ela nasceu e no qual tive o prazer de acompanhar tudo de perto. A chegada dela foi a coisa mais linda que já vi e realmente não sei como tem gente que passa mal em tal situação. Guardo aquele dia como um dos melhores momentos pelos quais já passei e, embora ainda não tenha passado tanto tempo com ela quanto gostaria, sei que teremos grandes momentos juntos no futuro, não importa em quais circunstâncias.

Minha linda, parabéns pelo seu dia! Papai ama você!

Saudades...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Mais do Mesmo: O Cinema Brasileiro Atual

O Cinema brasileiro evoluiu muito na última década, em termos técnicos, com o aumento das produções de grandes orçamentos e o melhor desenvolvimento da tecnologia. Infelizmente, porém, os grandes filmes brasileiros deste período sempre focavam-se nos mesmos temas explorados anteriormente por produções mais clássicas e até mesmo independentes, que traziam histórias até então inovadoras em nosso país.

Assim sendo, é uma pena constatar que, hoje, o Cinema brasileiro investe mais dinheiro em filmes pomposos e sem elegância, com atores famosos que, em sua grande maioria, fazem um trabalho bastante duvidoso. Os grandes talentos brasileiros ainda encontram-se independentes, sempre tentando fazer o melhor trabalho possível com seus recursos limitados. Isto não deixa de ser bom, pois podem sempre extrair as melhores idéias de roteiro para compensar a produção humilde.

Nosso Cinema, para poder figurar entre os melhores, precisa se reinventar, arriscar, ousar mais. Existem diversos gêneros cinematográficos pouco explorados em nosso país e que poderiam ser levados um pouco mais a sério para, assim, poder romper as barreiras que nossa Sétima Arte estabeleceu a si mesma. As grandes produções brasileiras exibidas em outros países falam, em boa parte, sobre pobreza e/ou violência. Creio que, futuramente, não só os cineastas se sentirão desgastados com estes temas, como os expectadores também. Se isto realmente vier a acontecer, nosso Cinema irá morrer lá fora.

Se há algo que aprendi sobre as pessoas que trabalham com o Cinema, é que elas o fazem pelo amor que têm por esta arte, assim como os profissionais de Artes Cênicas. Vejo em novos profissionais da área cinematográfica a dedicação a cada trabalho produzido. A nova geração brasileira de profissionais do Cinema tende a inovar, trazendo e expondo idéias antes pouco ou nunca praticadas em nosso país. Novos conceitos ficcionais, ainda que ligados à realidade, podem ser explorados e novas formas de se fazer Cinema podem ser alcançadas.

Nos dias de Internet, é extremamente fácil aprender sobre as coisas que nos interessam de uma forma teórica. A nova geração está adaptada ao uso desta grande ferramenta de informações para poder estar sempre ampliando seus horizontes e idéias. Já a prática é bem diferente. Há a necessidade de se ir mais fundo para que possamos idealizar e executar nossos próprios projetos. Estamos sempre dispostos a aprender cada vez mais sobre aquilo que amamos para que nosso trabalho seja o melhor possível.

domingo, 22 de agosto de 2010

Ah, Jeová!

Algo que sempre foi intrigante para mim é como surgem os mitos e religiões. Façamos uma breve comparação com os boatos. Estes podem até nunca ter um real fundamento, mas sempre há um ponto de partida baseado em algo que de fato aconteceu. A distorção de tal fato verdadeiro ocorre em muitos casos para atrair a atenção àquele que a busca, prejudicar a vida alheia, fugir da realidade crua e difícil ou, simplesmente, para causar polêmica entre um grupo de pessoas.

Não é à toa que, ao longo da História e devido à dura realidade do ser humano, este criou os mitos e religiões como válvulas de escape. A necessidade que o ser humano possui em crer em algo superior e depositar nele todos os seus medos e inseguranças é tão grande que pode cegar os mais fracos. Os conflitos gerados entre as diversas religiões sempre se mostraram e continuam sendo confusos, já que o propósito final de cada uma é exatamente o mesmo.

Não sou uma pessoa religiosa e nunca acreditei em mitos, mas creio que em tudo há um propósito, até mesmo nas piores coisas. Acredito que tudo acontece simplesmente porque deve acontecer e não faço julgamentos sobre o que é certo e errado, pois não tenho o direito para tal. Cada pessoa sabe sobre o lado bom e o lado ruim de suas ações, causas e conseqüências, mas nem todas conseguem ter controle sobre si mesmas.

O que falta na humanidade é ter respeito ao próximo.

domingo, 8 de agosto de 2010

Quatro

Hoje é Dia dos Pais. Resolvi escrever um post dedicado às quatro pessoas que, se não existissem, não haveria a possibilidade de este ser o meu dia. Como a Música é minha forma preferida de contar histórias ou momentos (minha vida sempre possuiu trilha sonora, mesmo que, em alguns casos, ela estivesse apenas em minha cabeça), escolhi algumas canções para contar um pouco sobre estas pessoas.

Cris: minha mãe. A pessoa que agüentou com garra todos os meus transtornos de adolescente. Olhando pra trás, dá um peso na consciência quando percebo o trabalho que dei a ela. Quando conversamos sobre esta época, chegamos a um consenso: foi difícil, mas poderia ter sido muito pior. Ela é uma pessoa guerreira, sempre pronta pra luta e possui o maior coração que um ser humano sozinho poderia ter. Hoje a tenho como um grande porto-seguro e fico feliz por estarmos juntos novamente, mesmo tendo que ouvir seus roncos à noite.

Hide In Your ShellSUPERTRAMP
Minha mãe sempre me contava uma história sobre seu pai, meu avô, falecido apenas 3 meses antes de meu nascimento. Eu não me lembro direito como era a história, mas sei que tinha algo a ver com Hide In Your Shell, sua música preferida do Supertramp. Esta canção sempre a trouxe lembranças nostálgicas, porém felizes, de sua infância.

Bird Of PassageTHE MISSION
Certa vez, minha mãe e eu tiramos um raro momento para ouvir música juntos. Quando Bird Of Passage começou a tocar, comentei algo com ela que a fez ficar em silêncio, caindo aos prantos logo em seguida. Eu sabia o motivo do sofrimento, pois tudo ainda era muito recente para ela. Desde então, sempre ouço esta canção com certa tristeza pelo ocorrido, mas, no fim, acabo ficando feliz por saber que ela superou os momentos mais complicados.

All My LoveLED ZEPPELIN
All My Love me faz lembrar de um outro momento juntos ao som da música. Minha mãe já havia declarado uma vez que Led Zeppelin era sua banda favorita de Rock, então coloquei um CD deles para tocar prontamente. No decorrer desta canção, ela se dispôs a cantar com seu maravilhoso “Inglês errado”, fazendo com que eu desse muitas risadas. Foi um de nossos momentos mais divertidos juntos.

