sábado, 29 de janeiro de 2011

O Tossir da Vaca

Estou em casa. O barulho da chuva torrencial assombra meus ouvidos. A escuridão avassala meus olhos. A umidade corta minha pele como apenas uma navalha o faria tão bem. O cheiro do seu corpo ainda habita minha cama e penetra em meus pensamentos. A solidão me enlouquece. Ainda possuo suas fotos, mas penso em queimá-las. Não posso mais olhar para elas e sorrir.

Cada momento, seja ele de felicidade ou angústia, tornou-me mais forte a ponto de conseguir partir um indivíduo ao meio apenas com o poder de minha mente. Morrerá, a meu ver. Não sentirei falta alguma. E por que deveria, afinal?

Qual é mesmo o nome daquela canção que cantávamos juntos? Juro não me recordar. Mas, pensando bem, talvez assim seja melhor. Não quero mais me lembrar de outrora e perceber que tudo mudou. Não estou aberto a mudanças, mas não quero viver de passado. Contraditório, eu sei.

Mesmo?

Pois minhas atitudes me guiaram a outros extremos, aonde lugar algum existe e o céu se traduz em um imenso buraco negro sugador de almas mortas, como as nossas.

Não quero virar a página. Portanto, irei reescrevê-la da minha própria forma.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Abismo Mental

Retalhos do passado ainda consomem sua mente
Não há nada com o que ocupá-la
Sua vida não é interessante
Ninguém te ama, pois não faz questão
Beba o veneno, afinal ninguém morrerá por você
Ninguém liga para suas palavras
Todos sentem pena de sua mediocridade
Enterre o que passou
Caso não tenha coragem de enfrentar o que tanto odeia
Faça-me o favor e enterre seu próprio ser.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

As Abóboras Smagadas: Parte IV

No mesmo dia em que fui à Galeria do Rock, encontrei o Gish à venda por um preço absurdo, considerando que era importado. Não tive opção senão baixá-lo, e só o fiz quando já estava de volta a Brasília. Comprei o CD original muitos anos depois, quando morava em Boston.

GISH (1991)

O primeiro álbum dos Smashing Pumpkins é mais curto e direto. Sendo assim, I Am One inicia Gish sem perder tempo e descarrega um ótimo trabalho de guitarras após uma breve introdução de baixo e bateria. Percebe-se a intensa energia que a banda tinha em seu início de carreira, antes da fama. O Rock pesado de I Am One continua com Siva, embora esta apresente momentos mais calmos intercalados com outros muito mais agressivos. Temos, então, a maravilhosa Rhinoceros, uma balada cheia de feeling e um solo embasbacante. Fiquei impressionado com a qualidade da canção logo na primeira audição do álbum. Rhinoceros termina com efeitos estridentes de guitarra, que se encerram abruptamente, e logo outra porrada começa. Trata-se de Bury Me, que segue os passos das duas primeiras canções de Gish. Nesta já era evidente que os solos mais técnicos seriam uma constante no trabalho em questão. Crush é uma canção mais delicada e psicodélica e serve como pausa para as guitarras pesadas. O mesmo vale para Suffer e sua levada jazzística na bateria de Chamberlin. A música possui um curto, porém bonito, solo de flauta. Snail traz o bom e velho peso característico da banda novamente, ainda que seja uma balada. O último Rock N’ Roll direto do álbum é Tristessa e sua levada empolgante, enquanto Window Paine é mais uma balada de peso que tem momentos de pura raiva musical e, ao mesmo tempo, de uma clareza absoluta. Daydream é uma canção simples ao violão que apresenta os vocais de D’Arcy Wretzky. Esta foi a única vez em que a baixista assumiu os vocais principais de uma canção em um álbum dos Smashing Pumpkins. Daydream traz ainda arranjos de orquestra e dura apenas dois minutos. Alguns segundos depois, na mesma faixa, temos uma música psicodélica que mais se parece como uma brincadeira de estúdio. Trata-se da não-creditada I’m Going Crazy, que dura apenas um minuto e encerra Gish de forma bizarra.

