sábado, 31 de dezembro de 2011

Epílogo (Memória: Parte II)

Estava eu lendo o post referente ao primeiro aniversário deste blog e relembrando como havia sido o ano de 2010. Realmente foi um ótimo ano ao lado dos amigos em Goiânia no primeiro semestre e dos colegas de faculdade em Brasília no segundo. Aquilo seria difícil de superar, ao menos em curto prazo.

Na faculdade, aquele senso de união acabou junto ao primeiro semestre. Logo no início do segundo, já em 2011, indícios de que cada semestre seguinte seria pior que o anterior começavam a surgir quando finalmente percebi o enorme desdém da faculdade e da coordenação para com o nosso curso e isso refletiu até mesmo nas relações entre os alunos. Os trabalhos em grupo foram ficando cada vez mais tensos, gerando grandes atritos. Como não poderia deixar de ser, muitos atribuíram boa parte destes atritos à minha personalidade crítica e inflexível. Sinceramente, não dei a mínima. Chegava a um ponto em que eu simplesmente fazia a minha parte e esperava que o trabalho fosse concluído de qualquer forma.

Apesar dos altos e baixos, eu creio que o próximo semestre – o último – será bom, mesmo não tanto quanto foi o primeiro. Espero apenas não me decepcionar ainda mais. Acho difícil, mas nunca se sabe. Ao menos eu pude comprovar que, mesmo com um curso e uma faculdade tão aquém, minha paixão pelo Cinema continua intacta.

Se 2011 foi horrível na faculdade, foi excelente em termos profissionais. Eu nunca havia gostado de algum trabalho a ponto de querer passar mais tempo nele do que em qualquer outro lugar, até mesmo a minha casa. Estou num ótimo momento e atribuo isso à minha dedicação durante todo o ano, expondo a responsabilidade, confiança e competência em minha pessoa que eu mal sabia que existiam. O melhor de tudo não é apenas ser reconhecido, mas também respeitado – poder ser professor, colega e amigo de todos e saber como separar e equilibrar as coisas é maravilhoso. Todos saem ganhando, eu principalmente. Aprendo todos os dias com todo mundo, sobretudo com os alunos. Neste sentido, minha expectativa para o ano que vem é de algo ainda maior e melhor.

No lado pessoal, o ano não foi tão bom. Parece um tanto contraditório com o que eu acabei de escrever, mas a verdade é que a solidão pairou em mim durante todo o tempo. Eu me sentia sozinho mesmo não estando. Por mais que eu não esteja com pressa em ter alguém ao meu lado, sinto falta. Afinal, relacionamentos são como drogas e tecnologia: só sentimos falta depois de experimentar. Nenhuma das mulheres com quem saí este ano me fez despertar a vontade de querer levá-la a ter algo mais sério. Faltava alguma coisa, mas ainda não descobri o que. Talvez eu mesmo não quisesse nada sério com ninguém na época.

Além do lado profissional, o único outro motivo que impede que este ano seja inferior ao passado é o tempo que passei com a Victoria. Foi muito breve, mas aquela linda garotinha de seis anos conseguiu extrair o que há de mais paterno em mim naquela semana de convivência. A saudade aumenta toda vez em que ouço sua voz pelo telefone. Aquele foi o único momento do ano em que a solidão resolveu tirar férias. Até mesmo meu relacionamento com meus pais melhorou. A cada dia eu percebo mais e mais o quão importantes eles são para mim. Afinal, são eles quem ficam ao meu lado quando estou na merda.

Em resumo, 2011 teve seus bons e maus momentos. Acredito que os bons foram feitos da melhor forma possível. Os maus, penso que eu mesmo não poderia ter feito muito – quase nada – para que fossem diferentes. Tudo é questão de momento. Tudo passa, tudo passará.

Que 2012 venha com tudo. Ótimo Ano Novo a todos.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Memória: O Lado Oculto (Parte I)

O sono não vem
A varanda é minha única opção
Um cigarro é meu único companheiro
O frio remete à melancolia em meus pensamentos
Em minha cadeira, me encolho sob o sereno
Aquela linda noite, o luar
Memórias emergem, um sorriso se abre
Bons tempos que não voltam
Personalidades que mudaram
Rostos que se desfiguraram
Logo, o sorriso se vai
Pois me lembro daquele rosto em especial
Um amor morto e enterrado
Incapaz de ressurreição
Talvez até mesmo dois, ou três
Mas nenhum presente, apenas passado
Então penso no quão ruim é estar sozinho
Nada anula tudo, tudo significa nada
Não estou mal, mas poderia estar melhor
Apenas preciso de alguém.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Dois


O blog Apenas Um Outro Nômade está completando 2 anos de existência hoje. Durante este período, aconteceram coisas boas e ruins que fizeram um grande bem ao meu crescimento pessoal. Boa parte das minhas alegrias e tristezas foi exposta de maneira econômica, porém compreensível aos que gastaram seu precioso tempo passando por aqui.

É verdade que nunca me dediquei tanto quanto poderia. Nunca fui de fazer atualizações constantes, pois sou a favor de ficar calado caso não tenha algo de relevante a dizer. Tudo o que já foi dito aqui reflete os diversos momentos pelos quais passei ao longo destes 730 dias.

Jamais me arrependi de algo que publiquei, pois não faço isso sem pensar nas conseqüências. O problema é que, quando estou irritado, é muito perigoso escrever. Isto é algo que estou evitando fazer desde Dezembro do ano passado. Ainda assim, nem tudo o que escrevo acaba sendo publicado – apenas o faço porque amo escrever, amo as palavras e amo a forma como todas elas se juntam, formando algo único e magnífico.

Este blog foi meu melhor amigo durante muito tempo e continua sendo muito importante em minha vida. Às vezes paro para ler o conteúdo datado de seu início, e me impressiono comigo mesmo, com o quanto a minha forma de enxergar as coisas mudou, pois embora dois anos passem rapidamente, é tempo suficiente para amadurecermos.

Provavelmente chegará o dia em que não precisarei mais deste blog, ou definitivamente não terei mais tempo para ele. Caso isso realmente aconteça, ele deixará de ser atualizado, mas continuará a existir, pois é uma parte de mim que quero poder revisitar sempre. Sim, a nostalgia também é minha grande amiga.

domingo, 13 de novembro de 2011

A Rock Opera

O texto a seguir não analisa as canções em si. Elas apenas estabelecem uma conexão com momentos da minha vida, como uma espécie de trilha sonora. Minha intenção era apenas escolher bandas clássicas do Rock – o que cresci ouvindo. A escolha destas canções não foi tarefa fácil.

Behind Blue Eyes
The Who
Who’s Next (1971)

O blue do título desta pequena obra-prima não remete à cor, e sim à tristeza. A letra se refere a um homem mal-compreendido e vazio que, apesar de parecer odiado por todos, encontra refúgio em outra pessoa.

Ninguém sabe como é ser... a ovelha negra. Julgado, criticado, acusado. Enfim, um mar infinito de adjetivos negativos. Quando eu tinha meus 16 anos de idade e vivia em Belo Horizonte, eu era o alvo de fofocas da família – tanto a de mãe quanto a de pai – e diziam até mesmo que eu usava drogas e era má influência àqueles ao meu redor.

Para começar, nunca fui usuário de substâncias ilícitas. Quem me conhece sabe que fumo cigarros (e que faço um grande esforço para parar com isso) e que curto tomar umas de vez em quando. E quem não gosta disso, porra? Não gostava muito de estudar naquela época, mas e daí? Isso nunca fez de mim uma pessoa inferior ou menos inteligente. A arte sempre me permitiu aprender, expressar meus sentimentos – sem a necessidade de apunhalar alguém pelas costas – e refletir sobre o que é o melhor para mim.

Aquele foi um momento difícil na minha vida. Realmente tive a impressão de que todos haviam virado as costas e que agora éramos apenas eu e eu mesmo. Agora que tudo passou, não sei dizer se o fizeram por bem, mas posso garantir com toda a certeza de que aquela não foi a forma correta de se fazer.

Goodbye Stranger
Supertramp
Breakfast In America (1979)

Goodbye Stranger é a síntese da promiscuidade masculina, do homem desimpedido que não sente a necessidade de ter uma companheira fixa, pois enxerga a situação como o fim de sua liberdade e juventude.

Para começar, tive um relacionamento sério durante sete anos. Quando este relacionamento acabou, senti que deveria aproveitar a vida ao máximo. E qual foi a solução que julguei ser correta? Fazer um bestial devastation! O resultado: era bom durante, mas, logo ao final, eu sentia o velho vazio novamente. Não era como quando eu tinha 17 anos. Ao menos fico feliz em saber que (quase) todas as garotas se tornaram minhas amigas depois disso.

O tempo foi passando e eu percebi que ficar na minha seria a melhor opção para me recuperar. Enfim, depois de um tempo eu percebi que ninguém é insubstituível e que há um mar de peixes por aí. Só tem um problema: se antes eu achava que os peixes só apodreciam depois de mortos, agora sei que a decomposição começa a ocorrer logo quando aprendem a nadar. Claro que há exceções, mas sereias de fato nunca existiram.

Ainda sigo solteiro e sem pressa de sair desse status. Afinal, não quero ser precipitado e acabar me estressando com a escolha que fiz. Dizem que sou bastante frio para relacionamentos, mas é justamente isso que me faz manter a cabeça no lugar e ter mais tempo para me dedicar às minhas obrigações e hobbies.

Wind Up
Jethro Tull
Aqualung (1971)

A faixa de encerramento do maior clássico do Jethro Tull retrata a tentativa de educação religiosa de um garoto rebelde por parte dos adultos ao seu redor, apenas para descobrirem que tal garoto não tem mais “salvação”.

Quando eu era pequeno, minha mãe me obrigava a ir à igreja com ela. Eu sempre me deitava naquele longo banco de madeira e dormia feito uma pedra. Para começar, quem realmente acredita em Deus não precisa ir à igreja, pois se Ele é Onipresente, irá lhe ouvir onde você estiver. O fato de eu ser obrigado a ir a estes encontros me fez criar certa raiva.