Vapor BaratoGAL COSTA
Se há uma música que resuma minhas lembranças de minha mãe, ela é Vapor Barato. Eu coloquei a Gal Costa aqui aleatoriamente, visto que não foi ela quem compôs a canção. Minha mãe aprendeu a tocar violão sozinha. Toda vez que ela se apossava do instrumento, tocava a canção de uma forma tão vívida que era impossível não parar tudo para vê-la tocar. Ela ainda faz isso, esporadicamente.

A Whiter Shade Of PaleGERRY AND THE PACEMAKERS
Esta canção, escrita e gravada originalmente pela banda Procol Harum, tocava o dia inteiro. Minha mãe sempre teve a mania de colocar um CD para tocar deixando na função repeat para apenas uma música durante horas, e eu tinha que agüentar. Hoje vejo que a canção é realmente muito bonita. Embora tenha passado anos sem escutá-la, sempre me lembrava dela e, conseqüentemente, de minha mãe.

Kid: meu pai. Uma pessoa que até hoje só não desistiu de mim por pura insistência (claro que sei que não foi apenas por isso). Às vezes, tentamos competir para ver quem é mais teimoso, mas nunca há um vencedor. Graças a ele, herdei o gosto musical que tenho hoje. Inteligentíssimo e um ótimo companheiro quando está de bom humor. Quando não está, é melhor nem chegar perto. Dedico boa parte deste post a ele.

In The Flesh?PINK FLOYD
Poderia citar muita coisa do Pink Floyd (ou Beatles, Supertramp e The Mission) que me faz lembrar de minha infância com meu pai, mas a canção In The Flesh? é especial. Nós simulávamos dois aviões ao final da música que passavam muito perto um do outro sem se tocarem. É interessante perceber que isso foi há quase 20 anos e parecer que não foi há tanto tempo assim.

To SheilaSMASHING PUMPKINS
De volta aos tempos de BH em 2003, nós estávamos em nosso apartamento. Meu pai estava na sala fazendo algo, enquanto eu estava em meu quarto ouvindo música com a porta aberta. Quando coloquei um CD do Smashing Pumpkins para tocar, a primeira faixa foi logo To Sheila. Quando a canção acabou, meu pai falou alto: “De novo!”. Desde então, sempre assemelho esta canção a ele, que até passou a gostar um pouco da banda.

BlackPEARL JAM
Meu pai chega em casa com um CD do Pearl Jam, que circulava de mão em mão no escritório no qual ele trabalhava na época. Curiosamente, ninguém sabia quem era o dono do CD, que parou nas mãos do meu pai e, então, nunca mais foi passado para frente. Black, na época, foi a responsável pela minha bronca com a banda, já que meu pai a colocava para tocar incessantemente (ele tem isso em comum com minha mãe) e ainda fazia questão de cantar aquele “tchururu tchu tchururu” no final. Mais revoltante impossível. Atualmente, gosto muito da banda e adoro a canção.

AlwaysBON JOVI
É impossível tentar assemelhar músicas ao meu pai e não se lembrar de Always, afinal sempre sacaneávamos a letra da música e dizíamos que, na verdade, o nome dela era “Oh, Luís!”. Essa brincadeira acabou virando clássica depois que a contamos para outras pessoas e estas disseram que nunca mais conseguiram ouvir a canção sem se lembrarem do Luís.

Jealous GuyJOHN LENNON
Esta é a canção que, não importa aonde e nem quando, faz com que eu me lembre do meu pai automaticamente. O gosto que ele tem por esta canção e a forma com que sempre a ouve é admirável. Ele sempre comenta o quanto gosta de Jealous Guy quando a mesma começa a tocar e sempre a cantamos juntos. A parte do assobio fica por sua conta.

Aninha: minha fêmea. Ela entrou na minha vida há 7 anos durante uma fase muito conturbada e confusa para mim (a boa e velha adolescência) e, desde então, se tornou parte importante da minha existência. Não poderia ter escolhido uma mãe melhor para minha filha. Devo muito a ela pelo que sou hoje.

Heart-Shaped BoxNIRVANA
Não dá para falar dela sem citar o Nirvana, uma banda que nunca fui fã, mas sei o quanto ela gosta. Uma vez, sentados num banco da Avenida Sanitária, quando ainda nem namorávamos, ouvíamos esta canção no discman. Foi, talvez, a primeira vez em que realmente paramos em algum lugar sozinhos apenas para conversar. Lembrar desta época é ótimo e divertido por saber que acabamos ficando juntos de uma forma um tanto inconvencional.

Vento No LitoralLEGIÃO URBANA
Minha fêmea me contou que estava na praia uma vez quando seus pais ligaram falando que haviam brigado. Ela sentou-se na areia e se deparou cantando Vento No Litoral. No Halloween de 2003, estávamos sentados perto à porta de entrada de um show, quando cantei esta música em seu ouvido. Ela sabia que eu estava indo embora. Desde então, esta música possui uma aura ainda mais especial para mim.

Me And Bobby McGeeJANIS JOPLIN
O simples fato desta ou qualquer outra canção da Janis estar aqui é que não há pessoa no mundo melhor que a Aninha para se escutar Janis junto. Uma madrugada chuvosa, calma, no quarto dos fundos, deitados no sofá nos aquecendo com calor humano e ao som extraído do vinil dela me faz querer parar no tempo para sempre.

Mama I’m Coming HomeOZZY OSBOURNE
Um grande exemplo de canção que minha fêmea e eu temos em comum. Sempre parávamos tudo para prestar atenção em Mama I’m Coming Home quando ela começava a tocar e um sempre dizia ao outro o quanto a adorava. Quando tive o prazer de escutar a canção ao vivo em 2007, nunca desejei tanto a presença da minha fêmea como naquele momento, para que pudéssemos apreciar juntos seu próprio criador executando-a a nossa frente.

RelicárioCÁSSIA ELLER/NANDO REIS
É difícil demais falar sobre Relicário, mas ela precisava estar aqui, pois basicamente resume todas as vezes em que fui embora de Montes Claros, a dificuldade da decisão (ou obrigação) e de saber que poderia levar muito tempo para nos vermos novamente. A letra da música era basicamente tudo o que se passava pela minha cabeça na noite antecedente a cada uma de minhas partidas.

(Também não posso me esquecer de citar o “ilustríssimo” Roberto Carlos, que, antigamente, parecia nos perseguir aonde quer que a gente estivesse, nos servindo de trilha sonora quase exclusiva. Virou até piada depois de algum tempo.)

Vicky: minha filha. Falar dela para quem não a conhece é difícil para mim, já que não convivi muito com ela (ainda). Mesmo assim, já tive a oportunidade de me divertir e rir bastante com ela, sobretudo com as coisas que ela profere às vezes que ninguém sabe de onde ela aprendeu. Ela é muito especial em minha vida e espero que ainda tenhamos muito outros momentos legais juntos e que estejamos mais próximos no futuro.