Embora não seja uma obra-prima, Gish é um ótimo álbum e apresenta a proposta musical e lírica dos Smashing Pumpkins, além do potencial de Billy Corgan como compositor e de Jimmy Chamberlin como baterista. Siamese Dream foi sua evolução natural, assim como Mellon Collie And The Infinite Sadness foi a evolução de Siamese Dream.

Ao longo dos anos fui conhecendo muito mais sobre a banda, suas músicas e sua história. Há muito material excelente que não entrou em nenhum álbum de estúdio, mas pode ser conferido em lançamentos como as coletâneas de b-sides Pisces Iscariot e Judas O, a trilha sonora do documentário Vieuphoria (Earphoria) e o box set The Aeroplane Flies High (contendo os singles de Mellon Collie). Vale lembrar que a banda tentou lançar uma segunda parte de Machina pela Virgin, que recusou devido ao fracasso comercial do mesmo. A solução da banda foi prensar 25 cópias desta segunda parte em vinil e distribuir aos fãs para que estes pudessem disponibilizar as canções gratuitamente pela internet. Batizado de Machina II: The Friends & Enemies Of Modern Music, o álbum traz canções inéditas e versões alternativas de músicas do primeiro Machina.

Os Smashing Pumpkins possuem alguns dos videoclips mais legais dos quais já conferi. Temos a alegria do deserto de Today, a beleza visual de Disarm e Stand Inside Your Love, o saudosismo de Tonight, Tonight e 1979, a melancolia de Thirty-Three, a complexidade de Ava Adore e os efeitos visuais de The End Is The Beginning Is The End, para citar alguns. Todos podem ser conferidos no DVD Greatest Hits Video Collection, exceto o último citado, por ser de propriedade da Warner, já que a canção em questão foi escrita para a trilha sonora do “filme” Batman & Robin e que o videoclip contém imagens do mesmo. Sendo assim, The End Is The Beginning Is The End também ficou de fora da coletânea Rotten Apples: Greatest Hits, lançada simultaneamente ao DVD. A canção é encontrada apenas em seu próprio single e seu videoclip pode ser encontrado na versão de luxo do DVD de Batman & Robin.

Em 2007, os Smashing Pumpkins retornaram às atividades, porém apenas com Corgan e Chamberlin como membros oficiais, e lançaram o álbum Zeitgeist que, se não é excelente, ao menos é muito melhor do que Machina e traz o melhor desempenho de bateria da carreira de Chamberlin. Novas músicas foram lançadas de diversas formas desde então, como o EP American Gothic e o DVD If All Goes Wrong, além de diversos outros singles. Atualmente, a banda não conta mais com Chamberlin e Corgan está trabalhando em Teargarden By Kaleidyscope, álbum que contará com 44 músicas lançadas em 11 EPs. Cada uma delas está sendo liberada para download gratuito à medida que é gravada. Porém, a verdade é que a criatividade atual de Corgan é apenas uma sombra de sua genialidade encontrada nos lançamentos da década de 1990.

Caso eu tenha sido mais impessoal nas Partes III e IV desta série sobre os Smashing Pumpkins, o motivo é simples: após ouvir os álbuns Mellon Collie And The Infinite Sadness e Adore, a banda deixou de ser uma novidade para mim. Ainda assim, escutei os outros álbuns posteriormente pela primeira vez com a mesma empolgação (sobretudo Siamese Dream) e me mantenho até hoje como um grande admirador do trabalho antigo da banda. Em uma década onde houve muita música de qualidade, os Smashing Pumpkins ainda conseguiram se destacar, pois sua megalomania rendeu obras imortais do Rock.

Farewell and goodnight.

sábado, 22 de janeiro de 2011

As Abóboras Smagadas: Parte III

Não me lembro mais qual foi o terceiro álbum dos Smashing Pumpkins que ouvi. Creio que comprei Siamese Dream e Machina no mesmo dia, na Galeria do Rock em Belo Horizonte. Assim sendo, comentarei primeiro sobre o qual menos gostei. Na verdade, não gostei quase nada.