Detesto quando estou caminhando pelas ruas com meus fones de ouvido e alguém me aborda para oferecer a palavra de Deus. Por que estas pessoas não são felizes apenas por já terem uma crença, ao invés de tentarem arrastar mais e mais pessoas? “Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor”, dizia o sábio John Lennon. E que tal a insegurança da vida também? As pessoas depositam todas as suas crenças Nele, achando que assim terão um destino feliz, em vida ou morte.

Para mim, o poder está em nós mesmos, em nossas vontades e atitudes. Eu creio em mim, e isso basta. Mesmo assim, respeito quem não concorde comigo. Apenas gostaria que o respeito fosse mútuo e que ninguém mais me irritasse com tentativas de “conversão” inúteis que, na pior das hipóteses, me deixariam cego.

In My Life
The Beatles
Rubber Soul (1965)

As pessoas sempre acreditam que sabem tudo sobre elas mesmas. Não! Elas mudam com o tempo e por vezes só se dão conta quando alguém faz algum tipo de comentário. Eu pertenço a esse grupo.

Certa vez, comentei com meu pai que sempre sinto aquela nuvem de nostalgia sobre mim e ele me perguntou se eu não achava que sou muito novo para sentir essas coisas. Oras. Podemos sentir saudades do ontem, do minuto que se passou. Não precisamos estar velhos para lamentarmos por algo que não se repetirá, mas que será sempre lembrado com alegria. Isto, para mim, é o que a nostalgia representa.

Conheci muitas pessoas. Algumas estão mortas e outras estão vivendo. Não amei a todas, como John Lennon (ele novamente) o fez, mas guardo lembranças boas de cada uma delas. O melhor de tudo é reencontrar amigos após anos e perceber que eles mudaram, mas não com você. É saber que aquela consideração e respeito estarão ali, haja o que houver. A essência permanece a mesma.

O fato de eventualmente conhecermos aquela pessoa pela qual esperamos por toda a vida altera o que sentimos por quem já passou por nós? Pode ser. Quando finalmente percebi o quanto minha filha é importante para mim, o conceito que eu possuía sobre o amor mudou. Passei a me amar, o que possibilitou que eu a amasse mais também. Isto não significa que passei a gostar menos das outras pessoas – apenas que amo minha filha mais.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Exercício Cinematográfico: Parte III

Segunda-feira, 15 de Agosto. Os quatro membros da equipe de O Troco do Fiado se encontraram no pátio da faculdade e Sérgio pediu para que o Negão e eu viéssemos com o mesmo figurino do filme no dia seguinte para realizar uma sessão de fotos, pois aquelas feitas no dia das filmagens não eram suficientemente boas. Desde quando o filme ficou pronto, Sérgio manifestou a vontade de inscrevê-lo no Festival de Brasília. Enquanto eu achava que o trabalho era um bom exercício cinematográfico que deveria ser arquivado, ele acreditou que o material se tratava de um bom filme. Então, eu concordei em inscrevê-lo no festival. Mesmo assim, não tinha entendido o porquê de realizar aquela sessão de fotos passados cinco meses das filmagens.

No dia seguinte, realizamos a sessão simulando algumas das cenas-chave do filme. Para tal, foram utilizadas uma luz direta e uma câmera de alta definição emprestadas pelo nosso professor de Vídeo Digital, Sandro Alves. Terminada a sessão, Sérgio descarregou as fotos em seu notebook e as entregou também para o Cleiton para que ele pudesse trabalhar as imagens.

Até aquele momento, eu acreditava que tais fotos seriam apenas parte da avaliação de classificação de O Troco do Fiado para a mostra do Festival de Brasília. Então, na quarta-feira, Sérgio me confirmou que o filme já havia sido selecionado e que aguardava apenas a data certa da exibição do mesmo para poder fazer uma divulgação mais ampla. Lembro-me de ter ficado muito empolgado com a notícia. Um cartaz deveria ser produzido e Cleiton se encarregou disso, sendo que toda a equipe dividiu os gastos para a impressão.

Os dias foram se passando e a ansiedade aumentava cada vez mais. Quando a programação do festival finalmente saiu (não me lembro quando), os ânimos se esfriaram um pouco para todos, pois prevíamos que, como a exibição seria numa quarta-feira à tarde, poucas pessoas poderiam comparecer. Porém, logo percebemos que, para um começo, não poderíamos exigir muita coisa e que apenas pelo fato de nosso curta ter sido selecionado dentre outros já era uma grande vitória.

Finalmente, o dia 28 de Setembro havia chegado. Eu me encontrei com Sérgio e Cleiton na Rodoviária do Plano Piloto e nos dirigimos ao Museu Nacional, na Esplanada dos Ministérios. Ficamos ao lado de fora por um tempo, esperando por notícias do Glauco (lembrando que não havia sinal nos celulares do lado de dentro do lugar), que acabou não podendo comparecer. Quando anunciaram que a mostra iria começar, entramos. Alguns minutos depois, o apresentador foi chamando os diretores do filme, um a um, e Sérgio estava nervoso ao subir ao palco.

Felizmente, ele é um ótimo “ator” e soube disfarçar seu nervosismo com maestria. Ele inclusive me chamou para dividir o palco com ele, mas falar ao microfone diante de muitas pessoas, especialmente aquelas das quais não conheço, nunca foi meu forte. Depois que os diretores dos dez filmes a serem exibidos foram apresentados, a mostra finalmente começou. O Troco do Fiado seria o segundo.

Nosso filme era humilde se comparado à maioria dos outros presentes, especialmente por não possuir um grande primor técnico e narrativo, mas não fez feio. Quem estava lá aplaudiu ao final, e isto bastou para mim. Meu pai estava lá e eu não sabia. Encontrei-o próximo às escadas enquanto me dirigia ao banheiro. Ele me elogiou e parabenizou pelo filme. Foi a única pessoa dentre aquelas convidadas por mim a comparecer. De fato, eu realmente não esperava por ninguém devido ao horário, e fiquei realmente feliz ao vê-lo conferir meu trabalho.

Ao final da mostra, eu percebi que o ciclo de O Troco do Fiado havia se fechado. Não havia mais o que ser feito com o filme, o que achei ótimo. Afinal, o caminho agora está totalmente livre para que possamos nos dedicar a outros projetos. Mas isso só será possível em 2012, tendo em vista a escassez de tempo devido ao final do semestre na faculdade. Deixo aqui um grande MUITO OBRIGADO a todos aqueles que nos apoiaram nesta empreitada e aos meus amigos, colegas e parceiros de equipe Glauco Maciel, Cleiton Brito e, em especial, Sérgio Snowz, pela imensa dedicação prestada durante todo o processo de criação e exibição do curta e por acreditar verdadeiramente neste material.

Assista O Troco do Fiado clicando aqui.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O Troco do Fiado

Seguem as informações sobre a exibição de O Troco do Fiado:

44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Museu Nacional do Conjunto Cultural da República – Auditório 1
Setor Cultural Sul, lote 2
(61) 3325-5220

Quarta-feira, 28 de Setembro de 2011, às 15:00.

Mais detalhes sobre o filme aqui.

Eu sei que o horário é um tanto tenso para a maioria dos que têm obrigações. Logo, sei que poucos poderão comparecer. Para quem não puder estar presente, agradeço desde já pela força. Aos que irão, até breve!

sábado, 3 de setembro de 2011

Vicky: Part Two

Mais um aninho se completa, minha linda. Faz 6 anos desde que você chegou trazendo alegria e estampando sorrisos. Nasceu silenciosa e, mesmo sem enxergar, olhou diretamente para mim. Só faltou dizer “papai”.

Infelizmente não poderei passar este dia tão especial com você, mas saiba que a amo muito e que você jamais escapa dos meus pensamentos. Não a vejo há um mês, mas parece que foi há séculos. Sinto muita saudade e preciso de você cada vez mais. Amo você cada vez mais.

Quero apenas desejar-lhe o mesmo que adotei para o meu estilo de vida: que cada ano seja sempre melhor que o anterior. Você é algo incrível e único para mim. Sempre será.

Amor, meu grande amor, feliz aniversário!

Ass.: Papai

terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Verdadeiro Eu

Tem muita gente reclamando por aí dizendo que Agosto foi um mês horrível. Felizmente, para mim, sou obrigado a discordar. Muita coisa boa aconteceu. O semestre na faculdade não está sendo tão frustrante quanto foi o último. Ao menos parece que recuperei a capacidade de pensar que tinha no primeiro semestre do curso, extraindo tudo o que tenho a oferecer. Me sinto cada vez mais respeitado no trabalho, o lugar do qual – acreditem – mais gosto de estar ultimamente, além de ter sido promovido na semana passada. Descobri que o filme que escrevi e no qual atuei, O Troco do Fiado, será exibido no 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que acontecerá entre 26 de Setembro e 3 de Outubro do ano corrente. O filme ainda irá circular em algumas cidades satélites. Quando a programação for liberada, postarei aqui mais detalhes para quem estiver em Brasília e quiser conferir o filme na big screen. Após o Festival, irei escrever a terceira parte do Exercício Cinematográfico. Já estou trabalhando em um novo projeto, mais complexo, extenso e exigente que o anterior.

Até as coisas ruins que me aconteceram foram para o bem. Antes de receber a visita da Vicky (um momento de grande evolução como pessoa em toda a minha vida), estive com problemas com alguns de meus amigos mais próximos. Enquanto ela esteve aqui, todos pareciam estar bem uns com os outros. Mas esta é minha filha, capaz de trazer felicidade aonde quer que vá. Tanto é que, depois que ela foi embora, tudo voltou a desandar. Todos ouviram e falaram coisas dolorosas, mas acabamos deixando as diferenças (no meu caso, o orgulho) de lado e, a meu ver, a amizade se fortaleceu ainda mais. Até ganhei um “presente” no Dia dos Pais.