The Crystal ShipTHE DOORS
The Crystal Ship me faz lembrar de minha filhota rescém-nascida, sentada em meu colo, chorando. Quando comecei a cantar a canção para ela, o chorou cessou, seus olhos foram se fechando e sua cabeça foi se abaixando lentamente. A Aninha presenciou o momento e começamos a rir baixo para não acordá-la. Acho que, até hoje, esse foi o meu maior “momento pai”.

Um Girassol Da Cor Do Seu CabeloLÔ BORGES
Esta música jamais teve alguma conexão com a Vicky, mas ela está aqui porque é uma das canções que eu gostaria de ter cantado para ela quando ainda era bem pequena. De alguma forma, passei a associar a canção a ela por transmitir a paz e tranqüilidade que ela precisava quando veio ao mundo.

Yellow SubmarineTHE BEATLES
Minha filha sempre adorou Beatles (“Olha, mamãe, é Beatles!”), mas Yellow Submarine é especial por ser uma música feliz e quase infantil. Certa noite, nós três decidimos assistir ao filme homônimo. Todos estávamos muito quietos durante boa parte do tempo, mas quando o final do filme se aproximava e várias canções eram tocadas em seqüência, Victoria simplesmente fez a festa em cima da cama. Vê-la cantando as músicas é impagável. Foi um momento memorável em família.

Futebol, Mulher & Rock N’ RollDR. SIN
O mais engraçado de tudo é ver a minha filha, que completará 5 anos de vida no mês que vem, cantando Futebol, Mulher & Rock N’ Roll. Ela naturalmente não compreende a ambigüidade da letra ainda, mas adora ouvir a canção e cantar junto. Uma vez, eu e alguns amigos estávamos ensaiando umas canções. Aninha e Vicky estavam presentes neste ensaio e, para descontrair, resolvemos tocar a canção. No momento em que comecei a cantá-la, Vicky se tocou rapidamente do que se tratava e seus olhos chegaram a brilhar na hora.

Scene One: RegressionDREAM THEATER
Foi por causa desta breve faixa que o nome Victoria me atraiu, em 2003. Antes disso, nunca havia parado para pensar em quão lindo este nome é. No mesmo dia em que descobrimos que estávamos grávidos, na véspera de Ano Novo, minha fêmea e eu fomos a uma pizzaria e ouvimos uma mãe chamar sua filha por este nome. Comentamos um com o outro que era um nome lindo e concordamos que, se nossa futura cria fosse uma menina, ela se chamaria Victoria.

Feliz Dia dos Pais a quem o é.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Remoer

Já se faz três semanas que estou de volta a Brasília. Muita coisa aconteceu entre os posts Queen Rocks e Queen Hits, mas não queria falar sobre isso até terminar o projeto. Depois que a segunda parte foi concluída, resolvi tirar alguns dias para refletir sobre mim mesmo, sobre os inúmeros erros que cometi no passado, antes do início das minhas aulas e enquanto não estou trabalhando.

Ao longo dos últimos 8 anos, conheci diversos tipos de pessoas, morei em 6 lugares diferentes e tive contato com diversas culturas. Não me arrependo de nada disto. Adquirir experiências de vida nunca é demais e é ótimo saber que tenho amigos espalhados nestes lugares e que me receberão de braços abertos quando eu for visitá-los.

Contudo, já perdi muitos deles também. Não sei se foi apenas culpa minha, mas não importa. Eu aprendi que a facilidade que tenho em fazer amigos é a mesma que tenho para me desfazer deles. Se eles se tornam inconvenientes para mim, me canso muito rápido. Os poucos que restam são aqueles que nunca me fizeram nada de errado e, com o passar do tempo, vão se tornando pessoas cada vez mais importantes para mim.

Isso tudo se torna tão irônico quando me lembro de que também já fiz mal a alguém e esse alguém não desistiu de mim por isso. E não foi apenas uma vez. Ela demonstrou ter a perseverança que eu gostaria de ter. Me mostrou que, quando o sentimento que temos por alguém é forte, não desistimos tão fácil, mesmo sabendo que às vezes esse poderia ser o caminho mais correto.

Graças a esta pessoa, estou começando a ver a vida com outros olhos. As coisas nunca foram do jeito que eu pensava ser e percebi que tudo o que sabia estava errado. Tive um momento muito difícil, mas sinto que meu coração está aos poucos voltando para seu devido lugar. Um novo capítulo está se abrindo e devo abraçá-lo com todas as forças possíveis, fazer meu melhor sempre e me dedicar mais às pessoas que amo: meus amigos e, sobretudo, minha família.

Muita coisa ruim já aconteceu, e muita coisa boa também. Mas, infelizmente, as pessoas tendem a ignorar as boas e guardar as ruins na memória para sempre. Eu era assim, e estou feliz de ter conseguido deixar isto de lado. O tempo passa muito rápido e não vale a pena perdê-lo com bobagens, sejam estas inofensivas ou graves.

Afinal, o melhor ainda está por vir. Sempre.

domingo, 25 de julho de 2010

Queen Hits

O Queen dos anos 70 foi uma banda impecável. Mesmo com álbuns bem diferentes entre si, devido às várias influências musicais distintas presentes em cada um deles, o conjunto da obra era único. Nos anos 80, o Queen decidiu manter esta tradição, e foi ainda mais longe: a frase “No Synthesisers!” não mais seria incluída no encarte de seus álbuns para evitar confusões com as complexas técnicas de gravação em estúdio que a banda utilizava (muitas pessoas achavam que alguns dos efeitos sonoros provocados pelas inúmeras camadas de voz e guitarra eram gerados por sintetizadores, o que obrigou a banda a inserir a frase em seus lançamentos). O Hard Rock antes praticado ficaria relegado ao segundo plano. Ainda assim, o Queen conseguiu apresentar trabalhos memoráveis durante esta época, que se estendeu até 1995, ano de lançamento do último álbum de estúdio da banda.

