sexta-feira, 8 de outubro de 2010

American History X (A Outra História Americana - 1998)

O racismo é uma das coisas mais estúpidas na história da humanidade. Apesar de todos os absurdos provocados por Adolf Hitler, ainda existem diversos otários espalhados pelo mundo que seguem seus ideais, inclusive nos países que lutaram contra o ditador durante a Segunda Guerra Mundial.

Esta é a base da trama de American History X (A Outra História Americana), dirigido por Tony Kaye e lançado em 1998. O filme narra a história de dois irmãos, Derek (Edward Norton) e Danny Vinyard (Edward Furlong) em sua inclusão ao neonazismo. Derek era um aluno excepcional na escola, mas a morte de seu pai o provocou uma ira que o deixou completamente cego perante seus atos. Ao conhecer Cameron Alexander (Stacy Keach), membro da supremacia branca, Derek se torna o líder de uma gangue de skinheads e eventualmente é preso pelo assassinato de dois negros. Durante os três anos que passou em confinamento, percebeu que sua ira e suas ações não o ajudaram a se sentir melhor e que nada realmente valeu à pena. Determinado a deixar o neonazismo e seguir com uma vida nova ao ser libertado, Derek vê seu irmão mais novo seguindo os mesmos passos que o levaram à prisão.

Danny também é um aluno exemplar da mesma escola em que Derek estudou. Porém, ao escrever sobre a autobiografia de Hitler, Mein Kampf, para seu professor de História, Murray (Elliott Gould), amigo e ex-namorado de Doris (Beverly D’Angelo), mãe de Derek e Danny, ele é encaminhado à sala do diretor (ironicamente, um negro) Dr. Robert Sweeney (Avery Brooks), antigo professor de Derek, o qual exige que Danny escreva um novo texto, desta vez baseado em Derek, intitulado “American History X”.

Uma das melhores qualidades do filme é a forma com que ele é contado. Seguindo uma narrativa não-linear, todos os acontecimentos anteriores ao dia em que Derek é libertado são mostrados em preto-e-branco, como a razão da influência de Derek ao racismo, sua ascensão como líder do D.O.C. (o grupo de skinheads), a discussão envolvendo Murray (um judeu) e ele durante uma refeição com toda a família, o assassinato dos negros e o tempo em que Derek passou na prisão. Porém, um destes flashbacks destaca-se ainda mais: a aposta feita entre os skinheads e os negros envolvendo a quadra de basquete e a subseqüente partida. A seqüência foi muito bem executada, pontuada pela emoção do jogo e a ótima trilha sonora de Anne Dudley, além de a película em preto-e-branco conferir à cena um tom mais artístico.

Outro ponto técnico interessante de American History X é o uso de closes nos rostos dos personagens enquanto estes dialogam, o que torna a narrativa muito mais intimista, facilitando a compreensão do caráter de cada um deles. Por exemplo, durante uma conversa entre Danny e Cameron, podemos notar no rosto deste último a convicção em todos os absurdos que verbaliza, além de sua expressão fria e sarcástica. Porém, de nada serviriam estes closes faciais caso os atores não fossem tão bons.

Furlong está sensacional como Danny. É uma pena que o ator se envolveu demais com drogas e teve seu trabalho relativamente reduzido na década seguinte, atuando em filmes precários e medíocres. Beverly D’Angelo (a Sheila Franklin de Hair) alterna os diversos estados emocionais e físicos de Doris com maestria, enquanto Avery Brooks transmite os conhecimentos de Sweeney de forma econômica, mas sem jamais soar capenga. Stacy Keach transforma Cameron no grande monstro do filme, ainda que seu tempo em tela seja razoavelmente curto. Fairuza Balk (Stacey, namorada de Derek), Ethan Suplee (Seth Ryan, o amigo skinhead gordo de Derek), Jennifer Lien (Davina, irmã de Danny e Derek), William Russ (Dennis, o pai dos irmãos Vinyard), Guy Torry (o negro Lamont, colega de trabalho de Derek na prisão e responsável por algumas das cenas mais divertidas do filme) e Elliott Gould reforçam o ótimo elenco.

E Edward Norton? Simplesmente fantástico. Não assisti a todos os filmes nos quais ele atuou, mas acredito que esta seja sua melhor performance. Norton é um ator que abraça fortemente todos os seus papéis e, aqui, confere a Derek um personagem brilhante e inteligente, ainda que humano e, conseqüentemente, sujeito a erros.

American History X ainda destaca-se da grande maioria dos filmes por não seguir certos padrões que acabam se transformando em clichês cinematográficos. Aqui não temos uma luta do bem contra o mal, pois tanto negros quanto skinheads são retratados como sujeitos perigosos de Venice Beach, bairro de Los Angeles onde a história se passa. Algo que me deixa particularmente muito feliz é a decisão do roteirista David McKenna de não ter transformado Derek em um cristão devoto ao se arrepender de seus pecados, o que é tão comum aos fracos tanto na vida real quanto na ficção. Felizmente, esta não é a natureza do protagonista.

“Então eu acho que é aqui que lhe digo o que aprendi – minha conclusão, certo? Bem, minha conclusão é: ódio é bagagem. A vida é muito curta para se estar irritado o tempo todo. Simplesmente não vale à pena. Derek diz que é sempre bom terminar um texto com uma citação. Ele diz que alguém mais já o fez melhor. Então, se você não pode superá-los, roube-os e termine em grande estilo. Então escolhi um cara que achei que você gostaria: ‘Nós não somos inimigos, e sim amigos. Não devemos ser inimigos. Embora a paixão possa ter se exaustado, ela não deve romper nossos laços de afeição. Os acordes místicos da memória se intensificarão quando tocados novamente, como certamente serão, pelos grandes anjos de nossa natureza.’” – Danny Vinyard

2 comentários:

  1. Esse filme me surpreendeu d um tanto...........

    Assisti sem nenhuma espectativa...

    ...O roteiro é bom, os atores tbm... a história no geral é fantástica.

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  2. Bela análise.. ótimo filme, excelentes atores, e acho justo reforçar "Furlong está sensacional como Danny", a naturalidade com que atua, o realismo na sua face durante as diversas situações exigidas, algumas de extremo pranto, tristeza, nas quais o ator se saiu muito bem! E, Edward Norton se mostrou impecável o filme todo, colocando muito sentimento no seu personagem, o que o destacou no papel. Masssssss, eu particularmente, não gostei muito da atuação dele na cena final, faltou um pouco da naturalidade e das feições que sobraram para seu irmão de filmagens, Furlong.. Mas, isso ai não me fez gostar menos ou mais, o filme é sem palavras! Ótimo diretor, ótimo roteiro, recomendo, excelente filme.

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