Tudo está indo tão bem que decidi cuidar mais de mim. Já estou fumando menos, me “exercitando”, sendo melhor com as pessoas, lendo diversos materiais e pensando até mesmo em deixar meu cabelo crescer novamente (apesar de minha careca já ter se tornado uma de minhas características mais marcantes). A trilha sonora do mês foi marcada pelo The Who, banda que sempre conheci de forma artificial e que só agora resolvi prestar mais atenção. O que posso dizer? Estava perdendo uma puta banda e a trinca Tommy (1969), Who’s Next (1971) e Quadrophenia (1973) está entre as melhores do Rock. Recomendo para todos.

Sinto falta de escrever crônicas. Normalmente as faço tendo filmes ou músicas como base para contar a minha história. Sugestões?

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Eu Hoje

Fez-se a luz em mim
O pé direito foi o primeiro a tocar o chão
Não sinto o vazio habitual e corrosivo
Devo estar no caminho certo

Sinto-me imbatível e inabalável
Ou seja, tudo o que não sou
Mas que este sentimento dure

Perdoe-me
A vida está boa demais para filosofar melancolias hoje

Apenas lamento por quem se atreva a ficar em meu caminho.

domingo, 24 de julho de 2011

Vicky: Part One

Eu tinha que passar por aqui e expressar o quão feliz estou. Minha filha chegou ontem de viagem. Antes disso, eu estava extremamente nervoso. Eu não imaginava como ela estaria comigo ao me ver após mais de 6 meses fisicamente afastados. Esta seria a primeira vez em que eu passaria um tempo com ela sem a presença de sua mãe. Estava duvidoso quanto ao conforto dela estando apenas comigo. Felizmente, toda a minha preocupação foi em vão.

Ela demorou a chegar. Estava viajando de carro com minha mãe e avó. Chegaram apenas às 23:00. A esta altura, eu já estava deitado na cama ouvindo um Pink Floyd para aliviar a ansiedade. Quando finalmente chegaram, Vicky veio correndo em minha direção e pulou em meu colo com uma cara de felicidade enorme ao me ver. Todo o nervosismo desapareceu naquele momento. Eu passei a ter a absoluta certeza de que o tempo que passaremos juntos será mais do que ótimo e que diminuirá o sentimento de solidão que anda me consumindo ultimamente.

Passamos o dia juntos. É tão bom poder cuidar dela sem ter que depender da ajuda de ninguém para tal. Dar-lhe banho, levá-la para sair, conversar, colocá-la na cama pra dormir. Tudo isto me fez sentir o melhor dos pais pela primeira vez. Hoje ouvi de um amigo que eu nunca fui tão pai quanto estou sendo agora.

Ainda passaremos alguns dias juntos e espero que cada um deles fortaleça ainda mais nossos laços. Eu precisava tanto vê-la que, ao acontecer, percebi que o que realmente preciso é mantê-la mais próxima a mim. Definitivamente não há expressão mais amável e verdadeira do que a de alguém que ajudamos a existir.

sábado, 9 de julho de 2011

Profundeza/A Arte da Insônia

Vejo sua sombra e um olhar doentio
Em um precipício descansa o monstro
Estava inquieto, buscando a carne
Cortando cada pedaço de um corpo vazio
A onda veio e levou tudo consigo
Mas este sentimento teima em continuar
É como uma maldição, meu pior pesadelo
Um gosto de sangue ao acordar
O monstro não quer morrer.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A Injeção

Alguém aí sabe qual é a cura para a preguiça ou se existe uma vacina para intensificar a força de vontade? Eu me pergunto sobre aonde já poderia ter chegado em minha vida caso eu fosse mais perseverante e não tivesse vivido em tantos lugares diferentes.

Ser um nômade tem suas vantagens. O conhecimento acumulado sobre pessoas, culturas e locais distintos criou uma bagagem que levarei comigo para sempre. Tudo contribuiu para uma experiência de vida única. Por outro lado, eu poderia estar melhor, profissionalmente falando. Gosto do meu emprego atual (e isso é raro), mas ele não condiz com o que almejo como profissão definitiva. Ser professor é algo fascinante, mas não nasci para isso.

Vejo por aí muitas pessoas talentosas – algumas delas mais velhas do que eu – que ainda não encontraram um rumo ou não deram o primeiro passo, e me pergunto o porquê disso. Não há ambição, querem apenas curtir o momento. Elas até têm razão em alguns aspectos. Afinal, é melhor não ter nada e ter tudo do que ter tudo e não ter nada. Porém, se a ambição existe, são conformistas – infelizes pela vida improdutiva que levam, mas que não fazem nada para mudar a situação.

Normalmente, estas pessoas jamais saíram de suas cidades natais. Então eu reflito mais uma vez. Talvez não haja diferença entre ser um nômade e alguém que tenha raízes fincadas no chão. O que importa é quão disposta a pessoa é a atingir seus objetivos mais extraordinários. Eu tenho tais objetivos, e busco saber sobre o que precisa ser feito para que eu chegue aonde quero.

E será que eu tenho o necessário para chegar aonde quero? Claro que sim! Sempre fui um sujeito pertencente à criação, embora tenha maus momentos assim como todo mundo. Mas cadê a minha injeção de ânimo? Preciso dela de tempos em tempos, quando sinto que ele está perdendo forças. Neste caso específico, atribuo o motivo ao péssimo semestre que tive na faculdade. Ainda assim, acredito que o próximo será melhor (acho que não tem como piorar).

Passei dois dias em Goiânia no último feriado. Nem preciso comentar o quanto me sinto bem por escapar da rotina da cidade em que vivo, não importando qual ela seja. A tendência é que eu me canse fácil e rapidamente de todos os lugares, mas, pela primeira vez, estou gostando de estar de volta à Brasília (talvez pela décima vez ou mais), o lugar mais próximo de um lar que já tive. Apenas não sei dizer se continuarei aqui após o fim de 2013, quando pretendo concluir minha Pós-Graduação. O legal de se trabalhar com Cinema é que ele pode – e deve – ser feito em qualquer canto do mundo, e nada é mais justo ao meu estilo de vida.

Enfim, eu tento não me preocupar com isso agora. Um passo de cada vez é o suficiente caso não se queira tropeçar, e já tropecei o suficiente para aprender como se faz, mas ainda preciso aprender a ser mais forte do que a preguiça que me impede de fazer até mesmo as coisas que amo. Acho que preciso de alguém ao meu lado para puxar minha orelha sempre que for preciso, pois sou muito melhor e mais produtivo quando estou sob pressão. Até lá, sigo questionando sobre aonde minha injeção possa estar.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Exercício Cinematográfico: Parte II

Terça-feira, 15 de Março. As filmagens não aconteceram no dia anterior por motivos dos quais já me esqueci. Acredito que nem todo o equipamento necessário para as filmagens estava disponível naquele dia. Felizmente, não era nada que pudesse comprometer as mesmas ou desanimar algum dos participantes. Glauco havia conseguido emprestado um cassetete com a frase “Eu sou o troco do fiado”, o que serviu de base para o futuro título do filme.

Encontrei-me com Glauco e Sérgio no pátio da faculdade por volta do horário marcado. Neste dia, Cleiton havia dito que se atrasaria um pouco. Então, para não perder tempo, Glauco decidiu que desceria ao estacionamento sozinho para gravar ruídos com seu boom (microfone de alta sensibilidade e captação) para serem mixados na edição. Apenas alguns minutos depois, ele retorna, afirmando que o dono do Santana branco estava lá. Glauco nos perguntou se seria uma boa idéia conversar com ele para, quem sabe, o mesmo nos autorizar a filmar perto de seu carro. Achamos interessante e Sérgio desceu com Glauco para falarem com o dono, que entendeu a proposta e autorizou sem problemas, ainda que verbalmente.

Sérgio voltou ao pátio sozinho para que Glauco pudesse gravar os ruídos. Pouco depois, ele também voltou e Cleiton chegou à faculdade. Com a equipe reunida, fizemos uma breve sessão de fotos (tosquíssimas, por sinal – uma delas foi melhorada por tratamento feito pelo Cleiton e pode ser conferida ao final do post) no pátio e rapidamente nos dirigimos ao estacionamento para dar início ao trabalho, primeiramente decidindo quais seriam os melhores enquadramentos e movimentos de câmera, levando em conta que toda a iluminação seria natural.

Não irei descrever a filmagem em si, pois estaria falando sobre o filme inteiro. Boa parte das cenas foi rodada em dois takes porque Cleiton e eu não somos atores e não nos concentramos apropriadamente no começo. Um take extra da cena final foi feito a pedido do Cleiton porque este reclamou que seus peitos balançaram muito enquanto estava correndo. (Negão, foi mal, mas não pude evitar. HAHAHA!)

Ao concluir as cenas, Cleiton precisou partir. Restava agora fazer a gravação da piada, então Sérgio, Glauco e eu fomos para o “estúdio” da faculdade. Tentamos ajustar e utilizar o “equipamento” de lá, mas acabamos optando pelo boom. A única fala do filme foi gravada lá, uma vez que a mesma era racista e deveria ser dita em alto e bom som. Então, decidimos que seria melhor dublá-la no estúdio para evitar possíveis problemas com as pessoas que passavam pelo estacionamento. A princípio, a narração da piada também seria feita por mim. Porém, depois de muitas tentativas, não consegui encontrar uma boa entonação de voz e Sérgio acabou fazendo-a do seu jeito, o que ficou ótimo. Para finalizar, Glauco se responsabilizou por encontrar outros sons necessários ao filme que não foram possíveis na gravação (como o ruído do vidro do carro se quebrando) e Sérgio prontificou-se a editar todo o material.

O que se seguiu foi uma seqüência de reuniões com Sérgio para chegarmos a um consenso absoluto sobre como ficaria o produto final, que levou mais de dois meses para ser concluído, considerando a dificuldade para montar as imagens (afinal, havia muito material bom), mixar o som e ainda encontrar os ruídos extras. O filme foi nomeado O Troco do Fiado e teve duas versões. A versão sugerida por Sérgio traz legendas explicativas sobre o destino dos personagens, além de censura na fala proferida pelo skinhead. A outra versão, sugerida por mim, é mais crua e não traz censura e explicações.

Agora que o filme está pronto, o próximo passo é decidir o que faremos com ele.



