domingo, 25 de julho de 2010

Queen Hits

O Queen dos anos 70 foi uma banda impecável. Mesmo com álbuns bem diferentes entre si, devido às várias influências musicais distintas presentes em cada um deles, o conjunto da obra era único. Nos anos 80, o Queen decidiu manter esta tradição, e foi ainda mais longe: a frase “No Synthesisers!” não mais seria incluída no encarte de seus álbuns para evitar confusões com as complexas técnicas de gravação em estúdio que a banda utilizava (muitas pessoas achavam que alguns dos efeitos sonoros provocados pelas inúmeras camadas de voz e guitarra eram gerados por sintetizadores, o que obrigou a banda a inserir a frase em seus lançamentos). O Hard Rock antes praticado ficaria relegado ao segundo plano. Ainda assim, o Queen conseguiu apresentar trabalhos memoráveis durante esta época, que se estendeu até 1995, ano de lançamento do último álbum de estúdio da banda.

THE GAME (1980)
Logo de cara, somos apresentados a efeitos sonoros providos por um sintetizador. São os primeiros segundos de Play The Game, uma balada interessante que culmina em um ótimo momento pesado intercalado pelos efeitos sonoros. Após esta ótima faixa de abertura, temos a primeira influência Funk em The Game com Dragon Attack, uma música que não apresenta grandes variações, mas traz um momento bem divertido no álbum. Mesmo sendo de autoria de Brian May, as linhas do baixo de John Deacon fazem toda a diferença (assim como ocorreria em futuras canções com apelo mais Pop). O maior sucesso do álbum é justamente de sua autoria: Another One Bites The Dust, a grande responsável pela sonoridade que o Queen seguiria no álbum seguinte. A canção, no estilo da anterior, traz um inspirado riff de baixo acompanhado da bateria de Roger Taylor. A guitarra de May nesta canção aparece bem discreta. Uma das melhores canções de The Game. A primeira música realmente Pop Rock do álbum é a empolgante Need Your Loving Tonight, outra composição de Deacon, que chega a lembrar If You Can’t Beat Them. Crazy Little Thing Called Love é a homenagem de Freddie Mercury a Elvis Presley (May já o havia homenageado em Dreamer’s Ball), um Rockabilly típico dos anos 50 no qual o violão que dita o ritmo da canção foi gravado pelo próprio Mercury, que também canta de forma muito semelhante à de Presley. Outra canção divertida e favorita nos shows. Um dedilhado na guitarra acompanhado pelo baixo e pelos vocais de Mercury marca a introdução de Rock It (Prime Jive), composição Pop Rock de Taylor com um pouco mais de agressividade do que o normal em um álbum como The Game. Quando a música realmente começa, Taylor assume os vocais principais. É interessante reparar nas aparições bem discretas dos teclados durante a canção. O único ponto fraco de Rock It (Prime Jive) é justamente a introdução cantada por Mercury, pouco inspirada e que dura aproximadamente um minuto. Poderia perfeitamente ser deixada de lado na mixagem final. Don’t Try Suicide é uma canção que empolga apenas na passagem após o segundo refrão e no solo, os únicos momentos realmente interessantes da mesma. Sail Away Sweet Sister é uma balada escrita e cantada por May (exceto a ponte antecedendo o solo, cantada por Mercury) e apresenta um refrão marcante. Em certos momentos, chega a lembrar canções mais antigas da banda, como quando ouvimos um breve coral de vozes e algumas camadas diferentes de guitarra durante o solo. Poderia perfeitamente fazer parte de A Day At The Races. A segunda composição de Taylor em The Game é a pouco variada, porém empolgante, Coming Soon, com sua bateria sempre em destaque, ditando o ritmo da canção. O solo desta é um dos melhores momentos do álbum. O encerramento se dá com a fantástica Save Me, outra das baladas belíssimas e, ao mesmo tempo, agressivas de May, que executa o piano com perfeição. Sem dúvidas, o grande momento de The Game, álbum que, mesmo sendo levemente inferior aos anteriores, faz justiça à discografia quase impecável do Queen.

Ao final de 1980, a banda lança, no Reino Unido, Flash Gordon, trilha sonora do filme homônimo. O lançamento nos demais países ocorreu no início de 1981, mesmo ano em que é lançado o primeiro Greatest Hits (que foi, inclusive, o primeiro CD da banda que comprei e, portanto, onde minha paixão por Queen começou).