MACHINA: THE MACHINES OF GOD (2000)

A sonoridade de Adore havia me agradado. Porém, ao saber que o álbum seguinte, Machina: The Machines Of God, era uma espécie de volta ao som pesado e recheado de guitarras de outrora, além de Jimmy Chamberlin ter reassumido as baquetas, fiquei bastante empolgado para ouvi-lo. A primeira faixa, The Everlasting Gaze, é uma porrada. O timbre das guitarras é gravíssimo e a empolgação chega aos píncaros. Praticamente não havia nada disso no álbum anterior. Excelente faixa de abertura. Logo em Raindrops + Sunshowers, os elementos eletrônicos ressurgem com força e as guitarras já não têm tanto destaque. A canção é um tanto repetitiva, mas não chega a ser ruim. Stand Inside Your Love é uma balada excelente e seu refrão é um dos meus preferidos até hoje. Mal sabia eu que as (duas) músicas ótimas do álbum já haviam tocado. I Of The Mourning é uma canção um pouco mais alegre. Não apresenta nada demais, mas empolga. A eletrônica The Sacred And Profane me trouxe desgosto imediatamente. Não me lembro de isto ter acontecido anteriormente, nem mesmo ao ouvir a seqüência final de baladas de Mellon Collie. Try, Try, Try melhora um pouco as coisas com seu ritmo mais cadenciado e tema mais esperançoso, mas nada que seja fantástico. As guitarras graves voltam com Heavy Metal Machine, mas não se engane. Não há nada de Heavy Metal nesta canção além de seu riff principal. O grande problema da mesma é que ela não empolga como deveria e não sai do lugar-comum, mesmo sendo uma das melhores de Machina (o que não é tarefa difícil).

This Time é mais uma das inúmeras canções comerciais do trabalho que, ironicamente, foram as responsáveis por salvá-lo. The Imploding Voice traz uma produção porca demais para o meu gosto. A bateria da canção soa horrível, assim como a excessiva distorção das guitarras. Se antes tínhamos várias camadas de guitarras, aqui temos várias camadas de distorção, estragando o belo som que uma dosagem certa poderia prover. É difícil de acreditar como a banda (ou Billy Corgan) tenha optado por produzir a canção desta forma. Glass And The Ghost Children é o épico de Machina. Com 10 minutos de duração, a canção começa muito bem e seu refrão é muito bom. Porém, uma passagem experimental no meio da música faz com que a mesma perca força. Felizmente, sua segunda metade, bem diferente, faz jus à primeira. Boa surpresa no álbum. Wound traz as músicas repetitivas de volta. The Crying Tree Of Mercury é a mais cansativa delas, além de trazer metais repetindo o mesmo trecho durante toda a sua execução. With Every Light é bobinha e em nada acrescenta. Blue Skies Bring Tears também não sai do lugar. A animada Age Of Innocence ao menos consegue encerrar Machina de forma heróica, lembrando um pouco as canções mais inspiradas da primeira metade do álbum.

Machina: The Machines Of God me decepcionou. Muito. Me pergunto o que houve com a inspiração de Billy Corgan neste disco. Provavelmente, o histórico da época o atrapalhou, já que a banda estava cada vez mais desunida e Machina foi, de fato, planejado para ser o álbum final dos Smashing Pumpkins. D’Arcy saiu da banda imediatamente após concluir as gravações de suas linhas de baixo.

SIAMESE DREAM (1993)

Se não tenho a certeza absoluta de ter comprado Siamese Dream e Machina juntos, me lembro exatamente de quando comprei o primeiro em questão. Era uma tarde ensolarada e minha mãe (que estava na cidade a passeio) e eu estávamos caminhando pelo centro e passamos pela Galeria do Rock. Naturalmente, comecei a procurar por CDs dos Smashing Pumpkins. Não demorou muito até me deparar com Siamese Dream, o segundo álbum da banda, e seu baixo preço. Não pensei quatro vezes antes de comprá-lo.