A equipe de O Troco do Fiado (2011):

Glauco Maciel: Som e Trilha Sonora
Sérgio Neves: Fotografia, Edição, Produção e Direção
Pedro “The Nomad”: Argumento, Atuação e Produção
Cleiton Brito: Atuação

terça-feira, 14 de junho de 2011

O Sereno da Madrugada

Um caminho de pedras
Um beco sem saída
A única certeza era a de que eu estava preso
Desnorteado pelos meus próprios instintos

Madrugada
Grande sereno nocivo sobre minha cabeça desnuda
O corpo diz:
“Apenas quero um abrigo para passar a noite”

Amanhã será um novo dia e encontrarei o caminho certo

Ou não

Passo a gostar da perdição, pois já não há quem possa me salvar.

sábado, 28 de maio de 2011

25

Por que tenho a sensação de que o tempo está passando rápido demais? Outro ano se passou em minha vida. Parece que foi ontem. Será que fiz tudo o que deveria ou será que foi mais um ano em branco, dos quais praticamente me esqueci de viver? Não sei, talvez tenha sido um meio-termo. Arrependimentos? Sempre terei. Seria hipócrita de minha parte dizer que só me arrependo das coisas que deixei de fazer. Às vezes, gostaria de ter uma máquina do tempo para consertar meus erros, mas pelo menos eu aprendo na maioria dos casos. Também aprendi, de forma complicada, que certas coisas aconteceram para que eu me tornasse mais forte e maduro para encarar o futuro com outros olhos e atitudes. Tive um ano melhor do que os últimos, mas sei que posso fazer muito mais, e farei. Afinal, prometi a mim mesmo há algum tempo que cada ano será melhor do que o anterior. Ao menos é bom saber que este projeto de vida começou dando certo.

Deixo aqui um grande abraço à minha família, meus amigos, colegas e a todas as pessoas que me visitam no blog, inclusive as quais não conheço pessoalmente. A relevância de vocês em mim é inestimável.

domingo, 22 de maio de 2011

The Crow (O Corvo - 1994)

A nostalgia é algo que sempre me intrigou e que faço questão de revisitar constantemente. Não vivo do passado, mas sempre volto a ele com um grande sorriso no rosto e, talvez, uma dose de melancolia também por saber que aquilo jamais voltará.

O ano era 1994 e eu estava assistindo a alguns trailers em uma VHS que havia alugado. Meu pai estava comigo quando o trailer de The Crow (O Corvo, daquele mesmo ano) foi exibido e me disse que o ator principal faleceu acidentalmente durante as filmagens do mesmo. Logo, minha mórbida curiosidade me fez alugá-lo. Ao assistir ao filme, fiquei bastante intrigado pela performance excelente do ator e resolvi buscar mais informações sobre ele. Tratava-se de Brandon Lee, filho da lenda das artes marciais Bruce Lee (algo do qual meu pai sabia, mas não havia mencionado).

Brandon Lee também começou sua carreira cinematográfica com filmes de luta. The Crow foi o primeiro (e obviamente único) que dependeu muito mais de sua interpretação do que de suas habilidades como lutador. Analisando o filme, fica claro que Lee teria tudo para seguir uma grande carreira no Cinema.

The Crow narra a história de Eric Draven (Lee), um músico de Rock N’ Roll que, assim como sua noiva Shelly (Sofia Shinas), foi assassinado na noite anterior ao seu casamento. Ressuscitado por um corvo, Draven regressa do mundo dos mortos após um ano para poder se vingar da trágica morte de sua amada e a dele própria. Para isso, é auxiliado pelo corvo e por lembranças do passado ao tocar em pessoas e objetos que fizeram parte daquele momento.

Escrito por David J. Schow e John Shirley e dirigido por Alex Proyas, o filme traz a cinematografia fantástica do polonês Dariusz Wolski, que transforma a cidade (não revelada no filme) onde a narrativa acontece em uma bela e mórbida paisagem gótica que provavelmente deixou Tim Burton orgulhoso. Aliada à música do neozelandês Graeme Revell, a fotografia nos apresenta momentos brilhantes, especialmente aqueles que mostram o corvo sobrevoando a cidade.

Os efeitos especiais de The Crow não são um primor para a tecnologia da época devido ao baixo orçamento do filme, mas combinam perfeitamente com a atmosfera gótica do mesmo. Graças a eles, o filme pôde ser completado sem a presença de Lee, que faleceu apenas uma semana antes do fim das filmagens. Para algumas cenas, um dublê de corpo foi usado e o rosto de Lee foi inserido digitalmente.

Editado por Dov Hoenig e M. Scott Smith, The Crow é o filme mais ágil dos quais já assisti. A montagem não perde tempo com sub-tramas artificiais e vai direto ao assunto, jamais permitindo que a projeção se torne cansativa. É importante lembrar que todas as cenas de Skull Cowboy (Michael Berryman), o guia de Draven ao mundo dos vivos, foram removidas da versão final para que o filme tivesse um tom mais realista.

Os personagens principais do filme são interessantes e bem explorados. Além de Draven, temos Albrecht (Ernie Hudson), o policial honesto decidido a investigar e capturar a gangue responsável pela morte de Draven e Shelly, a jovem e solitária Sarah (Rochelle Davis, em seu único papel em um filme), amiga do casal e filha da viciada Darla (Anna Levine), garçonete do bar freqüentado pela gangue de T-Bird (David Patrick Kelly), a responsável pelos assassinatos. Porém, o único vilão a ter desenvolvimento maior em tela é Top Dollar (Michael Wincott), o “poderoso chefão” da cidade, controlando tudo ao lado de sua meia-irmã, Myca (Bai Ling). É curioso notar que seu nome jamais é mencionado no filme.

Todas as cenas de The Crow são fantásticas, mas algumas são realmente icônicas, especialmente aquelas envolvendo diálogo entre dois dos três protagonistas do bem (Draven, Albrecht e Sarah aparecem juntos brevemente apenas uma vez em todo o filme). Há uma cena belíssima na qual Draven faz uma visita a Albrecht em seu apartamento, onde Draven toma ciência de fatos do crime que ele ainda desconhecia. Outro ótimo momento é quando Sarah e Albrecht, em uma barraca de lanches, questionam a possibilidade de uma pessoa retornar do mundo dos mortos. Por fim, o primeiro encontro de Draven com Sarah após sua ressurreição, no qual ele, a princípio, se preocupa em esconder seu rosto da garota apenas para, logo em seguida, indicar que possa estar “vivo”.

Mas não só de diálogos vivem as melhores cenas. A ação do filme é extremamente bem coreografada e montada. Temos uma bela luta no telhado de uma igreja, uma eletrizante perseguição de carros, uma matadora (perdoem-me o trocadilho) seqüência na qual Draven invade uma reunião e, também, aquela na qual ele segue o corvo pelo terraço dos prédios da cidade ao som de Nine Inch Nails.

E já que mencionei essa banda, sou obrigado a falar também das canções que compõem The Crow – embora algumas delas apareçam apenas no disco The Crow Soundtrack. Além da já citada música de Revell, o filme apresenta uma trilha sonora de Rock para todos os gostos com canções como Burn (The Cure), Big Empty (Stone Temple Pilots, lembram?), Slip Slide Melting (For Love Not Lisa), Darkness (Rage Against The Machine), Milktoast (Helmet), Snakedriver (The Jesus And Mary Chain) e It Can’t Rain All The Time (Jane Siberry, composta em parceria com Revell). Esta última me dá arrepios até hoje quando começa a tocar junto aos créditos finais. Duas bandas contribuíram com covers, sendo elas Pantera (The Badge, do Poison Idea) e Nine Inch Nails (Dead Souls, do Joy Division). Não vou dizer que gosto de todas as canções presentes, afinal algumas delas realmente não me apetecem, como a horrível After The Flesh (My Life With The Thrill Kill Kult), mas, no geral, todas têm a ver com o contexto e a atmosfera do filme.

The Crow é um daqueles filmes que marcaram minha infância e que, mesmo após tantos anos, não conseguem me fazer cansar de revisitá-los ocasionalmente. É uma pena, porém, que este sempre será marcado pela morte precoce de Brandon Lee, que tinha 28 anos de idade e um grande potencial para papéis mais dramáticos. Portanto, encerrarei este texto com uma citação do filme que faz uma amarga rima entre a vida real e a encenada.

“Se as pessoas que amamos são tiradas de nós, a forma de mantê-las vivas é nunca deixar de amá-las. Prédios queimam, pessoas morrem, mas o amor verdadeiro é para sempre.” – Sarah

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Inóspito

Por que finjo estar bem?
Não sou bem-vindo a este lugar
Todos me julgam estranho
Mas sou apenas um estrangeiro

Estou aqui por um único motivo
Precisava saber como era pessoalmente
Imagens imóveis são belas
Mas suas origens são o ápice

Os vislumbres da imensa paisagem
Subitamente tornam tudo muito claro
Cada distância percorrida com dificuldade
Foi compensada por este momento

Agora não sei quando regressarei
Levo comigo as belas lembranças no olhar
Apesar de hostil e remoto
Quisera poder ficar aqui para sempre

Mas não quero morrer
Não agora
E não mais.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Vazio

O que pode ser feito quando algo que gerava um grande prazer não anda satisfazendo? E não estou falando em sexo...

Sim, escrever não me faz bem há algum tempo. Perdi aquela sensação de “alma lavada” e o orgulho que eu sentia ao terminar de escrever um texto.

Preciso de novas aventuras e fontes de inspiração e, quem sabe, recuperar o fôlego que tive ao criar este blog, que atingiu a marca de 2000 visitas recentemente e que, como bem sabem, eu acreditava que jamais chegaria à metade disso.

Isto não significa que irei desaparecer. Apenas que, por enquanto, as atualizações continuarão escassas, como anda ocorrendo nos últimos meses.