HOT SPACE (1982)
The Game foi um enorme sucesso nos Estados Unidos, assim como o single Another One Bites The Dust. Buscando manter o sucesso por lá, o Queen mergulhou de vez no universo Pop. O resultado disso foi Hot Space, o trabalho mais equivocado e deslocado de toda a carreira da banda. Há diversas influências Disco, Funk, Soul e Pop, principalmente em sua primeira metade, a começar por Staying Power, que traz riffs feitos por sintetizador, bateria eletrônica e até metais. Só faltou o James Brown. A este ponto, é difícil de acreditar que esta é a mesma banda responsável por clássicos do Rock N’ Roll mundial de outrora. A coisa melhora um pouco em Dancer, que tem um refrão até interessante e, felizmente escrita por May, bastante guitarra, pouco presente na música anterior. Tudo volta a piorar com as horríveis Back Chat e Body Language. Estas são, indubitavelmente, as piores músicas de Hot Space (talvez até da discografia inteira do Queen), mas é curioso notar que foram lançadas como singles do álbum e que Body Language virou até video clip. Action This Day traz um ritmo mais acelerado e piano, especialmente no refrão, que não é dos melhores, mas compensado pelo ótimo dueto entre Mercury e Taylor. O solo foi feito por um sintetizador imitando um saxofone. A segunda parte do álbum começa muito melhor com Put Out The Fire, um oásis no meio de um deserto. Esta é a única canção realmente Rock N’ Roll de Hot Space e, embora mais pesada, lembra o Pop Rock encontrado em The Game. Nem preciso dizer que é uma das melhores do álbum. Uma balada interessante se segue com Life Is Real (Song For Lennon), um tributo ao ex-Beatle John Lennon, como sugere o título, que morreu assassinado em frente ao prédio que morava em Nova York por um fanático em 8 de Dezembro de 1980 (curiosamente, o mesmo dia em que Flash Gordon foi lançado no Reino Unido). A canção é muito bonita e poderia perfeitamente ter sido composta por Lennon (algo no qual Freddie Mercury é um gênio – ele sempre procurou homenagear outros músicos em suas canções compondo-as de uma forma que soassem como se fossem dos próprios homenageados, como foi feito em Crazy Little Thing Called Love). Temos o Pop Rock divertido de Calling All Girls mantendo o bom nível desta segunda parte de Hot Space (que, após Action This Day, parece se tratar de um álbum completamente diferente). A canção que todos os críticos adoram falar mal, Las Palabras De Amor (The Words Of Love), pode até ser um pouco brega, mas é bem cativante e possui um instrumental muito bem executado, auxiliado pelos sintetizadores que, aqui, enriquecem a música, e não a dominam. Os vocais principais são de Mercury, com backing vocals de May. Las Palabras De Amor é a terceira e última canção do Queen a incluir versos cantados em outro idioma além do Inglês, sendo as outras Teo Torriatte (Let Us Cling Together) e Mustapha. A Pop Cool Cat chega para lembrar-nos de que ainda estamos ouvindo o mesmo álbum iniciado em Staying Power, porém, agora, com muito mais qualidade e vocais fantásticos de Mercury, que canta a canção inteira em falsete. Under Pressure é nada menos do que uma das melhores canções da história do Queen. Basicamente idealizada por Mercury e em parceria com David Bowie, a obra-prima traz ainda outro riff inconfundível do baixo de Deacon, mas ninguém se lembra de quem o criou. Mercury diz que foi Deacon. Deacon diz que foi Mercury. Mas quem se importa, afinal? O dueto de Mercury e Bowie é impecável e cada um foi responsável por escrever suas partes cantadas. A canção começa Pop (no melhor sentido da palavra) e vai crescendo até explodir em um belíssimo Rock N’ Roll em sua segunda metade. Sozinha, Under Pressure já vale pelo álbum inteiro, encerrando-o da melhor forma possível. No fim das contas, podemos concluir que Hot Space é bom e ruim ao mesmo tempo. Se formos analisar em LP, o lado A é ruim (quase horrível, não fosse por Dancer e Action This Day, que tornam a experiência menos dolorosa) e o lado B é bom (só não é melhor porque Cool Cat, mesmo não sendo das piores, está nele).