Dá para se imaginar o que aconteceu a seguir: cheguei eufórico em casa e me dirigi ao estéreo do meu quarto. Ao som da faixa inicial, Cherub Rock, quase tive um orgasmo sonoro! Era como se uma mulher maravilhosa estivesse sussurrando sacanagens em meu ouvido. Cherub Rock é uma linda canção pesada e cadenciada com seu ótimo refrão e letra mais do que down. O riff principal da mesma é algo que grudou em minha cabeça naquele exato momento. O solo idem. Talvez seja a minha canção preferida da banda. Acho que não preciso dizer mais nada sobre ela. Quiet mantém a porrada em andamento com suas guitarras maravilhosamente em sintonia e a pegada típica de Chamberlin. Mais um excelente solo é encontrado nesta. Enfim, eu estava começando a crer que Siamese Dream poderia ser tão bom quanto Mellon Collie. Minha crença aumentou ainda mais com Today e sua levada mais calma, embora com algumas passagens mais guitarrísticas e tensas. Bela música para se ouvir em um dia ensolarado e com um caminho a ser trilhado. Temos em Hummer um início um tanto estranho, com loops de efeitos criados, acredito eu, em guitarra. O peso não demora a surgir e logo percebemos que se trata de uma canção mais cuidadosamente construída e cheia de passagens belíssimas em seus 7 minutos de duração. Rocket é uma música mais comum do que as anteriores, mas ainda assim mantém a qualidade – e o peso – do álbum em constância. Disarm deixa as guitarras de lado e se envereda em um maravilhoso instrumental comandado por um violão simples e arranjos orquestrados por um violoncelo. O que posso afirmar relacionado ao seu refrão é que o mesmo é um dos mais belos dos quais estes ouvidos já tiveram o prazer de apreciar. Notas e palavras nunca soaram tão belas juntas. Soma foi uma música que me pegou de surpresa quando a ouvi pela primeira vez. Sua primeira metade trazia uma balada bastante calma, com as guitarras apenas dando o clima necessário. Quando menos eu esperava, a canção se transformou em peso, e não era pouco. Tive um choque, no bom sentido, e lembrei-me de algumas baladas de Mellon Collie ao ouvir esta parte de Soma. A mesma apresenta outro solo excelente.

Geek U.S.A. e seu som pesado marcado por riffs certeiros garante outra porrada de qualidade em Siamese Dream. Uma passagem mais calma durante a música abre caminho para um solo visceral e um peso ainda maior, culminando ainda em uma passagem totalmente Heavy Metal em seu ato final. Como contraste, o que se segue é uma magnífica balada – pesada, diga-se passagem. Mayonaise já começa linda com um diálogo entre guitarras antes que as mesmas se transformassem em armas sonoras carregadas de pura raiva e sofrimento. Corgan e Iha haviam escrito sua melhor composição conjunta. Não há como negar que os Smashing Pumpkins eram mestres em criar baladas carregadas de sentimento, tanto lírica quanto musicalmente, e Corgan as interpretava com realismo. Mayonaise é simplesmente maravilhosa, além de ser outra de minhas preferidas da banda. Spaceboy é mais uma balada que se segue, porém mais delicada e ao vilão (como Disarm). Outra ótima faixa. O único porém de Siamese Dream encontra-se na longa Silverfuck. A música começa muito bem e mantém uma boa empolgação durante seus três minutos iniciais. Após isso, o que se segue é uma passagem calma e cansativa que consome quase metade da faixa, que seria muito melhor se fosse mais curta e direta. Ainda assim, Silverfuck é uma boa canção e não se destoa do resto do trabalho. Sweet Sweet traz belos momentos sonoros em apenas pouco mais de um minuto e meio, abrindo caminho para a igualmente bela Luna, balada que encerra Siamese Dream calmamente, contrastando com o peso encontrado comumente durante quase todo o álbum.

No fim, concluí que estava certo: Siamese Dream era tão bom quanto Mellon Collie. Poucas foram as vezes nas quais eu havia ficado tão satisfeito em comprar um CD que não conhecia anteriormente.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

