segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

As Abóboras Smagadas: Parte II

Twilight To Starlight

Ao fim de Dawn To Dusk, me senti uma pessoa melhor do que eu era. Eu já havia caído nas graças dos Smashing Pumpkins. Sem perder tempo, parti para a audição da segunda metade de Mellon Collie And The Infinite Sadness, Twilight To Starlight. A canção de abertura deste segundo disco é Where Boys Fear To Tread, com seu início bem desenvolvido nas guitarras e seu andamento arrastado e pesado. Ótima escolha para prosseguir o trabalho duplo da banda. Após um desfecho abrupto, Where Boys Fear To Tread dá lugar à Bodies, bem mais rápida e, mais uma vez, apresentando distorção na voz de Corgan, porém mais discretamente. Uma das músicas mais empolgantes do trabalho. Outra das 28 canções do álbum que chamaram minha atenção imediatamente foi a linda Thirty-Three, com seu instrumental delicado e melodia vocal excelentemente construída. Graças a esta canção, passei a gostar muito mais de baladas, visto que na época eu era muito radical e estava descobrindo o Heavy Metal. In The Arms Of Sleep mantém o tom belo e delicado de Thirty-Three e, embora eu já tenha escrito sobre ela quando este blog ainda engatinhava, devo dizer que minha forma de pensar não mudou. Apenas ouço-a atualmente com outros ouvidos por ter marcado um pedaço de minha trajetória. A música mais famosa de Mellon Collie se segue. 1979, grande clássico da banda, inicia-se com elementos eletrônicos e, mesmo não apresentando peso, se mostra uma canção bem agitada e nostálgica. Lembro-me de tê-la ouvido deitado em minha cama, com a luz apagada, enquanto olhava reflexivo para o teto. Tales Of A Scorched Earth é a canção mais brutal do disco, com guitarras ainda mais pesadas, mas que perde força devido ao estilo vocal de Corgan, que se encontra excessivamente distorcido aqui. Ao menos o instrumental é bem trabalhado. Falando nisso, não há canção que resuma melhor a complexidade da obra do que Thru The Eyes Of Ruby, uma balada de mais de 7 minutos que carrega aproximadamente 70 camadas de guitarra, tornando-se um digno épico guitarrístico em plena década de 1990. Uma das canções mais ricas, embora injustiçadas, dos Smashing Pumpkins.

Após a rica e complexa Thru The Eyes Of Ruby, a simplicidade volta com Stumbleine, que apresenta apenas voz e violão. Um belo momento de paz em meio a tantas guitarras, que voltam com tudo em X.Y.U., a terceira e última composição de Mellon Collie a ultrapassar os 7 minutos de duração. X.Y.U. é agressiva e alterna entre momentos lentos e rápidos. Os vocais de Corgan aqui estão desesperados na medida certa, dependendo bem menos de apenas distorção. O que se segue pelo resto de Mellon Collie é uma sucessão de baladas, algumas inspiradas e outras nem tanto, a começar pela vampiresca We Only Come Out At Night, passando pela variada Beautiful, a feliz Lily (My One And Only) e a atmosférica By Starlight. Estas quatro canções formam o único momento fraco de Mellon Collie, o que é irrelevante se considerarmos a grande quantidade de números fantásticos encontrados aqui. Para encerrar o álbum duplo, os Smashing Pumpkins se despedem (literalmente) com a linda Farewell And Goodnight, canção de ninar cantada pelos quatro integrantes, outro momento único na discografia da banda. A canção, escrita por Corgan e Iha, se encerra com ligeiras variações da introdução Mellon Collie And The Infinite Sadness ao piano. Seria impossível um desfecho mais apropriado.

Mellon Collie And The Infinite Sadness é, portanto, o álbum que me fez ficar apaixonado pelo som dos Smashing Pumpkins. Após a audição completa do mesmo, fui dormir, pois acordava diariamente às 5 da manhã para ir para a escola, quase do outro lado da cidade. No dia seguinte, empolgado estava eu para conferir os trabalhos em Adore. Ao chegar em casa, sem perder tempo, me dirigi rapidamente ao estéreo.