THE WORKS (1984)
Como era de se esperar, Hot Space foi um fiasco de crítica, público e vendas. Por este motivo, sua turnê foi a última nos Estados Unidos. Isso fez com que o Queen repensasse sua direção musical. Um álbum Disco/Funk/Soul/Pop/Rock não havia dado certo. A decisão tomada foi investir mais em elementos eletrônicos (e não apenas em sintetizadores) além de retomar parte da veia Hard Rock da banda, quase que inteiramente ausente em The Game e Hot Space. Com isso, The Works foi um álbum mais feliz que seu antecessor. Em Radio Ga Ga encontramos uma excelente faixa eletrônica e um dos hits mais famosos da banda, e em nada lembra coisas horríveis como Body Language. Tear It Up é o Hard Rock que todos esperam ouvir de uma banda como o Queen: guitarras distorcidas, bateria pesada e backing vocals formando um coro. Rock N’ Roll de qualidade. Temos agora uma balada delicada de Freddie Mercury ao piano, outro de vários bons momentos em The Works: It’s A Hard Life é uma canção reflexiva sobre os altos e baixos que a vida nos proporciona em seu decorrer. May e Taylor já declararam que esta é uma de suas canções favoritas de Freddie Mercury, não à toa. Man On The Prowl é um empolgante Rockabilly no qual Mercury se diverte fingindo ser Elvis Presley novamente, lembrando muito, obviamente, Crazy Little Thing Called Love. Uma das faixas mais interessantes do álbum, Machines (Or Back To Humans), é uma fusão dos elementos eletrônicos de Radio Ga Ga com o Hard Rock de Tear It Up, resultando numa incrível parede sonora rica em detalhes. I Want To Break Free, outro estrondoso sucesso do Queen composto por Deacon, aparece em The Works em uma versão mais curta do que a famosa versão do single. A canção é um Pop alegre comum que, provavelmente, se tornou mais famosa por causa de seu video clip, que mostra todos os membros da banda vestidos como mulheres. Keep Passing The Open Windows foi escrita, na verdade, como parte da trilha sonora de um filme. Quando a banda decidiu parar de trabalhar na trilha sonora para se dedicar exclusivamente ao The Works, a canção foi modificada para poder se encaixar melhor na proposta sonora do álbum. Ela, de certa forma, possui uma temática parecida com a de It’s A Hard Life, porém é outra fusão de eletrônicos e Hard Rock, além de uma das composições mais complexas e ricas do trabalho. Outro Hard Rock no estilo de Tear It Up se segue com a ainda mais empolgante Hammer To Fall, o terceiro maior hit do álbum e uma das músicas mais pesadas lançadas pela banda nos anos 80. É o Queen provando que, acima de tudo, ainda é uma banda de Rock que faz música de qualidade. Para concluir, a belíssima balada Is This The World We Created...?, executada com todo o feeling possível pelo violão de May e pela voz de Mercury. A inspiração veio após ambos terem assistido ao jornal noticiário televisivo e, como o instrumental desta música é todo feito apenas por violão, a mesma começou a ser executada ao vivo com Love Of My Life.

O ano de 1984 ainda contou com outros lançamentos além de The Works. Dois shows gravados em Montreal nos dias 24 e 25 de Novembro de 1981 foram editados no filme We Will Rock You, lançado em Setembro. A turnê ainda era de The Game, mas já contava com Under Pressure no set list pelo fato de a música já ter sido lançada como single na época, meses antes de Hot Space. Em Novembro, é lançado um single de Natal, a bonita balada Thank God It’s Christmas.

Em 1985, durante a turnê de divulgação de The Works, a banda se sentiu desgastada. Os conflitos internos estavam em alta e ficou decidido que o Queen encerraria suas atividades ao final da turnê. Mas foi por causa de um show, de apenas 20 minutos de duração, que isso mudou. Foi no festival Live Aid, em 13 de Julho de 1985. A banda havia sido agendada para tocar quase que de última hora, então todos estavam nervosos por tocarem em frente a milhares de pessoas que não estavam ali pra ver o Queen. Porém, quando o show começou, a resposta do público foi intensamente positiva, inclusive em músicas recentes como Radio Ga Ga. Até hoje, muitos consideram este como o melhor show já feito pela banda. Ao fim do espetáculo, a banda se sentiu revitalizada e estava apta a continuar na ativa. Assim, começaram a trabalhar em novo material.