As Abóboras Smagadas: Parte II

Twilight To Starlight

Ao fim de Dawn To Dusk, me senti uma pessoa melhor do que eu era. Eu já havia caído nas graças dos Smashing Pumpkins. Sem perder tempo, parti para a audição da segunda metade de Mellon Collie And The Infinite Sadness, Twilight To Starlight. A canção de abertura deste segundo disco é Where Boys Fear To Tread, com seu início bem desenvolvido nas guitarras e seu andamento arrastado e pesado. Ótima escolha para prosseguir o trabalho duplo da banda. Após um desfecho abrupto, Where Boys Fear To Tread dá lugar à Bodies, bem mais rápida e, mais uma vez, apresentando distorção na voz de Corgan, porém mais discretamente. Uma das músicas mais empolgantes do trabalho. Outra das 28 canções do álbum que chamaram minha atenção imediatamente foi a linda Thirty-Three, com seu instrumental delicado e melodia vocal excelentemente construída. Graças a esta canção, passei a gostar muito mais de baladas, visto que na época eu era muito radical e estava descobrindo o Heavy Metal. In The Arms Of Sleep mantém o tom belo e delicado de Thirty-Three e, embora eu já tenha escrito sobre ela quando este blog ainda engatinhava, devo dizer que minha forma de pensar não mudou. Apenas ouço-a atualmente com outros ouvidos por ter marcado um pedaço de minha trajetória. A música mais famosa de Mellon Collie se segue. 1979, grande clássico da banda, inicia-se com elementos eletrônicos e, mesmo não apresentando peso, se mostra uma canção bem agitada e nostálgica. Lembro-me de tê-la ouvido deitado em minha cama, com a luz apagada, enquanto olhava reflexivo para o teto. Tales Of A Scorched Earth é a canção mais brutal do disco, com guitarras ainda mais pesadas, mas que perde força devido ao estilo vocal de Corgan, que se encontra excessivamente distorcido aqui. Ao menos o instrumental é bem trabalhado. Falando nisso, não há canção que resuma melhor a complexidade da obra do que Thru The Eyes Of Ruby, uma balada de mais de 7 minutos que carrega aproximadamente 70 camadas de guitarra, tornando-se um digno épico guitarrístico em plena década de 1990. Uma das canções mais ricas, embora injustiçadas, dos Smashing Pumpkins.

Após a rica e complexa Thru The Eyes Of Ruby, a simplicidade volta com Stumbleine, que apresenta apenas voz e violão. Um belo momento de paz em meio a tantas guitarras, que voltam com tudo em X.Y.U., a terceira e última composição de Mellon Collie a ultrapassar os 7 minutos de duração. X.Y.U. é agressiva e alterna entre momentos lentos e rápidos. Os vocais de Corgan aqui estão desesperados na medida certa, dependendo bem menos de apenas distorção. O que se segue pelo resto de Mellon Collie é uma sucessão de baladas, algumas inspiradas e outras nem tanto, a começar pela vampiresca We Only Come Out At Night, passando pela variada Beautiful, a feliz Lily (My One And Only) e a atmosférica By Starlight. Estas quatro canções formam o único momento fraco de Mellon Collie, o que é irrelevante se considerarmos a grande quantidade de números fantásticos encontrados aqui. Para encerrar o álbum duplo, os Smashing Pumpkins se despedem (literalmente) com a linda Farewell And Goodnight, canção de ninar cantada pelos quatro integrantes, outro momento único na discografia da banda. A canção, escrita por Corgan e Iha, se encerra com ligeiras variações da introdução Mellon Collie And The Infinite Sadness ao piano. Seria impossível um desfecho mais apropriado.

Mellon Collie And The Infinite Sadness é, portanto, o álbum que me fez ficar apaixonado pelo som dos Smashing Pumpkins. Após a audição completa do mesmo, fui dormir, pois acordava diariamente às 5 da manhã para ir para a escola, quase do outro lado da cidade. No dia seguinte, empolgado estava eu para conferir os trabalhos em Adore. Ao chegar em casa, sem perder tempo, me dirigi rapidamente ao estéreo.