Ainda há tanto o que expressar, mas não apenas com palavras. Está na hora de levar minhas duas verdadeiras paixões mais a sério.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Nômade

Ainda me lembro da última vez
Estávamos deitados juntos
Contemplando aquele exato momento
Perturbando os vizinhos ao lado

Sua pele estava tão macia, tão suave
Seu olhar me dizia exatamente o que eu queria saber
Os sussurros de sua boca me enlouqueciam
Traziam à tona o animal em mim

A escuridão entre quatro paredes
A música vinda do estéreo
Aliada ao som da chuva e seu corpo quente
Não havia como imaginar algo possivelmente melhor

O clímax, o suor, o cansaço, as juras
A canção final já havia tocado
A chuva havia cessado
As luzes se acenderam e seu corpo esfriou

Era chegada a hora de sua partida
Você não queria dizer “adeus”
Ao sair pela porta dos fundos, realmente não o disse
Mas foi embora sem olhar para trás.

domingo, 3 de abril de 2011

Stone Temple Pilots: No. 4

A primeira vez em que ouvi os Stone Temple Pilots foi em 1994, quando o filme The Crow (O Corvo) saiu junto com sua trilha sonora. Eu havia ficado embasbacado com a qualidade do filme e das canções que o compõem (ainda pretendo escrever sobre isto). A música dos STP em questão era a fantástica Big Empty, que sempre considerei a melhor a aparecer na trilha sonora de The Crow.

Entretanto, minha curiosidade para conhecer mais sobre os STP nunca emergiu, nem mesmo quando foi anunciado que Scott Weiland, o vocalista da banda, se juntaria aos ex-Guns N’ Roses (banda da qual sou fã desde 2001) Slash, Duff McKagan e Matt Sorum para fundar o Velvet Revolver, que, de acordo com os fãs de GN’R e STP, não fez justiça ao legado de nenhuma destas bandas.

Enfim, foi tudo uma questão do destino. Certo dia, em Novembro passado, estava fazendo um trabalho de faculdade na casa de uma colega, que havia saído para almoçar. Coloquei meu MP3 para funcionar e, quando ela regressou, estava tocando Big Empty. Ela perguntou se eu gostava dos STP e eu afirmei que conhecia apenas aquela canção. Então, rapidamente ela buscou em sua coleção o Core, primeiro trabalho da banda, para que eu pudesse conferir mais sobre a mesma. Minha atração pelo som pesado do álbum foi instantânea.

Poucos dias depois, resolvi conferir os demais trabalhos dos STP. Enquanto Core (1992) tentava seguir a linha de bandas do movimento Grunge, como Pearl Jam e Alice In Chains, foi com Purple (1994) que conseguiram encontrar sua identidade musical. O álbum, considerado a obra-prima dos STP, ainda mantinha a sonoridade de seu antecessor, mas desta vez trazia novos elementos alternativos que se tornariam uma peculiaridade da banda, culminando em Tiny Music... Songs From The Vatican Gift Shop (1996), agradando a poucos devido a sua desvirtuada direção musical, apresentando um som mais leve e comercial, bem diferente dos dois primeiros trabalhos.

Foi durante a turnê de Tiny Music que Scott Weiland teve maiores problemas com drogas e foi preso, fazendo com que a banda entrasse em hiato por tempo indeterminado. Passados os perrengues do vocalista, a banda se reúne e grava No. 4 (1999), o álbum mais cru, direto e agressivo da carreira dos STP. Felizmente, não caíram no clichê de expressarem tudo pelo que passaram através das letras das canções – aqui a raiva é descontada nos instrumentos e vocais distintos de Weiland.

(Aliás, distinção é algo que predomina em todos os álbuns dos STP – exceto em Core por motivos já mencionados – e em seus integrantes. O guitarrista Dean DeLeo, seu irmão e baixista Robert DeLeo e o baterista Eric Kretz, ao lado de Scott Weiland, são capazes de tocar praticamente qualquer tipo de Rock, como comprova a variada discografia da banda. É difícil acreditar que são os mesmos integrantes em todos os álbuns. Falar sobre as letras dos STP não é tarefa fácil, pois a maioria delas não faz muito sentido, como comprova um trecho de Creep, do álbum Core: “got no meaning, just a rhyme”. Portanto, cada pessoa pode ter a sua própria interpretação.)

Down, a canção de abertura de No. 4, é o exemplo perfeito do meu tipo de som preferido: lento e extremamente pesado, com baixa afinação dos instrumentos e distorção de guitarras na medida certa. Não há nada melhor do que todos estes elementos juntos para bater cabeça de forma mais apropriada, principalmente com um excelente solo de guitarra sobre uma base tão poderosa. Heaven & Hot Rods continua com a mesma proposta sonora da canção anterior, porém em ritmo mais acelerado e com um dos riffs mais intensos do Rock pesado. O som cru da bateria de Eric Kretz e o momento de grande inspiração nas seis cordas no qual Dean DeLeo se encontrava conferem ainda mais peso à faixa.

O grande destaque de Pruno é a pulsante linha de baixo de Robert DeLeo, que predomina em toda a faixa. Seu simples e agressivo refrão é um dos mais legais de No. 4. Church On Tuesday, apesar de conter sua parcela de peso, se mostra uma canção com maior apelo comercial e é, provavelmente, a que menos gosto no álbum. Isto é um bom sinal, visto que a faixa é muito boa. Temos, então, o hit Sour Girl, excelente balada acústica, de fácil acesso e conteúdo leve, perfeita até para os não-amantes do Rock, servindo como uma pausa no peso das canções anteriores e das que ainda estariam por vir.

No Way Out é a canção Nü Metal (estilo em alta na época) de No. 4. Isto poderia ser o suficiente para que eu criasse desgosto pela faixa, já que tal estilo nunca me agradou. Mas, quando feito por músicos talentosos, pode se revelar como algo mais que decente. É o que acontece aqui. No Way Out nos dá a impressão de que os Stone Temple Pilots tentavam concorrer diretamente com bandas como Korn, Deftones e demais derivados. Apenas espere por muito, muito peso, sobretudo nos refrãos da canção. Sex & Violence é uma porrada rápida e direta, enquanto Glide é uma balada “viajante”, linda e pesada que, de fato, me faz querer sair voando sem direção. Grande momento de No. 4.

I Got You é outra balada acústica nos mesmos moldes de Sour Girl, porém ainda melhor. Weiland chega a lembrar Kurt Cobain em seus vocais mais suaves. Aqui se encontra meu refrão preferido em No. 4, aquele que mais me faz ter prazer em ouvir e cantar. Recentemente, analisando a letra da canção com uma amiga, chegamos à conclusão de que a referência feita em I Got You é sobre o uso da heroína, tema sombrio abordado de forma tão aparentemente inofensiva. MC5 é mais uma porrada maravilhosa e certeira ao estilo de Sex & Violence e o último momento agressivo do álbum.

Agora temos Atlanta. A faixa que encerra No. 4 merece um parágrafo à parte. A terceira balada acústica do álbum em nada lembra as incomplexas Sour Girl e I Got You. Desta vez, o feeling surge em primeiro lugar com o auxílio de arranjos orquestrais e podemos conferir a melhor incorporação de Jim Morrison já realizada em toda a história do Rock. Esta poderia ter sido uma grande canção dos Doors. Weiland interpreta a faixa como se estivesse cantando em seu próprio funeral e a mesma possui, talvez, a letra menos metafórica e confusa do álbum: trata-se de uma “princesa mexicana” que se foi e as lembranças que ela deixou. Evidentemente, Atlanta é uma das canções mais belas dos STP. É, sem dúvida, a mais bela de No. 4.

(Scott Weiland novamente teve problemas com a justiça durante a turnê de divulgação de No. 4 e a mesma precisou ser cancelada. A banda ainda lançou, em 2001, Shangri-La Dee Da, o último trabalho dos STP antes de Weiland ir para o Velvet Revolver. Este álbum trazia um som muito mais diversificado, variando entre o Alternativo, o Psicodélico e o Pop com algumas faixas um pouco mais pesadas. Não vou falar sobre o álbum auto-intitulado lançado em 2010 após a reunião dos STP, pois o mesmo não traz nada do que era característico da banda em seus cinco primeiros trabalhos.)

Nunca houve um álbum que mudou minha vida, mas vários marcaram uma época dela. No. 4 é o do momento atual. Ele pode até não ser o melhor trabalho dos Stone Temple Pilots, mas sem dúvida é o que mais vicia. Aprecie no talo e sem moderação.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Exercício Cinematográfico: Parte I

Sexta-feira, 11 de Março. Estava conversando no MSN com Sérgio Snowz, amigo e colega do curso de Audiovisual. Estávamos com vários projetos de curtas em mente, mas nunca começávamos nenhum deles. Em certo momento, ele me mandou um link do Youtube referente ao chamado “Exercício Eisenstein”, que visa à prática de enquadramentos interessantes e uma breve trama por trás dos mesmos. Após assistir ao exercício, debatemos um pouco e ele disse que faríamos um do tipo na faculdade ainda no mesmo dia.

Até aí, tudo bem. Entretanto, uma coisa não saía da minha cabeça: o que iríamos filmar? Após refletir um tempo, decidi que deixaria esta questão para ser debatida com Sérgio quando nos reuníssemos na faculdade. Foi então que, durante o banho, eu tive uma idéia que renderia um bom exercício: um skinhead e um negro marcam um duelo em uma garagem, próximo ao carro do negro, que se atrasa bastante, fazendo com que o skinhead quebrasse seu carro. Lembrei-me também de uma piada racista que ouvi quando ainda era criança e que se encaixaria perfeitamente no contexto do filme como uma narração.

Para mim, mesmo sendo um péssimo ator, o papel de skinhead era perfeito: branco, careca, tatuado, de olhos verdes e uma forma peculiar de andar (graças ao meu problema de coluna). Racismo, o tema do filme, é algo sério e extremamente desagradável para mim (já expressei minha opinião no review que escrevi sobre American History X), mas na Arte não abordamos apenas temas descontraídos. Caso contrário, não haveria filmes brilhantes como Apocalypse Now, Crash, Midnight Cowboy e Cidade De Deus. Para o papel do negro, pensei em convidar nosso colega de Design Gráfico Cleiton “C Negão” Brito.