A KIND OF MAGIC (1986)
O primeiro álbum fruto desta nova energia do Queen foi o ótimo A Kind Of Magic, que basicamente é também a trilha sonora para o filme Highlander, que nunca teve uma trilha sonora oficial lançada. As versões do álbum são diferentes das presentes no filme (vale lembrar que nem todas as músicas de A Kind Of Magic aparecem em Highlander e que Hammer To Fall foi incluída em uma cena do mesmo). A primeira música escrita após o Live Aid foi justamente a porrada Hard One Vision, que abre o álbum soberbamente (desde A Day At The Races eu não ouvia uma faixa de abertura tão empolgante assim). Aqui encontramos um momento mágico: a bela fusão de sintetizadores (não de eletrônicos, como no álbum anterior) com Hard Rock, algo que a banda ainda iria explorar muito nos álbuns seguintes. Esta música é resultado do trabalho em conjunto dos quatro integrantes e, se fosse diferente, provavelmente não teria a mesma energia que apresenta. O álbum se segue com a primeira faixa-título da carreira do Queen (a música Sheer Heart Attack não saiu no álbum homônimo). A Kind Of Magic é uma excelente música Pop feita para ser apreciada com atenção, e uma de minhas preferidas desta fase da banda. O baixo divertido de Deacon se destaca em cada momento da faixa. Segue-se uma balada. One Year Of Love traz uma das melhores interpretações de Mercury, que canta como se estivesse sofrendo. Temos um bom solo melancólico de saxofone, que aparece também sutilmente em outros momentos desta composição bonita de Deacon. Outro destaque desta são as belas harmonias criadas em sintetizador e orquestra nos momentos finais da música. Pain Is So Close To Pleasure é um Pop mais descontraído e divertido (cantado em falsete), além da primeira parceria entre Mercury e Deacon em composição no álbum. A segunda é justamente a fantástica Friends Will Be Friends, outra balada linda, com pitadas de Hard Rock, que fala sobre o valor da amizade, não importa aonde e nem quando. Esta música foi inserida no set list da banda entre We Will Rock You e We Are The Champions para a turnê de A Kind Of Magic. Who Wants To Live Forever, composta por May (que canta o primeiro verso) é outra balada bonita basicamente guiada por várias camadas de sintetizadores e por orquestra. Muitos crêem que este é o tema de Highlander, mas estão enganados. O que se pode dizer desta é que é o tema de amor do filme. O Hard Rock volta com Gimme The Prize, com algumas falas extraídas do filme (a canção é o tema de Kurgan, vilão de Highlander). Não é uma das mais empolgantes, mas traz um curioso vocal bastante rasgado (às vezes, quase gutural) e desesperado de Freddie Mercury e algumas variações do tema criado para o filme. Don’t Lose Your Head, de Taylor, é uma faixa eletrônica interessante (mesmo com seu andamento quase constante) que poderia muito bem fazer parte de The Works. A única composição solo de Mercury em A Kind Of Magic é também a melhor canção do álbum e o verdadeiro tema de Highlander: Princes Of The Universe, um Heavy Metal complexo cheio de variações, pausas e muito peso em seus 3 minutos e meio de duração. Neste momento, o Queen regride totalmente às suas raízes, e encerra com estilo mais um trabalho memorável.

A turnê de A Kind Of Magic, chamada Magic Tour, foi um enorme sucesso. Foi também a última. Freddie Mercury foi diagnosticado com AIDS e a banda decidiu que não faria mais shows, mas continuaria lançando álbuns. Ao final de 1986, é lançado o segundo álbum ao vivo da banda, Live Magic, que foi muito criticado por fãs pelo fato de muitas das canções terem sido editadas. O mais gritante e revoltante dos exemplos foi a remoção da seção operística de Bohemian Rhapsody. Apesar deste problema, Live Magic traz, em sua maioria, canções gravadas no último show da banda realizado com Freddie Mercury, em 9 de Agosto de 1986, se tornando um importante registro nos dias atuais.