THE GAME (1980)
Logo de cara, somos apresentados a efeitos sonoros providos por um sintetizador. São os primeiros segundos de Play The Game, uma balada interessante que culmina em um ótimo momento pesado intercalado pelos efeitos sonoros. Após esta ótima faixa de abertura, temos a primeira influência Funk em The Game com Dragon Attack, uma música que não apresenta grandes variações, mas traz um momento bem divertido no álbum. Mesmo sendo de autoria de Brian May, as linhas do baixo de John Deacon fazem toda a diferença (assim como ocorreria em futuras canções com apelo mais Pop). O maior sucesso do álbum é justamente de sua autoria: Another One Bites The Dust, a grande responsável pela sonoridade que o Queen seguiria no álbum seguinte. A canção, no estilo da anterior, traz um inspirado riff de baixo acompanhado da bateria de Roger Taylor. A guitarra de May nesta canção aparece bem discreta. Uma das melhores canções de The Game. A primeira música realmente Pop Rock do álbum é a empolgante Need Your Loving Tonight, outra composição de Deacon, que chega a lembrar If You Can’t Beat Them. Crazy Little Thing Called Love é a homenagem de Freddie Mercury a Elvis Presley (May já o havia homenageado em Dreamer’s Ball), um Rockabilly típico dos anos 50 no qual o violão que dita o ritmo da canção foi gravado pelo próprio Mercury, que também canta de forma muito semelhante à de Presley. Outra canção divertida e favorita nos shows. Um dedilhado na guitarra acompanhado pelo baixo e pelos vocais de Mercury marca a introdução de Rock It (Prime Jive), composição Pop Rock de Taylor com um pouco mais de agressividade do que o normal em um álbum como The Game. Quando a música realmente começa, Taylor assume os vocais principais. É interessante reparar nas aparições bem discretas dos teclados durante a canção. O único ponto fraco de Rock It (Prime Jive) é justamente a introdução cantada por Mercury, pouco inspirada e que dura aproximadamente um minuto. Poderia perfeitamente ser deixada de lado na mixagem final. Don’t Try Suicide é uma canção que empolga apenas na passagem após o segundo refrão e no solo, os únicos momentos realmente interessantes da mesma. Sail Away Sweet Sister é uma balada escrita e cantada por May (exceto a ponte antecedendo o solo, cantada por Mercury) e apresenta um refrão marcante. Em certos momentos, chega a lembrar canções mais antigas da banda, como quando ouvimos um breve coral de vozes e algumas camadas diferentes de guitarra durante o solo. Poderia perfeitamente fazer parte de A Day At The Races. A segunda composição de Taylor em The Game é a pouco variada, porém empolgante, Coming Soon, com sua bateria sempre em destaque, ditando o ritmo da canção. O solo desta é um dos melhores momentos do álbum. O encerramento se dá com a fantástica Save Me, outra das baladas belíssimas e, ao mesmo tempo, agressivas de May, que executa o piano com perfeição. Sem dúvidas, o grande momento de The Game, álbum que, mesmo sendo levemente inferior aos anteriores, faz justiça à discografia quase impecável do Queen.

Ao final de 1980, a banda lança, no Reino Unido, Flash Gordon, trilha sonora do filme homônimo. O lançamento nos demais países ocorreu no início de 1981, mesmo ano em que é lançado o primeiro Greatest Hits (que foi, inclusive, o primeiro CD da banda que comprei e, portanto, onde minha paixão por Queen começou).

HOT SPACE (1982)
The Game foi um enorme sucesso nos Estados Unidos, assim como o single Another One Bites The Dust. Buscando manter o sucesso por lá, o Queen mergulhou de vez no universo Pop. O resultado disso foi Hot Space, o trabalho mais equivocado e deslocado de toda a carreira da banda. Há diversas influências Disco, Funk, Soul e Pop, principalmente em sua primeira metade, a começar por Staying Power, que traz riffs feitos por sintetizador, bateria eletrônica e até metais. Só faltou o James Brown. A este ponto, é difícil de acreditar que esta é a mesma banda responsável por clássicos do Rock N’ Roll mundial de outrora. A coisa melhora um pouco em Dancer, que tem um refrão até interessante e, felizmente escrita por May, bastante guitarra, pouco presente na música anterior. Tudo volta a piorar com as horríveis Back Chat e Body Language. Estas são, indubitavelmente, as piores músicas de Hot Space (talvez até da discografia inteira do Queen), mas é curioso notar que foram lançadas como singles do álbum e que Body Language virou até video clip. Action This Day traz um ritmo mais acelerado e piano, especialmente no refrão, que não é dos melhores, mas compensado pelo ótimo dueto entre Mercury e Taylor. O solo foi feito por um sintetizador imitando um saxofone. A segunda parte do álbum começa muito melhor com Put Out The Fire, um oásis no meio de um deserto. Esta é a única canção realmente Rock N’ Roll de Hot Space e, embora mais pesada, lembra o Pop Rock encontrado em The Game. Nem preciso dizer que é uma das melhores do álbum. Uma balada interessante se segue com Life Is Real (Song For Lennon), um tributo ao ex-Beatle John Lennon, como sugere o título, que morreu assassinado em frente ao prédio que morava em Nova York por um fanático em 8 de Dezembro de 1980 (curiosamente, o mesmo dia em que Flash Gordon foi lançado no Reino Unido). A canção é muito bonita e poderia perfeitamente ter sido composta por Lennon (algo no qual Freddie Mercury é um gênio – ele sempre procurou homenagear outros músicos em suas canções compondo-as de uma forma que soassem como se fossem dos próprios homenageados, como foi feito em Crazy Little Thing Called Love). Temos o Pop Rock divertido de Calling All Girls mantendo o bom nível desta segunda parte de Hot Space (que, após Action This Day, parece se tratar de um álbum completamente diferente). A canção que todos os críticos adoram falar mal, Las Palabras De Amor (The Words Of Love), pode até ser um pouco brega, mas é bem cativante e possui um instrumental muito bem executado, auxiliado pelos sintetizadores que, aqui, enriquecem a música, e não a dominam. Os vocais principais são de Mercury, com backing vocals de May. Las Palabras De Amor é a terceira e última canção do Queen a incluir versos cantados em outro idioma além do Inglês, sendo as outras Teo Torriatte (Let Us Cling Together) e Mustapha. A Pop Cool Cat chega para lembrar-nos de que ainda estamos ouvindo o mesmo álbum iniciado em Staying Power, porém, agora, com muito mais qualidade e vocais fantásticos de Mercury, que canta a canção inteira em falsete. Under Pressure é nada menos do que uma das melhores canções da história do Queen. Basicamente idealizada por Mercury e em parceria com David Bowie, a obra-prima traz ainda outro riff inconfundível do baixo de Deacon, mas ninguém se lembra de quem o criou. Mercury diz que foi Deacon. Deacon diz que foi Mercury. Mas quem se importa, afinal? O dueto de Mercury e Bowie é impecável e cada um foi responsável por escrever suas partes cantadas. A canção começa Pop (no melhor sentido da palavra) e vai crescendo até explodir em um belíssimo Rock N’ Roll em sua segunda metade. Sozinha, Under Pressure já vale pelo álbum inteiro, encerrando-o da melhor forma possível. No fim das contas, podemos concluir que Hot Space é bom e ruim ao mesmo tempo. Se formos analisar em LP, o lado A é ruim (quase horrível, não fosse por Dancer e Action This Day, que tornam a experiência menos dolorosa) e o lado B é bom (só não é melhor porque Cool Cat, mesmo não sendo das piores, está nele).