Logo após terminar de me arrumar, Sérgio me avisou que não poderia chegar mais cedo na faculdade, mas fui para lá no horário combinado mesmo assim, pois passar a tarde inteira em casa coçando é uma tortura. Encontrei-me com o Negão e expliquei para ele como seria o filme. Ele prontamente aceitou o convite. Algum tempo depois, Sérgio e Glauco “Floquinho” Maciel (o “audiomaster” da turma) chegaram e também foi explicada a eles a idéia do exercício. Felizmente, Glauco, que não estava nos planos porque sabíamos de sua escassez de tempo disponível, decidiu se responsabilizar por gravar todos os sons ambientes do filme, além de contribuir com uma breve trilha sonora.

Fomos, então, ao ambiente onde o filme seria rodado: o estacionamento do subsolo da faculdade. Chegando lá, vimos um belo Santana branco e decidimos que ele seria o “carro protagonista” perfeito. Ficamos perto dele fazendo um brainstorming e discutindo algumas coisas a serem filmadas, simulando pancadas no carro. Do nada, um homem sai do Fiesta estacionado próximo ao Santana, entra neste, liga-o e sai dirigindo, estacionando-o do outro lado. Todos ficaram embasbacados por não perceberem que alguma atividade acontecia no Fiesta, que incluía uma mulher. Professores safadinhos!

No mínimo, o dono do Santana achou que planejávamos roubá-lo, visto que ninguém do grupo parece “normal” (talvez apenas o Glauco). Depois de muito planejamento, decidimos que as filmagens aconteceriam na segunda-feira seguinte e que o novo “carro protagonista” seria escolhido de última hora para evitar mais imprevistos.

quarta-feira, 9 de março de 2011

O Fim do Infinito

Por falta de vontade para escrever algo novo, resolvi postar algo feito há algum tempo, exatamente no dia 11/10/2010. Não tinha pretensões de torná-lo público até então. “Co-escrito” por uma pessoa muito especial, embora cada vez mais distante.

Estava assistindo a um filme
Você parecia não fazer questão
E de fato não fazia, estava receosa
Nada estava bem há tanto tempo
Mas eu estava pronto
Havia a sobrecarga
Os ombros se pesavam com os corações
Eu nunca corri atrás, sempre contra
Durante muito, muito tempo foi assim
Eu nunca quis que fosse assim
E nunca fiz nada para que fosse diferente
O momento simplesmente não chegou
Eu não era feliz, agora sou
Você era feliz, agora não é
O passado é mais importante do que o presente
Já não sei mais o que sente
Não temos razão para mentir
O que foi bom ainda lhe comove
Mas isso já não é o suficiente para que fique bem
Anos não são dias, o tempo pesa
Mas ele pesa para todos nós
Nunca é tarde, mas certas mudanças são irreversíveis
O sentimento não é mais o mesmo
É como se estivesse faltando alguma coisa
Nós nos perdemos, e não sabemos quando isso aconteceu
Não sei por que permiti que isso acontecesse
Não tenho medo de perder o que não tem valor
Mas nunca tive tanto medo de perder algo como agora
Nos conhecíamos tão bem
Por que não cuidei de você?
É preciso saber quando um ciclo se fecha
Agora existimos apenas em fotografias, lembranças e amadurecimento
Não encontrarei alguém como você
Mas não mais irei te esperar
Não suportaria estar ao seu lado e não poder tocá-la
Obrigado por ter feito parte de mim
O amor seguirá em frente.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Navalhas Banguelas

A solidão não se perde no olhar penetrante de seus olhos
Carnívoro é o coração latejante da alma vagabunda
Que, de certa forma, atinge meu ser ligeiramente cansado
E rompe a raiz do mal, devorando o amanhecer de cada dia

Não há razão dentre as razões que circundam a presença
A carne fraca traz aquele sentimento de sentimento interrompido
Traz-te vertiginosa aos meus pensamentos mais cruéis
Infiéis, tragados por uma boca ensandecidamente ensangüentada

Unhas e dentes se partem ao atacar a mórbida híbrida relação
Contundentes se fazem sob o fio da navalha banguela
A Pátria pútrida cumprimenta a Mãe Terra pelo fértil solo
Tão cheio de detritos, de ameaças e de si próprio

Em todo este mar de flutuantes naufrágios encontra-se esta
Aquela, e mais algumas luzes de velas queimando-se sofridas
Pranteando desesperadas pelo fim da parafina suada
Pois sabem que o fogo arde em dor, não em prazer

Afinal, qual seria o desfecho apropriado para a História?
Apenas o fim.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Letra "A"

Mulher: beleza estonteante e singular
Faca amolada que corta cegamente
Mar raso de grandes profundidades
Transparência envolta em mistério

Faz-nos chorar e ser homens
Leva-nos ao céu e ao inferno
Induz-nos a sermos melhores
Extrai-nos a força para amar

Tão bela, a ponto de apaixonarmos apenas ao olhá-la
Sentir o bater de seu forte coração
O som mais belo, que faz-nos sentir em casa
E as sombras cederem lugar a mais brilhante luz

Seu sorriso, seu rosto, seu charme, seu cheiro, seu ser
Morrer em tais braços seria a grande honra do homem
Cada noite em sua companhia seria infinita
Embora não possamos viver para sempre

Mulher: anjo sedutor, inteligente e fatal
Pequena em suas proporções, gigante em seus atos
Insolúvel como um diamante, quente como um vulcão
Encantadora como a neve, devastadora como um furacão

Flecha falha que não erra
Força esgotável que não se rende
Doença benigna que não tem cura
Maravilha grandiosa que não se ofusca.

sábado, 29 de janeiro de 2011

O Tossir da Vaca

Estou em casa. O barulho da chuva torrencial assombra meus ouvidos. A escuridão avassala meus olhos. A umidade corta minha pele como apenas uma navalha o faria tão bem. O cheiro do seu corpo ainda habita minha cama e penetra em meus pensamentos. A solidão me enlouquece. Ainda possuo suas fotos, mas penso em queimá-las. Não posso mais olhar para elas e sorrir.

Cada momento, seja ele de felicidade ou angústia, tornou-me mais forte a ponto de conseguir partir um indivíduo ao meio apenas com o poder de minha mente. Morrerá, a meu ver. Não sentirei falta alguma. E por que deveria, afinal?

Qual é mesmo o nome daquela canção que cantávamos juntos? Juro não me recordar. Mas, pensando bem, talvez assim seja melhor. Não quero mais me lembrar de outrora e perceber que tudo mudou. Não estou aberto a mudanças, mas não quero viver de passado. Contraditório, eu sei.

Mesmo?

Pois minhas atitudes me guiaram a outros extremos, aonde lugar algum existe e o céu se traduz em um imenso buraco negro sugador de almas mortas, como as nossas.

Não quero virar a página. Portanto, irei reescrevê-la da minha própria forma.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Abismo Mental

Retalhos do passado ainda consomem sua mente
Não há nada com o que ocupá-la
Sua vida não é interessante
Ninguém te ama, pois não faz questão
Beba o veneno, afinal ninguém morrerá por você
Ninguém liga para suas palavras
Todos sentem pena de sua mediocridade
Enterre o que passou
Caso não tenha coragem de enfrentar o que tanto odeia
Faça-me o favor e enterre seu próprio ser.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

As Abóboras Smagadas: Parte IV

No mesmo dia em que fui à Galeria do Rock, encontrei o Gish à venda por um preço absurdo, considerando que era importado. Não tive opção senão baixá-lo, e só o fiz quando já estava de volta a Brasília. Comprei o CD original muitos anos depois, quando morava em Boston.

GISH (1991)

O primeiro álbum dos Smashing Pumpkins é mais curto e direto. Sendo assim, I Am One inicia Gish sem perder tempo e descarrega um ótimo trabalho de guitarras após uma breve introdução de baixo e bateria. Percebe-se a intensa energia que a banda tinha em seu início de carreira, antes da fama. O Rock pesado de I Am One continua com Siva, embora esta apresente momentos mais calmos intercalados com outros muito mais agressivos. Temos, então, a maravilhosa Rhinoceros, uma balada cheia de feeling e um solo embasbacante. Fiquei impressionado com a qualidade da canção logo na primeira audição do álbum. Rhinoceros termina com efeitos estridentes de guitarra, que se encerram abruptamente, e logo outra porrada começa. Trata-se de Bury Me, que segue os passos das duas primeiras canções de Gish. Nesta já era evidente que os solos mais técnicos seriam uma constante no trabalho em questão. Crush é uma canção mais delicada e psicodélica e serve como pausa para as guitarras pesadas. O mesmo vale para Suffer e sua levada jazzística na bateria de Chamberlin. A música possui um curto, porém bonito, solo de flauta. Snail traz o bom e velho peso característico da banda novamente, ainda que seja uma balada. O último Rock N’ Roll direto do álbum é Tristessa e sua levada empolgante, enquanto Window Paine é mais uma balada de peso que tem momentos de pura raiva musical e, ao mesmo tempo, de uma clareza absoluta. Daydream é uma canção simples ao violão que apresenta os vocais de D’Arcy Wretzky. Esta foi a única vez em que a baixista assumiu os vocais principais de uma canção em um álbum dos Smashing Pumpkins. Daydream traz ainda arranjos de orquestra e dura apenas dois minutos. Alguns segundos depois, na mesma faixa, temos uma música psicodélica que mais se parece como uma brincadeira de estúdio. Trata-se da não-creditada I’m Going Crazy, que dura apenas um minuto e encerra Gish de forma bizarra.

Embora não seja uma obra-prima, Gish é um ótimo álbum e apresenta a proposta musical e lírica dos Smashing Pumpkins, além do potencial de Billy Corgan como compositor e de Jimmy Chamberlin como baterista. Siamese Dream foi sua evolução natural, assim como Mellon Collie And The Infinite Sadness foi a evolução de Siamese Dream.