THE MIRACLE (1989)
O mundo não sabia da doença de Freddie Mercury e nem o porquê de a banda ter parado de fazer shows. A banda estava mais unida do que nunca, assinando todas as composições de The Miracle com o nome Queen, apesar de quase todas terem sido escritas por um ou, no máximo, dois integrantes, com os outros contribuindo nas estruturas e arranjos. O mesmo aconteceria com o álbum posterior. The Miracle começa com a divertida Party, uma ótima mistura de Pop e Hard Rock que apresenta um riff excelente de guitarra em sua metade e uma bateria empolgante. A faixa nem chega a terminar e já é emendada com o Hard Rock poderoso de Khashoggi’s Ship que, se diferente de Party em termos musicais, é parecida em temática. A canção The Miracle é uma das mais ricas composições de Mercury nos anos 80, tanto em instrumental quanto em letra, e é digna de ser a faixa-título do álbum. Os inúmeros sintetizadores são boa parte da riqueza instrumental encontrada em The Miracle (álbum e música). O grande hit da vez é a excelente I Want It All. No álbum, sua introdução é feita pelos riffs de May, seguido do acompanhamento de Deacon e Taylor (a versão do single começa apenas com os vocais cantando o refrão). I Want It All é o Hard Rock definitivo do álbum e um dos mais famosos da banda, com andamentos diferentes: os versos e refrãos são bem cadenciados, os sintetizadores tomam conta da ponte, cantada em dueto por May e Mercury, e o solo é dividido em uma parte cadenciada e outra rápida, separadas por um riff potencialmente pesado. Excelente em todos os sentidos. Depois desta, temos uma sucessão de canções Pop/Rock iniciada com The Invisible Man, uma das melhores. O interessante desta é reparar que os nomes de todos os membros do Queen aparecem em partes distintas durante sua execução. Composta por Taylor, a música tem a percussão em destaque. Breakthru tem um trabalho vocal muito bonito em seus momentos iniciais e certo peso no refrão e também se mostra interessante. Rain Must Fall é uma parceria entre Deacon, responsável pelo instrumental, e Mercury, que escreveu a letra. A canção é bem Pop e descontraída e diverte por seus arranjos e melodias, incluindo a discreta percussão ao fundo. Scandal é uma ótima composição de May (que apresenta um bonito riff de guitarra com efeitos sintetizados) e outra das melhores de The Miracle. A música é uma resposta à imprensa Britânica, que criava controvérsia sobre seu relacionamento (e recente divórcio) com a atriz Anita Dobson. My Baby Does Me é mais uma contribuição Pop entre Deacon e Mercury e é um pouco semelhante musicalmente à Rain Must Fall, porém inferior, encerrando a seqüência Pop/Rock do álbum. O maior destaque de The Miracle é o épico Was It All Worth It, idealizado pelo mestre Freddie Mercury (a banda toda contribuiu de diversas formas). É um Heavy Metal com influências clássicas e complexidades típicas do que a banda fazia nos anos 70. Aqui temos coros que parecem ter saído do álbum A Night At The Opera. A canção é toda perfeita (chamá-la de obra-prima ainda não é o suficiente), mas seu melhor momento é justamente a parte do solo emendada com uma magnífica passagem clássica feita por sintetizadores e orquestra. A letra é uma reflexão de Mercury (ou, talvez, de toda a banda) sobre sua vida dedicada ao Rock N’ Roll e aos seus altos e baixos. No fim, conclui que tudo valeu à pena. Mais uma ótima faixa de encerramento de outro ótimo álbum do Queen. (Nota: todos os álbuns comentados nesta matéria dupla sobre a discografia do Queen, exceto Made In Heaven, foram analisados baseando-se no track list de suas edições em LP, ignorando as bonus tracks exclusivas para as versões em CD.)

Ao final de 1989, é lançado, na Europa, At The Beeb, um álbum ao vivo que traz gravações de duas sessões feitas pela banda para a BBC em 1973. Das oito músicas que compõem o track list, sete são do álbum de estréia, sendo Ogre Battle a única de Queen II, ainda inédito na época. At The Beeb foi lançado nos Estados Unidos apenas em 1995, sob o nome Queen At The BBC. Em Dezembro de 1990 é lançado Queen At Wembley, VHS contendo parte de um dos dois shows da Magic Tour realizados no Wembley Stadium.