THE WORKS (1984)
Como era de se esperar, Hot Space foi um fiasco de crítica, público e vendas. Por este motivo, sua turnê foi a última nos Estados Unidos. Isso fez com que o Queen repensasse sua direção musical. Um álbum Disco/Funk/Soul/Pop/Rock não havia dado certo. A decisão tomada foi investir mais em elementos eletrônicos (e não apenas em sintetizadores) além de retomar parte da veia Hard Rock da banda, quase que inteiramente ausente em The Game e Hot Space. Com isso, The Works foi um álbum mais feliz que seu antecessor. Em Radio Ga Ga encontramos uma excelente faixa eletrônica e um dos hits mais famosos da banda, e em nada lembra coisas horríveis como Body Language. Tear It Up é o Hard Rock que todos esperam ouvir de uma banda como o Queen: guitarras distorcidas, bateria pesada e backing vocals formando um coro. Rock N’ Roll de qualidade. Temos agora uma balada delicada de Freddie Mercury ao piano, outro de vários bons momentos em The Works: It’s A Hard Life é uma canção reflexiva sobre os altos e baixos que a vida nos proporciona em seu decorrer. May e Taylor já declararam que esta é uma de suas canções favoritas de Freddie Mercury, não à toa. Man On The Prowl é um empolgante Rockabilly no qual Mercury se diverte fingindo ser Elvis Presley novamente, lembrando muito, obviamente, Crazy Little Thing Called Love. Uma das faixas mais interessantes do álbum, Machines (Or Back To Humans), é uma fusão dos elementos eletrônicos de Radio Ga Ga com o Hard Rock de Tear It Up, resultando numa incrível parede sonora rica em detalhes. I Want To Break Free, outro estrondoso sucesso do Queen composto por Deacon, aparece em The Works em uma versão mais curta do que a famosa versão do single. A canção é um Pop alegre comum que, provavelmente, se tornou mais famosa por causa de seu video clip, que mostra todos os membros da banda vestidos como mulheres. Keep Passing The Open Windows foi escrita, na verdade, como parte da trilha sonora de um filme. Quando a banda decidiu parar de trabalhar na trilha sonora para se dedicar exclusivamente ao The Works, a canção foi modificada para poder se encaixar melhor na proposta sonora do álbum. Ela, de certa forma, possui uma temática parecida com a de It’s A Hard Life, porém é outra fusão de eletrônicos e Hard Rock, além de uma das composições mais complexas e ricas do trabalho. Outro Hard Rock no estilo de Tear It Up se segue com a ainda mais empolgante Hammer To Fall, o terceiro maior hit do álbum e uma das músicas mais pesadas lançadas pela banda nos anos 80. É o Queen provando que, acima de tudo, ainda é uma banda de Rock que faz música de qualidade. Para concluir, a belíssima balada Is This The World We Created...?, executada com todo o feeling possível pelo violão de May e pela voz de Mercury. A inspiração veio após ambos terem assistido ao jornal noticiário televisivo e, como o instrumental desta música é todo feito apenas por violão, a mesma começou a ser executada ao vivo com Love Of My Life.

O ano de 1984 ainda contou com outros lançamentos além de The Works. Dois shows gravados em Montreal nos dias 24 e 25 de Novembro de 1981 foram editados no filme We Will Rock You, lançado em Setembro. A turnê ainda era de The Game, mas já contava com Under Pressure no set list pelo fato de a música já ter sido lançada como single na época, meses antes de Hot Space. Em Novembro, é lançado um single de Natal, a bonita balada Thank God It’s Christmas.

Em 1985, durante a turnê de divulgação de The Works, a banda se sentiu desgastada. Os conflitos internos estavam em alta e ficou decidido que o Queen encerraria suas atividades ao final da turnê. Mas foi por causa de um show, de apenas 20 minutos de duração, que isso mudou. Foi no festival Live Aid, em 13 de Julho de 1985. A banda havia sido agendada para tocar quase que de última hora, então todos estavam nervosos por tocarem em frente a milhares de pessoas que não estavam ali pra ver o Queen. Porém, quando o show começou, a resposta do público foi intensamente positiva, inclusive em músicas recentes como Radio Ga Ga. Até hoje, muitos consideram este como o melhor show já feito pela banda. Ao fim do espetáculo, a banda se sentiu revitalizada e estava apta a continuar na ativa. Assim, começaram a trabalhar em novo material.

A KIND OF MAGIC (1986)
O primeiro álbum fruto desta nova energia do Queen foi o ótimo A Kind Of Magic, que basicamente é também a trilha sonora para o filme Highlander, que nunca teve uma trilha sonora oficial lançada. As versões do álbum são diferentes das presentes no filme (vale lembrar que nem todas as músicas de A Kind Of Magic aparecem em Highlander e que Hammer To Fall foi incluída em uma cena do mesmo). A primeira música escrita após o Live Aid foi justamente a porrada Hard One Vision, que abre o álbum soberbamente (desde A Day At The Races eu não ouvia uma faixa de abertura tão empolgante assim). Aqui encontramos um momento mágico: a bela fusão de sintetizadores (não de eletrônicos, como no álbum anterior) com Hard Rock, algo que a banda ainda iria explorar muito nos álbuns seguintes. Esta música é resultado do trabalho em conjunto dos quatro integrantes e, se fosse diferente, provavelmente não teria a mesma energia que apresenta. O álbum se segue com a primeira faixa-título da carreira do Queen (a música Sheer Heart Attack não saiu no álbum homônimo). A Kind Of Magic é uma excelente música Pop feita para ser apreciada com atenção, e uma de minhas preferidas desta fase da banda. O baixo divertido de Deacon se destaca em cada momento da faixa. Segue-se uma balada. One Year Of Love traz uma das melhores interpretações de Mercury, que canta como se estivesse sofrendo. Temos um bom solo melancólico de saxofone, que aparece também sutilmente em outros momentos desta composição bonita de Deacon. Outro destaque desta são as belas harmonias criadas em sintetizador e orquestra nos momentos finais da música. Pain Is So Close To Pleasure é um Pop mais descontraído e divertido (cantado em falsete), além da primeira parceria entre Mercury e Deacon em composição no álbum. A segunda é justamente a fantástica Friends Will Be Friends, outra balada linda, com pitadas de Hard Rock, que fala sobre o valor da amizade, não importa aonde e nem quando. Esta música foi inserida no set list da banda entre We Will Rock You e We Are The Champions para a turnê de A Kind Of Magic. Who Wants To Live Forever, composta por May (que canta o primeiro verso) é outra balada bonita basicamente guiada por várias camadas de sintetizadores e por orquestra. Muitos crêem que este é o tema de Highlander, mas estão enganados. O que se pode dizer desta é que é o tema de amor do filme. O Hard Rock volta com Gimme The Prize, com algumas falas extraídas do filme (a canção é o tema de Kurgan, vilão de Highlander). Não é uma das mais empolgantes, mas traz um curioso vocal bastante rasgado (às vezes, quase gutural) e desesperado de Freddie Mercury e algumas variações do tema criado para o filme. Don’t Lose Your Head, de Taylor, é uma faixa eletrônica interessante (mesmo com seu andamento quase constante) que poderia muito bem fazer parte de The Works. A única composição solo de Mercury em A Kind Of Magic é também a melhor canção do álbum e o verdadeiro tema de Highlander: Princes Of The Universe, um Heavy Metal complexo cheio de variações, pausas e muito peso em seus 3 minutos e meio de duração. Neste momento, o Queen regride totalmente às suas raízes, e encerra com estilo mais um trabalho memorável.

