segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

As Abóboras Smagadas: Parte IV

No mesmo dia em que fui à Galeria do Rock, encontrei o Gish à venda por um preço absurdo, considerando que era importado. Não tive opção senão baixá-lo, e só o fiz quando já estava de volta a Brasília. Comprei o CD original muitos anos depois, quando morava em Boston.

GISH (1991)

O primeiro álbum dos Smashing Pumpkins é mais curto e direto. Sendo assim, I Am One inicia Gish sem perder tempo e descarrega um ótimo trabalho de guitarras após uma breve introdução de baixo e bateria. Percebe-se a intensa energia que a banda tinha em seu início de carreira, antes da fama. O Rock pesado de I Am One continua com Siva, embora esta apresente momentos mais calmos intercalados com outros muito mais agressivos. Temos, então, a maravilhosa Rhinoceros, uma balada cheia de feeling e um solo embasbacante. Fiquei impressionado com a qualidade da canção logo na primeira audição do álbum. Rhinoceros termina com efeitos estridentes de guitarra, que se encerram abruptamente, e logo outra porrada começa. Trata-se de Bury Me, que segue os passos das duas primeiras canções de Gish. Nesta já era evidente que os solos mais técnicos seriam uma constante no trabalho em questão. Crush é uma canção mais delicada e psicodélica e serve como pausa para as guitarras pesadas. O mesmo vale para Suffer e sua levada jazzística na bateria de Chamberlin. A música possui um curto, porém bonito, solo de flauta. Snail traz o bom e velho peso característico da banda novamente, ainda que seja uma balada. O último Rock N’ Roll direto do álbum é Tristessa e sua levada empolgante, enquanto Window Paine é mais uma balada de peso que tem momentos de pura raiva musical e, ao mesmo tempo, de uma clareza absoluta. Daydream é uma canção simples ao violão que apresenta os vocais de D’Arcy Wretzky. Esta foi a única vez em que a baixista assumiu os vocais principais de uma canção em um álbum dos Smashing Pumpkins. Daydream traz ainda arranjos de orquestra e dura apenas dois minutos. Alguns segundos depois, na mesma faixa, temos uma música psicodélica que mais se parece como uma brincadeira de estúdio. Trata-se da não-creditada I’m Going Crazy, que dura apenas um minuto e encerra Gish de forma bizarra.

Embora não seja uma obra-prima, Gish é um ótimo álbum e apresenta a proposta musical e lírica dos Smashing Pumpkins, além do potencial de Billy Corgan como compositor e de Jimmy Chamberlin como baterista. Siamese Dream foi sua evolução natural, assim como Mellon Collie And The Infinite Sadness foi a evolução de Siamese Dream.

Ao longo dos anos fui conhecendo muito mais sobre a banda, suas músicas e sua história. Há muito material excelente que não entrou em nenhum álbum de estúdio, mas pode ser conferido em lançamentos como as coletâneas de b-sides Pisces Iscariot e Judas O, a trilha sonora do documentário Vieuphoria (Earphoria) e o box set The Aeroplane Flies High (contendo os singles de Mellon Collie). Vale lembrar que a banda tentou lançar uma segunda parte de Machina pela Virgin, que recusou devido ao fracasso comercial do mesmo. A solução da banda foi prensar 25 cópias desta segunda parte em vinil e distribuir aos fãs para que estes pudessem disponibilizar as canções gratuitamente pela internet. Batizado de Machina II: The Friends & Enemies Of Modern Music, o álbum traz canções inéditas e versões alternativas de músicas do primeiro Machina.

Os Smashing Pumpkins possuem alguns dos videoclips mais legais dos quais já conferi. Temos a alegria do deserto de Today, a beleza visual de Disarm e Stand Inside Your Love, o saudosismo de Tonight, Tonight e 1979, a melancolia de Thirty-Three, a complexidade de Ava Adore e os efeitos visuais de The End Is The Beginning Is The End, para citar alguns. Todos podem ser conferidos no DVD Greatest Hits Video Collection, exceto o último citado, por ser de propriedade da Warner, já que a canção em questão foi escrita para a trilha sonora do “filme” Batman & Robin e que o videoclip contém imagens do mesmo. Sendo assim, The End Is The Beginning Is The End também ficou de fora da coletânea Rotten Apples: Greatest Hits, lançada simultaneamente ao DVD. A canção é encontrada apenas em seu próprio single e seu videoclip pode ser encontrado na versão de luxo do DVD de Batman & Robin.

Em 2007, os Smashing Pumpkins retornaram às atividades, porém apenas com Corgan e Chamberlin como membros oficiais, e lançaram o álbum Zeitgeist que, se não é excelente, ao menos é muito melhor do que Machina e traz o melhor desempenho de bateria da carreira de Chamberlin. Novas músicas foram lançadas de diversas formas desde então, como o EP American Gothic e o DVD If All Goes Wrong, além de diversos outros singles. Atualmente, a banda não conta mais com Chamberlin e Corgan está trabalhando em Teargarden By Kaleidyscope, álbum que contará com 44 músicas lançadas em 11 EPs. Cada uma delas está sendo liberada para download gratuito à medida que é gravada. Porém, a verdade é que a criatividade atual de Corgan é apenas uma sombra de sua genialidade encontrada nos lançamentos da década de 1990.

Caso eu tenha sido mais impessoal nas Partes III e IV desta série sobre os Smashing Pumpkins, o motivo é simples: após ouvir os álbuns Mellon Collie And The Infinite Sadness e Adore, a banda deixou de ser uma novidade para mim. Ainda assim, escutei os outros álbuns posteriormente pela primeira vez com a mesma empolgação (sobretudo Siamese Dream) e me mantenho até hoje como um grande admirador do trabalho antigo da banda. Em uma década onde houve muita música de qualidade, os Smashing Pumpkins ainda conseguiram se destacar, pois sua megalomania rendeu obras imortais do Rock.

Farewell and goodnight.

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