INNUENDO (1991)
Após o lançamento de The Miracle, a banda logo deu início aos trabalhos do próximo álbum. Freddie Mercury já progredia nos estágios finais de sua doença e iria ao estúdio esporadicamente, quando se sentia bem o suficiente, para gravar seus vocais, o que fez com que todos aproveitassem ao máximo a sua rara presença no local. Os médicos achavam que ele não iria conseguir concluir seu trabalho. Felizmente, além de conseguir terminar as gravações de Innuendo, o primeiro álbum lançado pela banda nos anos 90, Mercury ainda conseguiu deixar algum material extra gravado para que a banda pudesse concluir no futuro. Innuendo se inicia logo com sua épica faixa-título, um Heavy Metal sombrio que apresenta um dos melhores momentos de toda a obra do Queen: após o segundo refrão, uma linda seção instrumental flamenca aos violões de Brian May e Steve Howe, guitarrista do Yes. Esta seção é seguida de outra clássica acompanhada dos belos vocais de Mercury e do coro de vozes que o Queen sempre fez com perfeição, abrindo espaço para o breve, mas eficiente, solo de May. Simplesmente, um excelente começo para o álbum. I’m Going Slightly Mad é uma canção com clima psicodélico, refletido pelos sintetizadores, solo de guitarra, letras e efeitos sonoros. (Inclusive, este é o grande atrativo de Innuendo: a temática das letras sempre reflete na parte instrumental das músicas, e a banda foi, mais uma vez, genial.) Para quebrar o clima de loucura, ou não, Headlong traz o velho Hard Rock do Queen de volta, em um instrumental rico, trabalhado e deliciosamente empolgante, se mostrando como uma das melhores canções do álbum. (Certa vez estava de férias com minha família. Todas as vezes em que Headlong estava tocando no som, Victoria, minha filha, dizia: “Esta música é engraçada.”. E era apenas nesta. Não sei realmente o que ela viu de engraçado na música, mas, depois disso, nunca mais consigo escutá-la sem lembrar de minha filha, que adora Beatles e, um belo dia, soltou: “Queen também é bom!”.) I Can’t Live With You é outro Rock excelente que se segue e mantém o elevado nível de qualidade de Innuendo, além de demonstrar que, apesar de sua saúde debilitada, a voz de Mercury continuava inabalável, como prova também a bela Don’t Try So Hard, balada em que canta boa parte em falsete e apresenta outro clima sonoro perfeitamente encaixado com a letra. Ride The Wild Wind é outra canção de Taylor sobre sua paixão por carros, já evidenciada no clássico I’m In Love With My Car. Desta vez, os vocais principais são feitos por Mercury e a música é um Hard Rock com influências eletrônicas, além de ser a mais rápida do álbum. O melhor trabalho vocal de Mercury em Innuendo é encontrado na operística All God’s People, com suas inúmeras camadas vocais cantadas em diversos tons. Esta música foi inicialmente criada por Mercury e pelo compositor e produtor musical Mike Moran para o projeto Barcelona, mas não foi usada, sendo reformulada para se encaixar em Innuendo (similar ao que ocorreu com Keep Passing The Open Windows, no The Works) e traz momentos de musicalidade africana e Hard Rock, sendo outra rica composição no álbum. Em termos musicais, a linda These Are The Days Of Our Lives é uma das canções mais simples já feitas pelo Queen e é um belo exemplo de como seria a sonoridade de algumas das que seriam lançadas no álbum póstumo. Ela possui uma temática similar à de Was It All Worth It, uma reflexão sobre os velhos tempos. Delilah é uma música Pop descompromissada e, por vezes, boba sobre a gata de Mercury e só entrou no álbum por muita insistência dele. O único ponto fraco de Innuendo. Para compensar, temos todo o peso que faltava em trabalhos como The Game e Hot Space na porrada The Hitman, o último grande Heavy Metal do Queen e a canção mais agressiva de um álbum marcado por fantásticas composições pesadas. Bijou é maravilhosa e traz Brian May inspiradíssimo em sua guitarra, extraindo um feeling raro, acompanhado do clima dark dos sintetizadores, culminando na breve e linda participação dos vocais de Mercury (a canção foi planejada para ter as guitarras fazendo os versos e o vocal entrando apenas no que seria a parte do solo de guitarra). A última canção do álbum é, também, o testamento de Freddie Mercury: The Show Must Go On, uma das mais comoventes obras-primas da banda. Uma fusão de Opera com Rock perfeita e bastante tocante, com intensa musicalidade e vocais por parte da banda. É difícil de acreditar que Mercury quase não podia mais andar quando a gravou, tamanha foi sua dedicação. Um grande mestre estava indo embora, mas fazia questão de deixar seu legado para a humanidade. Eu diria que The Show Must Go On é a companheira perfeita de Was It All Worth It: enquanto uma fala de reflexões sobre a vida, a outra é, de fato, uma despedida. Despedida esta que serve também para Innuendo, um dos melhores álbuns de toda a carreira do Queen.