A turnê de A Kind Of Magic, chamada Magic Tour, foi um enorme sucesso. Foi também a última. Freddie Mercury foi diagnosticado com AIDS e a banda decidiu que não faria mais shows, mas continuaria lançando álbuns. Ao final de 1986, é lançado o segundo álbum ao vivo da banda, Live Magic, que foi muito criticado por fãs pelo fato de muitas das canções terem sido editadas. O mais gritante e revoltante dos exemplos foi a remoção da seção operística de Bohemian Rhapsody. Apesar deste problema, Live Magic traz, em sua maioria, canções gravadas no último show da banda realizado com Freddie Mercury, em 9 de Agosto de 1986, se tornando um importante registro nos dias atuais.

THE MIRACLE (1989)
O mundo não sabia da doença de Freddie Mercury e nem o porquê de a banda ter parado de fazer shows. A banda estava mais unida do que nunca, assinando todas as composições de The Miracle com o nome Queen, apesar de quase todas terem sido escritas por um ou, no máximo, dois integrantes, com os outros contribuindo nas estruturas e arranjos. O mesmo aconteceria com o álbum posterior. The Miracle começa com a divertida Party, uma ótima mistura de Pop e Hard Rock que apresenta um riff excelente de guitarra em sua metade e uma bateria empolgante. A faixa nem chega a terminar e já é emendada com o Hard Rock poderoso de Khashoggi’s Ship que, se diferente de Party em termos musicais, é parecida em temática. A canção The Miracle é uma das mais ricas composições de Mercury nos anos 80, tanto em instrumental quanto em letra, e é digna de ser a faixa-título do álbum. Os inúmeros sintetizadores são boa parte da riqueza instrumental encontrada em The Miracle (álbum e música). O grande hit da vez é a excelente I Want It All. No álbum, sua introdução é feita pelos riffs de May, seguido do acompanhamento de Deacon e Taylor (a versão do single começa apenas com os vocais cantando o refrão). I Want It All é o Hard Rock definitivo do álbum e um dos mais famosos da banda, com andamentos diferentes: os versos e refrãos são bem cadenciados, os sintetizadores tomam conta da ponte, cantada em dueto por May e Mercury, e o solo é dividido em uma parte cadenciada e outra rápida, separadas por um riff potencialmente pesado. Excelente em todos os sentidos. Depois desta, temos uma sucessão de canções Pop/Rock iniciada com The Invisible Man, uma das melhores. O interessante desta é reparar que os nomes de todos os membros do Queen aparecem em partes distintas durante sua execução. Composta por Taylor, a música tem a percussão em destaque. Breakthru tem um trabalho vocal muito bonito em seus momentos iniciais e certo peso no refrão e também se mostra interessante. Rain Must Fall é uma parceria entre Deacon, responsável pelo instrumental, e Mercury, que escreveu a letra. A canção é bem Pop e descontraída e diverte por seus arranjos e melodias, incluindo a discreta percussão ao fundo. Scandal é uma ótima composição de May (que apresenta um bonito riff de guitarra com efeitos sintetizados) e outra das melhores de The Miracle. A música é uma resposta à imprensa Britânica, que criava controvérsia sobre seu relacionamento (e recente divórcio) com a atriz Anita Dobson. My Baby Does Me é mais uma contribuição Pop entre Deacon e Mercury e é um pouco semelhante musicalmente à Rain Must Fall, porém inferior, encerrando a seqüência Pop/Rock do álbum. O maior destaque de The Miracle é o épico Was It All Worth It, idealizado pelo mestre Freddie Mercury (a banda toda contribuiu de diversas formas). É um Heavy Metal com influências clássicas e complexidades típicas do que a banda fazia nos anos 70. Aqui temos coros que parecem ter saído do álbum A Night At The Opera. A canção é toda perfeita (chamá-la de obra-prima ainda não é o suficiente), mas seu melhor momento é justamente a parte do solo emendada com uma magnífica passagem clássica feita por sintetizadores e orquestra. A letra é uma reflexão de Mercury (ou, talvez, de toda a banda) sobre sua vida dedicada ao Rock N’ Roll e aos seus altos e baixos. No fim, conclui que tudo valeu à pena. Mais uma ótima faixa de encerramento de outro ótimo álbum do Queen. (Nota: todos os álbuns comentados nesta matéria dupla sobre a discografia do Queen, exceto Made In Heaven, foram analisados baseando-se no track list de suas edições em LP, ignorando as bonus tracks exclusivas para as versões em CD.)

Ao final de 1989, é lançado, na Europa, At The Beeb, um álbum ao vivo que traz gravações de duas sessões feitas pela banda para a BBC em 1973. Das oito músicas que compõem o track list, sete são do álbum de estréia, sendo Ogre Battle a única de Queen II, ainda inédito na época. At The Beeb foi lançado nos Estados Unidos apenas em 1995, sob o nome Queen At The BBC. Em Dezembro de 1990 é lançado Queen At Wembley, VHS contendo parte de um dos dois shows da Magic Tour realizados no Wembley Stadium.