Ao longo dos anos fui conhecendo muito mais sobre a banda, suas músicas e sua história. Há muito material excelente que não entrou em nenhum álbum de estúdio, mas pode ser conferido em lançamentos como as coletâneas de b-sides Pisces Iscariot e Judas O, a trilha sonora do documentário Vieuphoria (Earphoria) e o box set The Aeroplane Flies High (contendo os singles de Mellon Collie). Vale lembrar que a banda tentou lançar uma segunda parte de Machina pela Virgin, que recusou devido ao fracasso comercial do mesmo. A solução da banda foi prensar 25 cópias desta segunda parte em vinil e distribuir aos fãs para que estes pudessem disponibilizar as canções gratuitamente pela internet. Batizado de Machina II: The Friends & Enemies Of Modern Music, o álbum traz canções inéditas e versões alternativas de músicas do primeiro Machina.

Os Smashing Pumpkins possuem alguns dos videoclips mais legais dos quais já conferi. Temos a alegria do deserto de Today, a beleza visual de Disarm e Stand Inside Your Love, o saudosismo de Tonight, Tonight e 1979, a melancolia de Thirty-Three, a complexidade de Ava Adore e os efeitos visuais de The End Is The Beginning Is The End, para citar alguns. Todos podem ser conferidos no DVD Greatest Hits Video Collection, exceto o último citado, por ser de propriedade da Warner, já que a canção em questão foi escrita para a trilha sonora do “filme” Batman & Robin e que o videoclip contém imagens do mesmo. Sendo assim, The End Is The Beginning Is The End também ficou de fora da coletânea Rotten Apples: Greatest Hits, lançada simultaneamente ao DVD. A canção é encontrada apenas em seu próprio single e seu videoclip pode ser encontrado na versão de luxo do DVD de Batman & Robin.

Em 2007, os Smashing Pumpkins retornaram às atividades, porém apenas com Corgan e Chamberlin como membros oficiais, e lançaram o álbum Zeitgeist que, se não é excelente, ao menos é muito melhor do que Machina e traz o melhor desempenho de bateria da carreira de Chamberlin. Novas músicas foram lançadas de diversas formas desde então, como o EP American Gothic e o DVD If All Goes Wrong, além de diversos outros singles. Atualmente, a banda não conta mais com Chamberlin e Corgan está trabalhando em Teargarden By Kaleidyscope, álbum que contará com 44 músicas lançadas em 11 EPs. Cada uma delas está sendo liberada para download gratuito à medida que é gravada. Porém, a verdade é que a criatividade atual de Corgan é apenas uma sombra de sua genialidade encontrada nos lançamentos da década de 1990.

Caso eu tenha sido mais impessoal nas Partes III e IV desta série sobre os Smashing Pumpkins, o motivo é simples: após ouvir os álbuns Mellon Collie And The Infinite Sadness e Adore, a banda deixou de ser uma novidade para mim. Ainda assim, escutei os outros álbuns posteriormente pela primeira vez com a mesma empolgação (sobretudo Siamese Dream) e me mantenho até hoje como um grande admirador do trabalho antigo da banda. Em uma década onde houve muita música de qualidade, os Smashing Pumpkins ainda conseguiram se destacar, pois sua megalomania rendeu obras imortais do Rock.

Farewell and goodnight.

sábado, 22 de janeiro de 2011

As Abóboras Smagadas: Parte III

Não me lembro mais qual foi o terceiro álbum dos Smashing Pumpkins que ouvi. Creio que comprei Siamese Dream e Machina no mesmo dia, na Galeria do Rock em Belo Horizonte. Assim sendo, comentarei primeiro sobre o qual menos gostei. Na verdade, não gostei quase nada.

MACHINA: THE MACHINES OF GOD (2000)

A sonoridade de Adore havia me agradado. Porém, ao saber que o álbum seguinte, Machina: The Machines Of God, era uma espécie de volta ao som pesado e recheado de guitarras de outrora, além de Jimmy Chamberlin ter reassumido as baquetas, fiquei bastante empolgado para ouvi-lo. A primeira faixa, The Everlasting Gaze, é uma porrada. O timbre das guitarras é gravíssimo e a empolgação chega aos píncaros. Praticamente não havia nada disso no álbum anterior. Excelente faixa de abertura. Logo em Raindrops + Sunshowers, os elementos eletrônicos ressurgem com força e as guitarras já não têm tanto destaque. A canção é um tanto repetitiva, mas não chega a ser ruim. Stand Inside Your Love é uma balada excelente e seu refrão é um dos meus preferidos até hoje. Mal sabia eu que as (duas) músicas ótimas do álbum já haviam tocado. I Of The Mourning é uma canção um pouco mais alegre. Não apresenta nada demais, mas empolga. A eletrônica The Sacred And Profane me trouxe desgosto imediatamente. Não me lembro de isto ter acontecido anteriormente, nem mesmo ao ouvir a seqüência final de baladas de Mellon Collie. Try, Try, Try melhora um pouco as coisas com seu ritmo mais cadenciado e tema mais esperançoso, mas nada que seja fantástico. As guitarras graves voltam com Heavy Metal Machine, mas não se engane. Não há nada de Heavy Metal nesta canção além de seu riff principal. O grande problema da mesma é que ela não empolga como deveria e não sai do lugar-comum, mesmo sendo uma das melhores de Machina (o que não é tarefa difícil).

This Time é mais uma das inúmeras canções comerciais do trabalho que, ironicamente, foram as responsáveis por salvá-lo. The Imploding Voice traz uma produção porca demais para o meu gosto. A bateria da canção soa horrível, assim como a excessiva distorção das guitarras. Se antes tínhamos várias camadas de guitarras, aqui temos várias camadas de distorção, estragando o belo som que uma dosagem certa poderia prover. É difícil de acreditar como a banda (ou Billy Corgan) tenha optado por produzir a canção desta forma. Glass And The Ghost Children é o épico de Machina. Com 10 minutos de duração, a canção começa muito bem e seu refrão é muito bom. Porém, uma passagem experimental no meio da música faz com que a mesma perca força. Felizmente, sua segunda metade, bem diferente, faz jus à primeira. Boa surpresa no álbum. Wound traz as músicas repetitivas de volta. The Crying Tree Of Mercury é a mais cansativa delas, além de trazer metais repetindo o mesmo trecho durante toda a sua execução. With Every Light é bobinha e em nada acrescenta. Blue Skies Bring Tears também não sai do lugar. A animada Age Of Innocence ao menos consegue encerrar Machina de forma heróica, lembrando um pouco as canções mais inspiradas da primeira metade do álbum.

Machina: The Machines Of God me decepcionou. Muito. Me pergunto o que houve com a inspiração de Billy Corgan neste disco. Provavelmente, o histórico da época o atrapalhou, já que a banda estava cada vez mais desunida e Machina foi, de fato, planejado para ser o álbum final dos Smashing Pumpkins. D’Arcy saiu da banda imediatamente após concluir as gravações de suas linhas de baixo.

SIAMESE DREAM (1993)

Se não tenho a certeza absoluta de ter comprado Siamese Dream e Machina juntos, me lembro exatamente de quando comprei o primeiro em questão. Era uma tarde ensolarada e minha mãe (que estava na cidade a passeio) e eu estávamos caminhando pelo centro e passamos pela Galeria do Rock. Naturalmente, comecei a procurar por CDs dos Smashing Pumpkins. Não demorou muito até me deparar com Siamese Dream, o segundo álbum da banda, e seu baixo preço. Não pensei quatro vezes antes de comprá-lo.

Dá para se imaginar o que aconteceu a seguir: cheguei eufórico em casa e me dirigi ao estéreo do meu quarto. Ao som da faixa inicial, Cherub Rock, quase tive um orgasmo sonoro! Era como se uma mulher maravilhosa estivesse sussurrando sacanagens em meu ouvido. Cherub Rock é uma linda canção pesada e cadenciada com seu ótimo refrão e letra mais do que down. O riff principal da mesma é algo que grudou em minha cabeça naquele exato momento. O solo idem. Talvez seja a minha canção preferida da banda. Acho que não preciso dizer mais nada sobre ela. Quiet mantém a porrada em andamento com suas guitarras maravilhosamente em sintonia e a pegada típica de Chamberlin. Mais um excelente solo é encontrado nesta. Enfim, eu estava começando a crer que Siamese Dream poderia ser tão bom quanto Mellon Collie. Minha crença aumentou ainda mais com Today e sua levada mais calma, embora com algumas passagens mais guitarrísticas e tensas. Bela música para se ouvir em um dia ensolarado e com um caminho a ser trilhado. Temos em Hummer um início um tanto estranho, com loops de efeitos criados, acredito eu, em guitarra. O peso não demora a surgir e logo percebemos que se trata de uma canção mais cuidadosamente construída e cheia de passagens belíssimas em seus 7 minutos de duração. Rocket é uma música mais comum do que as anteriores, mas ainda assim mantém a qualidade – e o peso – do álbum em constância. Disarm deixa as guitarras de lado e se envereda em um maravilhoso instrumental comandado por um violão simples e arranjos orquestrados por um violoncelo. O que posso afirmar relacionado ao seu refrão é que o mesmo é um dos mais belos dos quais estes ouvidos já tiveram o prazer de apreciar. Notas e palavras nunca soaram tão belas juntas. Soma foi uma música que me pegou de surpresa quando a ouvi pela primeira vez. Sua primeira metade trazia uma balada bastante calma, com as guitarras apenas dando o clima necessário. Quando menos eu esperava, a canção se transformou em peso, e não era pouco. Tive um choque, no bom sentido, e lembrei-me de algumas baladas de Mellon Collie ao ouvir esta parte de Soma. A mesma apresenta outro solo excelente.