Innuendo foi lançado em Fevereiro de 1991. No final de Outubro, foi a vez da coletânea Greatest Hits II, abrangendo sucessos de Hot Space até Innuendo. Esta coletânea foi o último lançamento da banda antes da morte de Mercury, que faleceu em 24 de Novembro, um dia após ter declarado que tinha AIDS. Em Março de 1992, outra coletânea, Classic Queen, é editada. (O motivo desta compilação foi a volta do sucesso do Queen nos Estados Unidos após o filme Wayne’s WorldQuanto Mais Idiota Melhor, no Brasil –, que possui a famosa cena na qual os personagens principais piram o cabeção no carro ao som de Bohemian Rhapsody.) Em 20 de Abril ocorre o The Freddie Mercury Tribute Concert, no Wembley Stadium, reunindo vários artistas famosos tocando suas músicas e se juntando aos membros remanescentes do Queen para assumir os vocais antes feitos por Mercury. (Eu pessoalmente não gosto deste tributo, mas foi importante por arrecadar bastante dinheiro, que foi destinado ao tratamento de pessoas com AIDS.) No mês seguinte foi lançado Live At Wembley ’86, álbum duplo ao vivo contendo o mesmo show do VHS Queen At Wembley.

MADE IN HEAVEN (1995)
O Queen retornou ao estúdio em 1993 para começar a trabalhar no material deixado por Mercury pouco antes de sua morte. Como o material não era suficiente para preencher um álbum inteiro, algumas canções (em que Mercury canta) dos álbuns solo de Mercury, May e Taylor foram retrabalhadas para soar como Queen, além de outras em que May e Taylor precisaram gravar vocais para preencher partes que Mercury não conseguiu concluir. O resultado disso foi Made In Heaven, lançado 4 anos após sua morte. O trabalho feito para este álbum foi tão intenso que ele consegue manter o nível dos lançamentos pós-Hot Space. It’s A Beautiful Day serve basicamente como uma introdução e partiu de uma gravação de 1980 de Mercury ao piano, que foi enriquecida com novos elementos sendo adicionados. Made In Heaven, a faixa-título, é originalmente do álbum Mr. Bad Guy, de Mercury, e aqui ganha ares épicos em uma balada cadenciada e, por vezes, pesada e intensa. A banda retrabalhou a parte instrumental da canção e adicionou os vocais originais da mesma posteriormente, assim como foi feito com outras no álbum. Let Me Live é outra grande balada de Made In Heaven e traz algo único em toda a obra do Queen: todos os membros, com exceção de Deacon, dividem os vocais nesta, com cada um cantando um verso (Taylor também canta a ponte). A música seguinte, Mother Love, foi gravada nas últimas semanas de vida de Mercury. May canta o último verso que Mercury não conseguiu gravar. A música é sombria, com sua atmosfera pesada e melancólica, e ainda inclui breves trechos do show lançado no álbum Live At Wembley ’86 (mais especificamente One Vision, Tie Your Mother Down e o famoso momento em que Mercury convida a platéia para cantar junto a ele) e de um cover de Goin’ Back (de Carole King e Gerry Goffin), gravado em 1972. My Life Has Been Saved foi composta por Deacon e gravada durante as sessões de The Miracle, aparecendo como B-side do single Scandal. Aqui ela está musicalmente diferente da original, porém com os mesmos vocais. A canção é outra das várias baladas cativantes presentes no álbum. I Was Born To Love You é a segunda canção de Mr. Bad Guy retrabalhada e apresenta o único verdadeiro Hard Rock de Made In Heaven. A canção é muito empolgante e ainda traz Mercury gargalhando e exclamando “It’s magic!” (retirado da canção A Kind Of Magic) ao final. Excelente. Heaven For Everyone é uma canção de Roger Taylor escrita em 1986 e acabou sendo gravada por sua outra banda, The Cross. Mercury gravou os vocais principais da canção como músico convidado, com Taylor fazendo backing vocals, e a