O excelente King For A Day… Fool
For A Lifetime não emplacou nas vendas tão bem quanto The Real Thing e Angel Dust.
Trey Spruance, contratado para a composição e gravação do disco, não participou
de sua subseqüente turnê, sendo substituído por Dean Menta, o técnico de
teclado da banda na época. No ano seguinte, Jon Hudson se tornaria o mais novo
guitarrista do Faith No More. Porém, àquela altura, a banda já se encontrava
rachada, a convivência entre os integrantes já não estava mais tão bem. Apesar
disso, seguiram em frente de forma profissional e lançaram Album Of The Year, novamente diferente do que a banda já havia
feito – embora lembre em alguns momentos Angel
Dust e King For A Day.
Curiosamente, o nome do disco foi escolhido por ironia, já que, ao que parece,
nem o próprio FNM ficou satisfeito com a direção musical tomada.
Album Of The Year começa muito bem com Collision, que alterna entre versos mais
calmos e a raiva das guitarras e voz no refrão. Percebe-se imediatamente que,
mesmo com a “volta” de Roddy Bottum, os teclados continuam econômicos – nada
que possa lembrar a genialidade de outrora. Stripsearch
é uma bem sacada mistura de música eletrônica, balada suave e Heavy Metal.
Sem dúvidas, esta é a faixa mais climática de toda a carreira da banda. Levei
muito tempo para digeri-la, e hoje a considero uma música muito boa, uma das
melhores do álbum. Last Cup Of Sorrow
é outro momento de destaque com efeitos na voz de Mike Patton, linha de teclado
extremamente simples, mas memorável, e um baixo pulsante de Billy Gould. O
refrão é sensacional. Três ótimas canções até aqui.
A
coisa começa a desandar com Naked In
Front Of The Computer que, musicalmente, parece uma Get Out bem mais modernizada e com vocais inferiores e irritantes,
flertando novamente com o New Metal (estilo musical do qual o Faith No More
ajudou a criar, influenciando inúmeras bandas do gênero). Felizmente, a bela
balada semi-acústica Helpless retoma
a qualidade das primeiras faixas. A essa altura, já é totalmente perceptível
que Patton abusa dos efeitos em sua voz em Album
Of The Year. Mouth To Mouth traz
uma linha de teclado reminiscente da música circense sobreposta a uma estrutura
basicamente Punk onde Patton declama os versos ao melhor estilo rapper. A seguir, temos um simples e
certeiro riff de Hudson no
arrebatador Hard Rock Ashes To Ashes,
outro ponto alto nas apresentações da banda. Esta é facilmente a melhor canção
– e último grande momento – de Album Of
The Year.
She Loves Me Not é uma balada leve,
bacana e despretensiosa com influências de Lounge Music e belos vocais. Got That Feeling segue com a mesma
agressividade de Naked In Front Of The
Computer e, apesar de levemente superior, não deixa de ser igualmente
dispensável. Paths Of Glory é pesada,
densa e cadenciada e segue uma mesma estrutura, não apresentando nenhuma
novidade, mas conferindo uma interessante atmosfera dark que vai crescendo à medida que a canção avança. Home Sick Home, apesar de diferente em
sua maior parte, é tão descartável quanto as outras duas mencionadas
anteriormente – coincidência ou não, as três piores faixas do disco foram
compostas unicamente por Mike Patton e cada uma delas possui em média dois
minutos de duração. Pristina é uma
faixa lenta e pesada que se limita à repetição exaustiva, não decolando nem
mesmo em seu suposto clímax, concluindo – de forma pouco inspirada – Album Of The Year, que acabou se
tornando o disco derradeiro do Faith No More.
Who Cares A Lot? (1998)
Who Cares A Lot? foi a primeira de várias
coletâneas do Faith No More lançadas. Eu poderia ter escolhido qualquer outra
para abordar aqui, mas esta é especial por ter sido lançada meses após o
anúncio oficial do fim da banda, em Abril de 1998, tornando-se emblemática. Exceto
pelo debut, todos os demais álbuns da
banda – lançados pela Slash Records – estão representados aqui. Do Introduce Yourself, temos a releitura de
We Care A Lot e a faixa-título
(substituindo Anne’s Song). The Real Thing contribui com suas três
primeiras faixas – From Out Of Nowhere,
Epic e Falling To Pieces. Midlife
Crisis, A Small Victory e Easy (em versão um pouco diferente da
encontrada no álbum) representam o magnífico Angel Dust. Já King For A Day... Fool For A Lifetime aparece com Digging The Grave, The Gentle Art Of Making Enemies (substituindo Ricochet), Evidence e uma
versão para I Started A Joke, dos Bee
Gees, encontrada como bonus track em
algumas edições do álbum, b-side de Digging The Grave e single final e póstumo, lançado com a coletânea. Para finalizar, temos Last Cup Of Sorrow, Ashes To
Ashes e Stripsearch do Album Of The Year.
A
novidade não se limita a I Started A Joke.
Apesar de Who Cares A Lot? não
incluir os singles Anne’s Song, Everything’s Ruined e Ricochet, o segundo CD da coletânea traz
algumas raridades, como a apocalíptica e sombria The World Is Yours, gravada nas sessões de Angel Dust. Do que não entrou em King For A Day temos a divertida, leve e dançante Hippie Jam Song e o Heavy Metal com
toques modernos de I Won’t Forget You.
Instrumental foi gravada após as
sessões do quinto álbum e apresenta a banda fazendo uma jam session experimental e interessante. Todas as guitarras da
faixa foram gravadas por Roddy Bottum. Em seguida, temos uma porca versão demo em quatro canais de Introduce Yourself que, apesar de rara,
em minha opinião empobrece o segundo CD, cujas demais faixas são muito bem
produzidas. Para finalizar, temos três faixas ao vivo, sendo duas delas apenas
trechos de músicas. O primeiro é de Highway
Star, clássico do Deep Purple, enquanto o segundo é de Midnight Cowboy (rebatizada aqui Theme From Midnight Cowboy). O encerramento é a belíssima balada de
Jazz This Guy’s In Love With You,
gravada originalmente por Herb Alpert. O Faith No More, até onde se sabe,
jamais gravou uma versão em estúdio desta canção.
Outras
faixas mais raras da banda acabaram saindo em coletâneas posteriores, especialmente
em The Very Best Definitive Ultimate
Greatest Hits Collection (que também conta com um segundo CD de raridades),
lançada em Junho de 2009, quatro meses após o FNM ter anunciado que retornaria
aos palcos após onze anos com a mesma formação do Album Of The Year. Chuck Mosley se juntou à banda em um show em San
Francisco em Abril de 2010 para cantar algumas canções. Patton se juntou a ele
para fazer um dueto em Introduce Yourself.
Em outra ocasião, Trey Spruance executou o álbum King For A Day na íntegra com a banda no festival Maquinaria, no
Chile, em Novembro de 2011 – apenas dois dias antes da apresentação no SWU. De
acordo com os próprios integrantes, sobretudo Mike Patton, definitivamente não
há planos para um novo disco, o que é uma pena. Mas eles ainda estão por aí.
Podem perfeitamente mudar de idéia algum dia. Eu só fico imaginando como teria
sido o show final daquele maravilhoso último dia do SWU 2011 para mim caso eu
já conhecesse e admirasse todas aquelas músicas da mesma forma que o faço hoje.