ADORE (1998)

Adore começa imediatamente com uma das músicas mais lindas das quais já ouvi. To Sheila é uma balada semi-acústica com bateria eletrônica, bridge e refrão lindos. O calmo violão da canção dá destaque maior à voz de Corgan. Lembro-me que, ao fim da música, meu pai, que estava na sala e havia declarado no dia anterior não gostar da banda, gritou: “De novo! Gostei dessa.”. Não teria como reclamar. Outra música fantástica se seguia. Ava Adore é bastante eletrônica e, desta vez, com as guitarras apenas realçando o fantástico instrumental. Aqui percebi que este álbum seria diferente de Mellon Collie, já que Jimmy Chamberlin estava ausente da banda na época, o que fez com que a mesma voltasse às suas origens com uma bateria eletrônica, embora o som tenha ficado bem mais leve do que era em 1988. Perfect mantém o nível das canções anteriores com um ritmo mais empolgante e acessível, enquanto Daphne Descends apresenta um excelente trabalho sonoro ao som de baixo, bateria eletrônica e guitarras mais altas em algumas passagens. Um dos diversos destaques do álbum. Once Upon A Time chega a lembrar algumas músicas mais calmas de Mellon Collie, felizmente com a mesma qualidade. Algum tempo depois descobri que esta canção foi feita em homenagem à mãe de Billy Corgan. Tear dá uma esfriada no álbum, ainda que seja uma boa composição, mas muito aquém das anteriores. O ótimo nível de Adore volta rapidamente com Crestfallen e sua linda introdução, mostrando-se outra ótima balada dentre inúmeras no álbum. A música mais eletrônica do trabalho é Appels + Oranjes, que poderia ser uma das melhores caso não fosse tão homogênea do início ao fim.

As guitarras distorcidas, ainda que em menor escala, voltam a surgir em Pug, uma das canções que mais me agradaram de imediato aqui. Corgan faz excelente uso de efeitos eletrônicos ao longo da canção. The Tale Of Dusty And Pistol Pete é um pedaço de “alegria” flutuando em um mar depressivo, o que a faz se destacar das demais. Porém, um álbum como Adore não daria espaço a alegria por muito tempo. Segue-se, então, Annie-Dog e sua base simples formada por piano, baixo e bateria (de verdade) e o vocal sonolento de Corgan combinando perfeitamente com a atmosfera da canção. Ao fundo, pode-se perceber uma guitarra jazzística tão discreta que é perceptível apenas com o auxílio de fones de ouvido. Shame segue o álbum com a tradicional atmosfera down na qual Billy Corgan é mestre em criar e, mais uma vez, ele o faz com maestria. E o que dizer sobre as três últimas canções de Adore? Putz! A começar por Behold! The Night Mare. É curioso olhar para o passado e perceber que esta canção levou um tempo para se tornar uma de minhas preferidas da banda. As melodias vocais de seu início (e que se repetem na parte final) e do refrão são absurdamente lindas e o discreto ritmo que marca a música é fantástico. Behold! The Night Mare é, possivelmente, minha música preferida de Adore. For Martha possui um lindo trabalho de piano e algumas variações bem legais em seus mais de 8 minutos de duração. Esta foi a segunda composição de Corgan no álbum dedicada à sua mãe, Martha, falecida pouco antes do início das gravações de Adore. À medida que a música se desenvolve, as guitarras aparecem em grande destaque em sua segunda metade. A canção se encerra com belas camadas de guitarra sobrepostas, criando uma bela harmonia. Se eu havia duvidado que ainda houvesse espaço para um encerramento melhor do que For Martha poderia ser, Blank Page eliminou todas as interrogações. Nunca havia ouvido tanto sofrimento extraído de um piano como nesta canção. Aqui, o instrumento tem, junto à voz, destaque total, acompanhado por alguns efeitos sonoros e sintetizadores. Ao ouvir a introdução da mesma, senti minha solidão aumentar, e isto só piorou quando acompanhei a letra da canção no encarte do CD. Blank Page é o ápice melancolicamente belíssimo de Adore. A enigmática faixa final, 17, consiste apenas de um trecho gravado em piano elétrico (ou até mesmo de brinquedo) e dura, não coincidentemente, 17 segundos. Ao fazer uma pesquisa, descobri que 17 era, na verdade, uma canção que ficou de fora do álbum. Um trecho de sua letra pode ser encontrado na contracapa do encarte de Adore.