Geek U.S.A. e seu som pesado marcado por riffs certeiros garante outra porrada de qualidade em Siamese Dream. Uma passagem mais calma durante a música abre caminho para um solo visceral e um peso ainda maior, culminando ainda em uma passagem totalmente Heavy Metal em seu ato final. Como contraste, o que se segue é uma magnífica balada – pesada, diga-se passagem. Mayonaise já começa linda com um diálogo entre guitarras antes que as mesmas se transformassem em armas sonoras carregadas de pura raiva e sofrimento. Corgan e Iha haviam escrito sua melhor composição conjunta. Não há como negar que os Smashing Pumpkins eram mestres em criar baladas carregadas de sentimento, tanto lírica quanto musicalmente, e Corgan as interpretava com realismo. Mayonaise é simplesmente maravilhosa, além de ser outra de minhas preferidas da banda. Spaceboy é mais uma balada que se segue, porém mais delicada e ao vilão (como Disarm). Outra ótima faixa. O único porém de Siamese Dream encontra-se na longa Silverfuck. A música começa muito bem e mantém uma boa empolgação durante seus três minutos iniciais. Após isso, o que se segue é uma passagem calma e cansativa que consome quase metade da faixa, que seria muito melhor se fosse mais curta e direta. Ainda assim, Silverfuck é uma boa canção e não se destoa do resto do trabalho. Sweet Sweet traz belos momentos sonoros em apenas pouco mais de um minuto e meio, abrindo caminho para a igualmente bela Luna, balada que encerra Siamese Dream calmamente, contrastando com o peso encontrado comumente durante quase todo o álbum.

No fim, concluí que estava certo: Siamese Dream era tão bom quanto Mellon Collie. Poucas foram as vezes nas quais eu havia ficado tão satisfeito em comprar um CD que não conhecia anteriormente.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

As Abóboras Smagadas: Parte II

Twilight To Starlight

Ao fim de Dawn To Dusk, me senti uma pessoa melhor do que eu era. Eu já havia caído nas graças dos Smashing Pumpkins. Sem perder tempo, parti para a audição da segunda metade de Mellon Collie And The Infinite Sadness, Twilight To Starlight. A canção de abertura deste segundo disco é Where Boys Fear To Tread, com seu início bem desenvolvido nas guitarras e seu andamento arrastado e pesado. Ótima escolha para prosseguir o trabalho duplo da banda. Após um desfecho abrupto, Where Boys Fear To Tread dá lugar à Bodies, bem mais rápida e, mais uma vez, apresentando distorção na voz de Corgan, porém mais discretamente. Uma das músicas mais empolgantes do trabalho. Outra das 28 canções do álbum que chamaram minha atenção imediatamente foi a linda Thirty-Three, com seu instrumental delicado e melodia vocal excelentemente construída. Graças a esta canção, passei a gostar muito mais de baladas, visto que na época eu era muito radical e estava descobrindo o Heavy Metal. In The Arms Of Sleep mantém o tom belo e delicado de Thirty-Three e, embora eu já tenha escrito sobre ela quando este blog ainda engatinhava, devo dizer que minha forma de pensar não mudou. Apenas ouço-a atualmente com outros ouvidos por ter marcado um pedaço de minha trajetória. A música mais famosa de Mellon Collie se segue. 1979, grande clássico da banda, inicia-se com elementos eletrônicos e, mesmo não apresentando peso, se mostra uma canção bem agitada e nostálgica. Lembro-me de tê-la ouvido deitado em minha cama, com a luz apagada, enquanto olhava reflexivo para o teto. Tales Of A Scorched Earth é a canção mais brutal do disco, com guitarras ainda mais pesadas, mas que perde força devido ao estilo vocal de Corgan, que se encontra excessivamente distorcido aqui. Ao menos o instrumental é bem trabalhado. Falando nisso, não há canção que resuma melhor a complexidade da obra do que Thru The Eyes Of Ruby, uma balada de mais de 7 minutos que carrega aproximadamente 70 camadas de guitarra, tornando-se um digno épico guitarrístico em plena década de 1990. Uma das canções mais ricas, embora injustiçadas, dos Smashing Pumpkins.

Após a rica e complexa Thru The Eyes Of Ruby, a simplicidade volta com Stumbleine, que apresenta apenas voz e violão. Um belo momento de paz em meio a tantas guitarras, que voltam com tudo em X.Y.U., a terceira e última composição de Mellon Collie a ultrapassar os 7 minutos de duração. X.Y.U. é agressiva e alterna entre momentos lentos e rápidos. Os vocais de Corgan aqui estão desesperados na medida certa, dependendo bem menos de apenas distorção. O que se segue pelo resto de Mellon Collie é uma sucessão de baladas, algumas inspiradas e outras nem tanto, a começar pela vampiresca We Only Come Out At Night, passando pela variada Beautiful, a feliz Lily (My One And Only) e a atmosférica By Starlight. Estas quatro canções formam o único momento fraco de Mellon Collie, o que é irrelevante se considerarmos a grande quantidade de números fantásticos encontrados aqui. Para encerrar o álbum duplo, os Smashing Pumpkins se despedem (literalmente) com a linda Farewell And Goodnight, canção de ninar cantada pelos quatro integrantes, outro momento único na discografia da banda. A canção, escrita por Corgan e Iha, se encerra com ligeiras variações da introdução Mellon Collie And The Infinite Sadness ao piano. Seria impossível um desfecho mais apropriado.

Mellon Collie And The Infinite Sadness é, portanto, o álbum que me fez ficar apaixonado pelo som dos Smashing Pumpkins. Após a audição completa do mesmo, fui dormir, pois acordava diariamente às 5 da manhã para ir para a escola, quase do outro lado da cidade. No dia seguinte, empolgado estava eu para conferir os trabalhos em Adore. Ao chegar em casa, sem perder tempo, me dirigi rapidamente ao estéreo.

ADORE (1998)

Adore começa imediatamente com uma das músicas mais lindas das quais já ouvi. To Sheila é uma balada semi-acústica com bateria eletrônica, bridge e refrão lindos. O calmo violão da canção dá destaque maior à voz de Corgan. Lembro-me que, ao fim da música, meu pai, que estava na sala e havia declarado no dia anterior não gostar da banda, gritou: “De novo! Gostei dessa.”. Não teria como reclamar. Outra música fantástica se seguia. Ava Adore é bastante eletrônica e, desta vez, com as guitarras apenas realçando o fantástico instrumental. Aqui percebi que este álbum seria diferente de Mellon Collie, já que Jimmy Chamberlin estava ausente da banda na época, o que fez com que a mesma voltasse às suas origens com uma bateria eletrônica, embora o som tenha ficado bem mais leve do que era em 1988. Perfect mantém o nível das canções anteriores com um ritmo mais empolgante e acessível, enquanto Daphne Descends apresenta um excelente trabalho sonoro ao som de baixo, bateria eletrônica e guitarras mais altas em algumas passagens. Um dos diversos destaques do álbum. Once Upon A Time chega a lembrar algumas músicas mais calmas de Mellon Collie, felizmente com a mesma qualidade. Algum tempo depois descobri que esta canção foi feita em homenagem à mãe de Billy Corgan. Tear dá uma esfriada no álbum, ainda que seja uma boa composição, mas muito aquém das anteriores. O ótimo nível de Adore volta rapidamente com Crestfallen e sua linda introdução, mostrando-se outra ótima balada dentre inúmeras no álbum. A música mais eletrônica do trabalho é Appels + Oranjes, que poderia ser uma das melhores caso não fosse tão homogênea do início ao fim.

As guitarras distorcidas, ainda que em menor escala, voltam a surgir em Pug, uma das canções que mais me agradaram de imediato aqui. Corgan faz excelente uso de efeitos eletrônicos ao longo da canção. The Tale Of Dusty And Pistol Pete é um pedaço de “alegria” flutuando em um mar depressivo, o que a faz se destacar das demais. Porém, um álbum como Adore não daria espaço a alegria por muito tempo. Segue-se, então, Annie-Dog e sua base simples formada por piano, baixo e bateria (de verdade) e o vocal sonolento de Corgan combinando perfeitamente com a atmosfera da canção. Ao fundo, pode-se perceber uma guitarra jazzística tão discreta que é perceptível apenas com o auxílio de fones de ouvido. Shame segue o álbum com a tradicional atmosfera down na qual Billy Corgan é mestre em criar e, mais uma vez, ele o faz com maestria. E o que dizer sobre as três últimas canções de Adore? Putz! A começar por Behold! The Night Mare. É curioso olhar para o passado e perceber que esta canção levou um tempo para se tornar uma de minhas preferidas da banda. As melodias vocais de seu início (e que se repetem na parte final) e do refrão são absurdamente lindas e o discreto ritmo que marca a música é fantástico. Behold! The Night Mare é, possivelmente, minha música preferida de Adore. For Martha possui um lindo trabalho de piano e algumas variações bem legais em seus mais de 8 minutos de duração. Esta foi a segunda composição de Corgan no álbum dedicada à sua mãe, Martha, falecida pouco antes do início das gravações de Adore. À medida que a música se desenvolve, as guitarras aparecem em grande destaque em sua segunda metade. A canção se encerra com belas camadas de guitarra sobrepostas, criando uma bela harmonia. Se eu havia duvidado que ainda houvesse espaço para um encerramento melhor do que For Martha poderia ser, Blank Page eliminou todas as interrogações. Nunca havia ouvido tanto sofrimento extraído de um piano como nesta canção. Aqui, o instrumento tem, junto à voz, destaque total, acompanhado por alguns efeitos sonoros e sintetizadores. Ao ouvir a introdução da mesma, senti minha solidão aumentar, e isto só piorou quando acompanhei a letra da canção no encarte do CD. Blank Page é o ápice melancolicamente belíssimo de Adore. A enigmática faixa final, 17, consiste apenas de um trecho gravado em piano elétrico (ou até mesmo de brinquedo) e dura, não coincidentemente, 17 segundos. Ao fazer uma pesquisa, descobri que 17 era, na verdade, uma canção que ficou de fora do álbum. Um trecho de sua letra pode ser encontrado na contracapa do encarte de Adore.

Cheguei à conclusão de que Adore, mesmo não tendo me agradado tanto quanto Mellon Collie, é um álbum muito bom. De fato, demorou um tempo para que eu realmente passasse a gostar muito dele. Entendi, então, porque minha tia havia recomendado que eu ouvisse Mellon Collie primeiro. Se minha iniciação aos Smashing Pumpkins ocorresse com Adore, talvez eu não tivesse tanto interesse posterior à banda. Mas, felizmente, eu já estava ciente do enorme potencial criativo de Billy Corgan.