domingo, 22 de maio de 2011

The Crow (O Corvo - 1994)

A nostalgia é algo que sempre me intrigou e que faço questão de revisitar constantemente. Não vivo do passado, mas sempre volto a ele com um grande sorriso no rosto e, talvez, uma dose de melancolia também por saber que aquilo jamais voltará.

O ano era 1994 e eu estava assistindo a alguns trailers em uma VHS que havia alugado. Meu pai estava comigo quando o trailer de The Crow (O Corvo, daquele mesmo ano) foi exibido e me disse que o ator principal faleceu acidentalmente durante as filmagens do mesmo. Logo, minha mórbida curiosidade me fez alugá-lo. Ao assistir ao filme, fiquei bastante intrigado pela performance excelente do ator e resolvi buscar mais informações sobre ele. Tratava-se de Brandon Lee, filho da lenda das artes marciais Bruce Lee (algo do qual meu pai sabia, mas não havia mencionado).

Brandon Lee também começou sua carreira cinematográfica com filmes de luta. The Crow foi o primeiro (e obviamente único) que dependeu muito mais de sua interpretação do que de suas habilidades como lutador. Analisando o filme, fica claro que Lee teria tudo para seguir uma grande carreira no Cinema.

The Crow narra a história de Eric Draven (Lee), um músico de Rock N’ Roll que, assim como sua noiva Shelly (Sofia Shinas), foi assassinado na noite anterior ao seu casamento. Ressuscitado por um corvo, Draven regressa do mundo dos mortos após um ano para poder se vingar da trágica morte de sua amada e a dele própria. Para isso, é auxiliado pelo corvo e por lembranças do passado ao tocar em pessoas e objetos que fizeram parte daquele momento.

Escrito por David J. Schow e John Shirley e dirigido por Alex Proyas, o filme traz a cinematografia fantástica do polonês Dariusz Wolski, que transforma a cidade (não revelada no filme) onde a narrativa acontece em uma bela e mórbida paisagem gótica que provavelmente deixou Tim Burton orgulhoso. Aliada à música do neozelandês Graeme Revell, a fotografia nos apresenta momentos brilhantes, especialmente aqueles que mostram o corvo sobrevoando a cidade.

Os efeitos especiais de The Crow não são um primor para a tecnologia da época devido ao baixo orçamento do filme, mas combinam perfeitamente com a atmosfera gótica do mesmo. Graças a eles, o filme pôde ser completado sem a presença de Lee, que faleceu apenas uma semana antes do fim das filmagens. Para algumas cenas, um dublê de corpo foi usado e o rosto de Lee foi inserido digitalmente.

Editado por Dov Hoenig e M. Scott Smith, The Crow é o filme mais ágil dos quais já assisti. A montagem não perde tempo com sub-tramas artificiais e vai direto ao assunto, jamais permitindo que a projeção se torne cansativa. É importante lembrar que todas as cenas de Skull Cowboy (Michael Berryman), o guia de Draven ao mundo dos vivos, foram removidas da versão final para que o filme tivesse um tom mais realista.

Os personagens principais do filme são interessantes e bem explorados. Além de Draven, temos Albrecht (Ernie Hudson), o policial honesto decidido a investigar e capturar a gangue responsável pela morte de Draven e Shelly, a jovem e solitária Sarah (Rochelle Davis, em seu único papel em um filme), amiga do casal e filha da viciada Darla (Anna Levine), garçonete do bar freqüentado pela gangue de T-Bird (David Patrick Kelly), a responsável pelos assassinatos. Porém, o único vilão a ter desenvolvimento maior em tela é Top Dollar (Michael Wincott), o “poderoso chefão” da cidade, controlando tudo ao lado de sua meia-irmã, Myca (Bai Ling). É curioso notar que seu nome jamais é mencionado no filme.

Todas as cenas de The Crow são fantásticas, mas algumas são realmente icônicas, especialmente aquelas envolvendo diálogo entre dois dos três protagonistas do bem (Draven, Albrecht e Sarah aparecem juntos brevemente apenas uma vez em todo o filme). Há uma cena belíssima na qual Draven faz uma visita a Albrecht em seu apartamento, onde Draven toma ciência de fatos do crime que ele ainda desconhecia. Outro ótimo momento é quando Sarah e Albrecht, em uma barraca de lanches, questionam a possibilidade de uma pessoa retornar do mundo dos mortos. Por fim, o primeiro encontro de Draven com Sarah após sua ressurreição, no qual ele, a princípio, se preocupa em esconder seu rosto da garota apenas para, logo em seguida, indicar que possa estar “vivo”.

Mas não só de diálogos vivem as melhores cenas. A ação do filme é extremamente bem coreografada e montada. Temos uma bela luta no telhado de uma igreja, uma eletrizante perseguição de carros, uma matadora (perdoem-me o trocadilho) seqüência na qual Draven invade uma reunião e, também, aquela na qual ele segue o corvo pelo terraço dos prédios da cidade ao som de Nine Inch Nails.

E já que mencionei essa banda, sou obrigado a falar também das canções que compõem The Crow – embora algumas delas apareçam apenas no disco The Crow Soundtrack. Além da já citada música de Revell, o filme apresenta uma trilha sonora de Rock para todos os gostos com canções como Burn (The Cure), Big Empty (Stone Temple Pilots, lembram?), Slip Slide Melting (For Love Not Lisa), Darkness (Rage Against The Machine), Milktoast (Helmet), Snakedriver (The Jesus And Mary Chain) e It Can’t Rain All The Time (Jane Siberry, composta em parceria com Revell). Esta última me dá arrepios até hoje quando começa a tocar junto aos créditos finais. Duas bandas contribuíram com covers, sendo elas Pantera (The Badge, do Poison Idea) e Nine Inch Nails (Dead Souls, do Joy Division). Não vou dizer que gosto de todas as canções presentes, afinal algumas delas realmente não me apetecem, como a horrível After The Flesh (My Life With The Thrill Kill Kult), mas, no geral, todas têm a ver com o contexto e a atmosfera do filme.

The Crow é um daqueles filmes que marcaram minha infância e que, mesmo após tantos anos, não conseguem me fazer cansar de revisitá-los ocasionalmente. É uma pena, porém, que este sempre será marcado pela morte precoce de Brandon Lee, que tinha 28 anos de idade e um grande potencial para papéis mais dramáticos. Portanto, encerrarei este texto com uma citação do filme que faz uma amarga rima entre a vida real e a encenada.

“Se as pessoas que amamos são tiradas de nós, a forma de mantê-las vivas é nunca deixar de amá-las. Prédios queimam, pessoas morrem, mas o amor verdadeiro é para sempre.” – Sarah

3 comentários:

  1. Tenho tanta vontadeee d assistir dnovo. Esse filme me surpreendeu mesmo.

    A trilha sonora é linda dmais. Se encaixa mto bem ao filme.

    E só pra constar... acho q Tim Burton se roeu com um pouco d invejinha, iuhihuiuihuiuhiuh xD

    oh, bjoooooooooooooooooo ;***

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  2. Como sempre você dá um show em tudo que escreve heim Pedro!
    Amo esse filme, sempre vejo e depois de ler quero ver mais uma vez! hehe
    Beijos saudosos, Piu.

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  3. Uau. Estou lendo em pleno 2015... Nossa, como amo esse filme e como amo Brandon e Bruce Lee... tudo que está escrito está perfeito... até as informações sobre o Skull Cowboy... excelente post, cara. Parabéns. ♥

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