Cheguei à conclusão de que Adore, mesmo não tendo me agradado tanto quanto Mellon Collie, é um álbum muito bom. De fato, demorou um tempo para que eu realmente passasse a gostar muito dele. Entendi, então, porque minha tia havia recomendado que eu ouvisse Mellon Collie primeiro. Se minha iniciação aos Smashing Pumpkins ocorresse com Adore, talvez eu não tivesse tanto interesse posterior à banda. Mas, felizmente, eu já estava ciente do enorme potencial criativo de Billy Corgan.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

As Abóboras Smagadas: Parte I

Atendendo aos discretos pedidos, decidi dedicar alguns posts exclusivamente aos Smashing Pumpkins. A banda foi fundada no ano de 1988 em Chicago quando o guitarrista e vocalista Billy Corgan conheceu o guitarrista James Iha. Logo começaram a compor juntos com o auxílio de uma bateria eletrônica. D’Arcy Wretzky conheceu Corgan pouco tempo depois e juntou-se a eles como baixista. Após uma apresentação, foram convidados pelo dono da casa de shows Cabaret Metro para tocarem com a condição de substituírem a bateria eletrônica por um baterista de verdade. Por indicação de um amigo de Corgan, Jimmy Chamberlin, baterista de Jazz desempregado, foi recrutado, solidificando a mais famosa e estável formação da banda, ainda em 1988.

Os Smashing Pumpkins são famosos por sua discografia bastante variada. Seus primeiros álbuns eram calcados em Rock Alternativo com um peso maior que o habitual. Após 1997, a tendência se tornou mais eletrônica, mesmo não abandonando a temática lírica melancólica, uma das características mais marcantes de Billy Corgan na época. Ao se redirecionar ao Rock pesado após diversas críticas e fracassos comerciais, a criatividade da banda e o mercado fonográfico já não eram mais os mesmos, fazendo com que os Smashing Pumpkins encerrassem suas atividades ao final de 2000.

Desta vez, optei por não fazer uma matéria gigantesca sobre a discografia da banda, tendo em vista que os Smashing Pumpkins possuem cerca de 500 músicas (entre versões definitivas, alternativas e demos) em seu catálogo, sendo, provavelmente, a banda que mais produziu canções na história da Música mundial e, para ser sincero, creio conhecer apenas 30% delas. Meu maior conhecimento sobre o catálogo dos Smashing Pumpkins é justamente o foco nos álbuns de estúdio, os quais comentarei não em ordem cronológica de lançamento, e sim na ordem na qual eu os conheci.

MELLON COLLIE AND THE INFINITE SADNESS (1995) Dawn To Dusk

Lembro-me perfeitamente da primeira vez em que ouvi a banda. Um dia, quando morava em Belo Horizonte, fui visitar uns parentes. Uma de minhas tias possuía cópias de Mellon Collie And The Infinite Sadness e Adore. Perguntei-a se a banda era boa (uma amiga já a tinha me recomendado) e ela respondeu positivamente. Pedi a ela que me emprestasse os CDs para uma detalhada apreciação e ela concordou com a condição de que eu ouvisse Mellon Collie primeiro. Ao chegar em casa, meu pai estava em meu quarto usando o computador. Mostrei a ele os CDs e perguntei-lhe se conhecia a banda. Ele afirmou que sim, porém negou gostar da mesma. Isto não diminuiu minha empolgação e fui logo inserindo o disco Dawn To Dusk no estéreo.

Quando a introdução Mellon Collie And The Infinite Sadness começou a tocar, logo prendi minha atenção pela beleza, simplicidade e melancolia (fatores comuns em todos os trabalhos da banda) da faixa instrumental. Tonight, Tonight surgiu em cena com seus arranjos belíssimos de orquestra e, quando a voz de Billy Corgan apareceu, lembrei-me prontamente de Mick Jagger. Acompanhando a letra da canção pelo encarte do CD, me apaixonei pela mesma instantaneamente. Tonight, Tonight falava de esperança em uma época em que eu me sentia completamente sozinho e perdido em mim mesmo (sim, eu era um típico adolescente). O peso brutal das guitarras de Jellybelly me deixou embasbacado. Não fazia idéia até então de quão pesados os Smashing Pumpkins poderiam ser. Nesta canção pode-se perceber a grande quantidade de camadas de guitarra que a banda usava no estúdio em seus maiores momentos de distorção. Zero continua com o peso do álbum, embora em ritmo mais cadenciado se comparada à canção anterior. Ao ouvir Here Is No Why, me dei conta de que estava apreciando um som diferente, de uma banda ambiciosa e amplamente criativa. Isto só se reforçou ainda mais pela fantástica Bullet With Butterfly Wings, com seu refrão marcante e raivoso. Nunca havia sentido tanto prazer ao som de guitarras distorcidas. Esta canção foi a minha preferida do álbum durante um bom tempo e ainda a considero uma das mais marcantes da carreira dos Smashing Pumpkins. Para quebrar a seqüência indefectível de porradas sonoras, a balada To Forgive manteve o nível de qualidade nas alturas enquanto deu um descanso aos meus ouvidos extasiados.