INNUENDO (1991)
Após o lançamento de The Miracle, a banda logo deu início aos trabalhos do próximo álbum. Freddie Mercury já progredia nos estágios finais de sua doença e iria ao estúdio esporadicamente, quando se sentia bem o suficiente, para gravar seus vocais, o que fez com que todos aproveitassem ao máximo a sua rara presença no local. Os médicos achavam que ele não iria conseguir concluir seu trabalho. Felizmente, além de conseguir terminar as gravações de Innuendo, o primeiro álbum lançado pela banda nos anos 90, Mercury ainda conseguiu deixar algum material extra gravado para que a banda pudesse concluir no futuro. Innuendo se inicia logo com sua épica faixa-título, um Heavy Metal sombrio que apresenta um dos melhores momentos de toda a obra do Queen: após o segundo refrão, uma linda seção instrumental flamenca aos violões de Brian May e Steve Howe, guitarrista do Yes. Esta seção é seguida de outra clássica acompanhada dos belos vocais de Mercury e do coro de vozes que o Queen sempre fez com perfeição, abrindo espaço para o breve, mas eficiente, solo de May. Simplesmente, um excelente começo para o álbum. I’m Going Slightly Mad é uma canção com clima psicodélico, refletido pelos sintetizadores, solo de guitarra, letras e efeitos sonoros. (Inclusive, este é o grande atrativo de Innuendo: a temática das letras sempre reflete na parte instrumental das músicas, e a banda foi, mais uma vez, genial.) Para quebrar o clima de loucura, ou não, Headlong traz o velho Hard Rock do Queen de volta, em um instrumental rico, trabalhado e deliciosamente empolgante, se mostrando como uma das melhores canções do álbum. (Certa vez estava de férias com minha família. Todas as vezes em que Headlong estava tocando no som, Victoria, minha filha, dizia: “Esta música é engraçada.”. E era apenas nesta. Não sei realmente o que ela viu de engraçado na música, mas, depois disso, nunca mais consigo escutá-la sem lembrar de minha filha, que adora Beatles e, um belo dia, soltou: “Queen também é bom!”.) I Can’t Live With You é outro Rock excelente que se segue e mantém o elevado nível de qualidade de Innuendo, além de demonstrar que, apesar de sua saúde debilitada, a voz de Mercury continuava inabalável, como prova também a bela Don’t Try So Hard, balada em que canta boa parte em falsete e apresenta outro clima sonoro perfeitamente encaixado com a letra. Ride The Wild Wind é outra canção de Taylor sobre sua paixão por carros, já evidenciada no clássico I’m In Love With My Car. Desta vez, os vocais principais são feitos por Mercury e a música é um Hard Rock com influências eletrônicas, além de ser a mais rápida do álbum. O melhor trabalho vocal de Mercury em Innuendo é encontrado na operística All God’s People, com suas inúmeras camadas vocais cantadas em diversos tons. Esta música foi inicialmente criada por Mercury e pelo compositor e produtor musical Mike Moran para o projeto Barcelona, mas não foi usada, sendo reformulada para se encaixar em Innuendo (similar ao que ocorreu com Keep Passing The Open Windows, no The Works) e traz momentos de musicalidade africana e Hard Rock, sendo outra rica composição no álbum. Em termos musicais, a linda These Are The Days Of Our Lives é uma das canções mais simples já feitas pelo Queen e é um belo exemplo de como seria a sonoridade de algumas das que seriam lançadas no álbum póstumo. Ela possui uma temática similar à de Was It All Worth It, uma reflexão sobre os velhos tempos. Delilah é uma música Pop descompromissada e, por vezes, boba sobre a gata de Mercury e só entrou no álbum por muita insistência dele. O único ponto fraco de Innuendo. Para compensar, temos todo o peso que faltava em trabalhos como The Game e Hot Space na porrada The Hitman, o último grande Heavy Metal do Queen e a canção mais agressiva de um álbum marcado por fantásticas composições pesadas. Bijou é maravilhosa e traz Brian May inspiradíssimo em sua guitarra, extraindo um feeling raro, acompanhado do clima dark dos sintetizadores, culminando na breve e linda participação dos vocais de Mercury (a canção foi planejada para ter as guitarras fazendo os versos e o vocal entrando apenas no que seria a parte do solo de guitarra). A última canção do álbum é, também, o testamento de Freddie Mercury: The Show Must Go On, uma das mais comoventes obras-primas da banda. Uma fusão de Opera com Rock perfeita e bastante tocante, com intensa musicalidade e vocais por parte da banda. É difícil de acreditar que Mercury quase não podia mais andar quando a gravou, tamanha foi sua dedicação. Um grande mestre estava indo embora, mas fazia questão de deixar seu legado para a humanidade. Eu diria que The Show Must Go On é a companheira perfeita de Was It All Worth It: enquanto uma fala de reflexões sobre a vida, a outra é, de fato, uma despedida. Despedida esta que serve também para Innuendo, um dos melhores álbuns de toda a carreira do Queen.

Innuendo foi lançado em Fevereiro de 1991. No final de Outubro, foi a vez da coletânea Greatest Hits II, abrangendo sucessos de Hot Space até Innuendo. Esta coletânea foi o último lançamento da banda antes da morte de Mercury, que faleceu em 24 de Novembro, um dia após ter declarado que tinha AIDS. Em Março de 1992, outra coletânea, Classic Queen, é editada. (O motivo desta compilação foi a volta do sucesso do Queen nos Estados Unidos após o filme Wayne’s WorldQuanto Mais Idiota Melhor, no Brasil –, que possui a famosa cena na qual os personagens principais piram o cabeção no carro ao som de Bohemian Rhapsody.) Em 20 de Abril ocorre o The Freddie Mercury Tribute Concert, no Wembley Stadium, reunindo vários artistas famosos tocando suas músicas e se juntando aos membros remanescentes do Queen para assumir os vocais antes feitos por Mercury. (Eu pessoalmente não gosto deste tributo, mas foi importante por arrecadar bastante dinheiro, que foi destinado ao tratamento de pessoas com AIDS.) No mês seguinte foi lançado Live At Wembley ’86, álbum duplo ao vivo contendo o mesmo show do VHS Queen At Wembley.