ADORE (1998)

Adore começa imediatamente com uma das músicas mais lindas das quais já ouvi. To Sheila é uma balada semi-acústica com bateria eletrônica, bridge e refrão lindos. O calmo violão da canção dá destaque maior à voz de Corgan. Lembro-me que, ao fim da música, meu pai, que estava na sala e havia declarado no dia anterior não gostar da banda, gritou: “De novo! Gostei dessa.”. Não teria como reclamar. Outra música fantástica se seguia. Ava Adore é bastante eletrônica e, desta vez, com as guitarras apenas realçando o fantástico instrumental. Aqui percebi que este álbum seria diferente de Mellon Collie, já que Jimmy Chamberlin estava ausente da banda na época, o que fez com que a mesma voltasse às suas origens com uma bateria eletrônica, embora o som tenha ficado bem mais leve do que era em 1988. Perfect mantém o nível das canções anteriores com um ritmo mais empolgante e acessível, enquanto Daphne Descends apresenta um excelente trabalho sonoro ao som de baixo, bateria eletrônica e guitarras mais altas em algumas passagens. Um dos diversos destaques do álbum. Once Upon A Time chega a lembrar algumas músicas mais calmas de Mellon Collie, felizmente com a mesma qualidade. Algum tempo depois descobri que esta canção foi feita em homenagem à mãe de Billy Corgan. Tear dá uma esfriada no álbum, ainda que seja uma boa composição, mas muito aquém das anteriores. O ótimo nível de Adore volta rapidamente com Crestfallen e sua linda introdução, mostrando-se outra ótima balada dentre inúmeras no álbum. A música mais eletrônica do trabalho é Appels + Oranjes, que poderia ser uma das melhores caso não fosse tão homogênea do início ao fim.

As guitarras distorcidas, ainda que em menor escala, voltam a surgir em Pug, uma das canções que mais me agradaram de imediato aqui. Corgan faz excelente uso de efeitos eletrônicos ao longo da canção. The Tale Of Dusty And Pistol Pete é um pedaço de “alegria” flutuando em um mar depressivo, o que a faz se destacar das demais. Porém, um álbum como Adore não daria espaço a alegria por muito tempo. Segue-se, então, Annie-Dog e sua base simples formada por piano, baixo e bateria (de verdade) e o vocal sonolento de Corgan combinando perfeitamente com a atmosfera da canção. Ao fundo, pode-se perceber uma guitarra jazzística tão discreta que é perceptível apenas com o auxílio de fones de ouvido. Shame segue o álbum com a tradicional atmosfera down na qual Billy Corgan é mestre em criar e, mais uma vez, ele o faz com maestria. E o que dizer sobre as três últimas canções de Adore? Putz! A começar por Behold! The Night Mare. É curioso olhar para o passado e perceber que esta canção levou um tempo para se tornar uma de minhas preferidas da banda. As melodias vocais de seu início (e que se repetem na parte final) e do refrão são absurdamente lindas e o discreto ritmo que marca a música é fantástico. Behold! The Night Mare é, possivelmente, minha música preferida de Adore. For Martha possui um lindo trabalho de piano e algumas variações bem legais em seus mais de 8 minutos de duração. Esta foi a segunda composição de Corgan no álbum dedicada à sua mãe, Martha, falecida pouco antes do início das gravações de Adore. À medida que a música se desenvolve, as guitarras aparecem em grande destaque em sua segunda metade. A canção se encerra com belas camadas de guitarra sobrepostas, criando uma bela harmonia. Se eu havia duvidado que ainda houvesse espaço para um encerramento melhor do que For Martha poderia ser, Blank Page eliminou todas as interrogações. Nunca havia ouvido tanto sofrimento extraído de um piano como nesta canção. Aqui, o instrumento tem, junto à voz, destaque total, acompanhado por alguns efeitos sonoros e sintetizadores. Ao ouvir a introdução da mesma, senti minha solidão aumentar, e isto só piorou quando acompanhei a letra da canção no encarte do CD. Blank Page é o ápice melancolicamente belíssimo de Adore. A enigmática faixa final, 17, consiste apenas de um trecho gravado em piano elétrico (ou até mesmo de brinquedo) e dura, não coincidentemente, 17 segundos. Ao fazer uma pesquisa, descobri que 17 era, na verdade, uma canção que ficou de fora do álbum. Um trecho de sua letra pode ser encontrado na contracapa do encarte de Adore.

Cheguei à conclusão de que Adore, mesmo não tendo me agradado tanto quanto Mellon Collie, é um álbum muito bom. De fato, demorou um tempo para que eu realmente passasse a gostar muito dele. Entendi, então, porque minha tia havia recomendado que eu ouvisse Mellon Collie primeiro. Se minha iniciação aos Smashing Pumpkins ocorresse com Adore, talvez eu não tivesse tanto interesse posterior à banda. Mas, felizmente, eu já estava ciente do enorme potencial criativo de Billy Corgan.

4 comentários:

  1. Oie! Gostaria de um contato seu....tipo um email ou msn pra conversar mais sobre alguns posts...seria possivel? Valeu. Beijo

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  2. Pois não. Adoro trocar idéia com as pessoas. Meu e-mail/msn é:

    pedro.avp@hotmail.com

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  3. Ora sim, pois sim, como não. Supimpa.

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  4. Olá...Nossa como vc escreve bem....
    Seus posts são incríveis!!!
    Um abraço!!!! Cida

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