Um dos meus títulos de canções preferidos é Fuck You (An Ode To No-One) e, neste caso, ele faz jus a ela. Fuck You já começa tensa e culmina bruta. Foi nesta faixa que reparei as grandes habilidades de Jimmy Chamberlin na bateria, com suas inúmeras viradas e energia intensa. Um excelente baterista. Love traz sonoridades eletrônicas, efeitos diferentes nas guitarras e distorção na voz de Corgan e é uma canção interessante justamente por ser diferente das demais. Outra que surge diferente é Cupid De Locke, guiada por dedilhados na harpa. Esta faixa é ótima para se ouvir fumando um cigarro e olhando para as estrelas no meio da madrugada. Galapogos é uma das melhores baladas do álbum, com pitadas de peso em sua segunda metade. Muzzle é outra canção que chamou minha atenção imediatamente na primeira vez em que ouvi Mellon Collie. O instrumental e as melodias vocais fizeram com que eu repetisse a música para acompanhá-la com sua letra depressiva sobre perdas e danos. Outra das melhores do álbum e, talvez, a que mais marcou o confuso momento no qual eu passei em Belo Horizonte. Porcelina Of The Vast Oceans é o maior épico do álbum com seus mais de 9 minutos de duração, embora a canção só comece realmente após os dois minutos iniciais, onde há apenas uma base crescente. O resto se divide em partes cadenciadas suaves com outras mais pesadas e rápidas. O disco Dawn To Dusk encerra-se com Take Me Down, uma balada bem calma e interessante composta e cantada por James Iha. Momento único em um álbum dos Smashing Pumpkins.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Por Vir

2011 chegou. O que vem pela frente? Sinceramente, não estou com medo do futuro. Não mais. Este ano será o melhor. Finalmente consegui um trabalho, após quase 6 meses de busca, e ainda assim terei tempo para fazer muitas outras coisas, realizar minhas grandes ambições.

É hora de me desligar de certas pessoas que eu acreditava serem boas para mim. Também não preciso mais sentir aquela raiva dos urubus que sobrevoam a carcaça.

Tive um fim de ano excelente em companhia de duas das pessoas mais importantes na minha vida. Uma semana inteira se passou tão rápido que só percebi quando elas partiram. Durante esse tempo senti uma paz enorme e estava bem comigo mesmo. Na verdade, ainda melhor.

Percebi que o sentimento ainda é forte. No fim das contas, o que eu considerava perdido talvez não esteja realmente. Tudo pode voltar ao normal com o tempo e a vontade mútua. Afinal, quando se tem duas partes, nunca depende apenas de uma, e é incrível como existem pessoas que não enxergam isso.

No momento estou trabalhando no roteiro da adaptação cinematográfica do poema Um Novo Amanhecer, o qual escrevi em Maio de 2010. Ainda não há previsão de quando será filmado. Espero muito que seja ainda este mês. Reuniões serão feitas para se discutir a prioridade do projeto, o primeiro de muitos outros que surgirão. Idéias não faltam.

Preciso voltar a escrever sobre Música. Há tempos não recorro a essa nostalgia tão boa. Alguém gostaria de me indicar alguma banda nos comentários para que eu possa escrever sobre ela (caso seja uma que eu admire bastante, claro)?

Um novo ano se iniciou. Façamos valer à pena. Atinja seus objetivos, mas sem ter que depender de alguém para isso ou prejudicar alguém no processo. Estupidez cansa e, agora, os tempos são outros.