MADE IN HEAVEN (1995)
O Queen retornou ao estúdio em 1993 para começar a trabalhar no material deixado por Mercury pouco antes de sua morte. Como o material não era suficiente para preencher um álbum inteiro, algumas canções (em que Mercury canta) dos álbuns solo de Mercury, May e Taylor foram retrabalhadas para soar como Queen, além de outras em que May e Taylor precisaram gravar vocais para preencher partes que Mercury não conseguiu concluir. O resultado disso foi Made In Heaven, lançado 4 anos após sua morte. O trabalho feito para este álbum foi tão intenso que ele consegue manter o nível dos lançamentos pós-Hot Space. It’s A Beautiful Day serve basicamente como uma introdução e partiu de uma gravação de 1980 de Mercury ao piano, que foi enriquecida com novos elementos sendo adicionados. Made In Heaven, a faixa-título, é originalmente do álbum Mr. Bad Guy, de Mercury, e aqui ganha ares épicos em uma balada cadenciada e, por vezes, pesada e intensa. A banda retrabalhou a parte instrumental da canção e adicionou os vocais originais da mesma posteriormente, assim como foi feito com outras no álbum. Let Me Live é outra grande balada de Made In Heaven e traz algo único em toda a obra do Queen: todos os membros, com exceção de Deacon, dividem os vocais nesta, com cada um cantando um verso (Taylor também canta a ponte). A música seguinte, Mother Love, foi gravada nas últimas semanas de vida de Mercury. May canta o último verso que Mercury não conseguiu gravar. A música é sombria, com sua atmosfera pesada e melancólica, e ainda inclui breves trechos do show lançado no álbum Live At Wembley ’86 (mais especificamente One Vision, Tie Your Mother Down e o famoso momento em que Mercury convida a platéia para cantar junto a ele) e de um cover de Goin’ Back (de Carole King e Gerry Goffin), gravado em 1972. My Life Has Been Saved foi composta por Deacon e gravada durante as sessões de The Miracle, aparecendo como B-side do single Scandal. Aqui ela está musicalmente diferente da original, porém com os mesmos vocais. A canção é outra das várias baladas cativantes presentes no álbum. I Was Born To Love You é a segunda canção de Mr. Bad Guy retrabalhada e apresenta o único verdadeiro Hard Rock de Made In Heaven. A canção é muito empolgante e ainda traz Mercury gargalhando e exclamando “It’s magic!” (retirado da canção A Kind Of Magic) ao final. Excelente. Heaven For Everyone é uma canção de Roger Taylor escrita em 1986 e acabou sendo gravada por sua outra banda, The Cross. Mercury gravou os vocais principais da canção como músico convidado, com Taylor fazendo backing vocals, e a mesma foi lançada na edição para o Reino Unido do álbum Shove It. (No single e na edição para os Estados Unidos, Taylor é responsável pelos vocais principais e Mercury faz os backing vocals. Na versão encontrada em Made In Heaven, os backing vocals ficam a cargo de Brian May.) Esta canção é um dos melhores momentos do álbum e seus versos me fazem lembrar um pouco de These Are The Days Of Our Lives. Outra canção das sessões de The Miracle é a linda Too Much Love Will Kill You, que só não entrou naquele álbum devido aos problemas entre as companhias representantes dos direitos autorais de Frank Musker e Elizabeth Lamers, que a co-escreveram com Brian May. (May tocou a canção publicamente pela primeira vez no The Freddie Mercury Tribute Concert e acabou lançando-a em seu álbum solo Back To The Light, de 1992, com seus próprios vocais.) Os três autores da canção receberam o prêmio Ivor Novello por composição, mais do que merecido. You Don’t Fool Me é minha preferida do álbum e sua história é curiosa: a princípio, nada poderia ser feito dela, pois não havia sequer uma base concreta para trabalhar. O produtor David Richards coletou vários trechos de gravações que Mercury deixou para o álbum e, assim, construiu a letra, mandando o trabalho vocal de Mercury concluído para que a banda pudesse gravar seus instrumentos e backing vocals. E foi assim que ela nasceu. Apesar de seu ritmo mais dançante, felizmente não vejo grandes semelhanças entre ela e o trabalho feito em Hot Space. A Winter’s Tale foi a última música em que Mercury escreveu sozinho e é mais uma balada no álbum, com tema similar ao do single Thank God It’s Christmas (porém, com um refrão mais bonito). It’s A Beautiful Day (Reprise), a princípio, parece se tratar da mesma faixa que abre o álbum (com algumas poucas alterações no início), porém, após pouco mais de um minuto, descobre-se que é uma versão Rock N’ Roll da mesma, inclusive sendo superior, com trechos da introdução de Seven Seas Of Rhye (a versão do álbum Queen II) em seus momentos finais, e a canção termina abruptamente com Mercury dizendo “Yeah!”. Logo a canção dá lugar a uma misteriosa faixa instrumental de mais de 22 minutos de duração, criada por David Richards, com idéias de Roger Taylor e Brian May acrescentadas posteriormente. Esta faixa sem título, encontrada apenas na edição de Made In Heaven em CD, consiste de vários climas dark providos por diversos sons, colagens de instrumentos, efeitos sonoros e algumas poucas vozes. (Várias teorias já foram criadas por fãs para tentarem compreender o sentido desta faixa, o que não deixa de ser interessante, mas não é o meu caso. Não tenho essa paciência toda.) Esta curiosa viagem sonora encerra o nostálgico Made In Heaven, o definitivo álbum final do Queen.

Em 1997 é editada a compilação Queen Rocks, que explora o lado Hard Rock da banda. Esta compilação é única entre todas as outras, pois não foca apenas em hits, como comprova a presença de canções como Stone Cold Crazy, Tear It Up, Sheer Heart Attack e It’s Late. Mesmo faltando outras com grande potencial para entrar na coletânea, como Liar, Ogre Battle, Princes Of The Universe e The Hitman, Queen Rocks é o lançamento que mais gosto do Queen (excluindo-se os álbuns de estúdio) e traz duas novidades: a primeira é uma versão retrabalhada de I Can’t Live With You, muito mais pesada e ainda melhor do que a original lançada em Innuendo. Esta versão foi batizada de I Can’t Live With You (’97 Rocks Retake). A segunda é a nova No-One But You (Only The Good Die Young), uma emocionante balada em homenagem a Freddie Mercury e Diana, Princesa de Gales, falecida no ano anterior. A canção foi escrita por Brian May, que canta o primeiro e terceiro versos, sendo Taylor responsável pelos vocais do segundo. No-One But You é a única música do Queen totalmente concebida após a morte de Freddie Mercury que envolve apenas os membros originais remanescentes da banda em sua gravação. Tal fato faz dela uma espécie de despedida do nome Queen, que seria usado em futuras gravações como Queen + e o nome do participante convidado. Queen Rocks foi o último lançamento do autêntico Queen, com John Deacon deixando-o no final de 1997 para se aposentar, após 26 anos de serviços dedicados à banda.

Em 1999, sai, sob o nome Queen +, o fraco Greatest Hits III, uma mistura de músicas de Made In Heaven (e também algumas dos álbuns anteriores que ficaram de fora de Greatest Hits II), das carreiras solo de Mercury e May, remixagens e versões ao vivo cantadas por convidados. A década de 2000 contou com inúmeros lançamentos e relançamentos do Queen original. Os mais conhecidos são:
• Em 2003, o relançamento do famoso show da Magic Tour no Wembley Stadium. O DVD (trazendo o show completo) e CD (com algumas bonus tracks) foram renomeados Queen: Live At Wembley Stadium;
• Em 2004, o CD e DVD Queen On Fire: Live At The Bowl, show gravado na Inglaterra durante a turnê de Hot Space;
• Em 2006, a coletânea Stone Cold Classics;
• Em 2007, o relançamento do filme We Will Rock You com a adição das faixas Flash e The Hero, não disponíveis na versão original. Este relançamento foi batizado de Queen Rock Montreal e foi acompanhado de um CD trazendo o áudio do filme;
• Em 2009, mais uma coletânea, Absolute Greatest, que nada mais é do que um resumo dos três Greatest Hits.

May e Taylor seguem usando o nome Queen + até hoje em shows e lançamentos de gravações novas. Entre 2004 e 2009, formaram uma parceria com o vocalista Paul Rodgers (famoso por suas ex-bandas Free e Bad Company) chamada Queen + Paul Rodgers, que lançou Return Of The Champions, Live In Ukraine (ambos em CD e DVD) e Super Live In Japan (apenas em DVD), que consistem de canções do Queen com algumas das ex-bandas de Rodgers. Em 2008 foi lançado The Cosmos Rocks, o único álbum de estúdio da parceria. O projeto acabou amigavelmente e nenhuma das partes descarta a possibilidade de uma futura reunião. (John Deacon foi convidado a participar do projeto, mas preferiu não interromper sua aposentadoria. Mesmo assim, deu apoio aos demais integrantes.)

Se o Queen tivesse continuado com Deacon e May e Taylor dividissem os vocais das canções ao vivo e lançassem novos álbuns apenas como um trio (como foi feito em No-One But You), sua carreira após 1997 teria sido muito melhor. Porém, o legado deixado por Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon juntos encontrado em seus 14 álbuns de estúdio é muito mais do que suficiente para comprovar que o Queen foi o maior exemplo de evolução natural dos Beatles na história da Música.

It Was Worth It!