mesma foi lançada na edição para o Reino Unido do álbum Shove It. (No single e na edição para os Estados Unidos, Taylor é responsável pelos vocais principais e Mercury faz os backing vocals. Na versão encontrada em Made In Heaven, os backing vocals ficam a cargo de Brian May.) Esta canção é um dos melhores momentos do álbum e seus versos me fazem lembrar um pouco de These Are The Days Of Our Lives. Outra canção das sessões de The Miracle é a linda Too Much Love Will Kill You, que só não entrou naquele álbum devido aos problemas entre as companhias representantes dos direitos autorais de Frank Musker e Elizabeth Lamers, que a co-escreveram com Brian May. (May tocou a canção publicamente pela primeira vez no The Freddie Mercury Tribute Concert e acabou lançando-a em seu álbum solo Back To The Light, de 1992, com seus próprios vocais.) Os três autores da canção receberam o prêmio Ivor Novello por composição, mais do que merecido. You Don’t Fool Me é minha preferida do álbum e sua história é curiosa: a princípio, nada poderia ser feito dela, pois não havia sequer uma base concreta para trabalhar. O produtor David Richards coletou vários trechos de gravações que Mercury deixou para o álbum e, assim, construiu a letra, mandando o trabalho vocal de Mercury concluído para que a banda pudesse gravar seus instrumentos e backing vocals. E foi assim que ela nasceu. Apesar de seu ritmo mais dançante, felizmente não vejo grandes semelhanças entre ela e o trabalho feito em Hot Space. A Winter’s Tale foi a última música em que Mercury escreveu sozinho e é mais uma balada no álbum, com tema similar ao do single Thank God It’s Christmas (porém, com um refrão mais bonito). It’s A Beautiful Day (Reprise), a princípio, parece se tratar da mesma faixa que abre o álbum (com algumas poucas alterações no início), porém, após pouco mais de um minuto, descobre-se que é uma versão Rock N’ Roll da mesma, inclusive sendo superior, com trechos da introdução de Seven Seas Of Rhye (a versão do álbum Queen II) em seus momentos finais, e a canção termina abruptamente com Mercury dizendo “Yeah!”. Logo a canção dá lugar a uma misteriosa faixa instrumental de mais de 22 minutos de duração, criada por David Richards, com idéias de Roger Taylor e Brian May acrescentadas posteriormente. Esta faixa sem título, encontrada apenas na edição de Made In Heaven em CD, consiste de vários climas dark providos por diversos sons, colagens de instrumentos, efeitos sonoros e algumas poucas vozes. (Várias teorias já foram criadas por fãs para tentarem compreender o sentido desta faixa, o que não deixa de ser interessante, mas não é o meu caso. Não tenho essa paciência toda.) Esta curiosa viagem sonora encerra o nostálgico Made In Heaven, o definitivo álbum final do Queen.

Em 1997 é editada a compilação Queen Rocks, que explora o lado Hard Rock da banda. Esta compilação é única entre todas as outras, pois não foca apenas em hits, como comprova a presença de canções como Stone Cold Crazy, Tear It Up, Sheer Heart Attack e It’s Late. Mesmo faltando outras com grande potencial para entrar na coletânea, como Liar, Ogre Battle, Princes Of The Universe e The Hitman, Queen Rocks é o lançamento que mais gosto do Queen (excluindo-se os álbuns de estúdio) e traz duas novidades: a primeira é uma versão retrabalhada de I Can’t Live With You, muito mais pesada e ainda melhor do que a original lançada em Innuendo. Esta versão foi batizada de I Can’t Live With You (’97 Rocks Retake). A segunda é a nova No-One But You (Only The Good Die Young), uma emocionante balada em homenagem a Freddie Mercury e Diana, Princesa de Gales, falecida no ano anterior. A canção foi escrita por Brian May, que canta o primeiro e terceiro versos, sendo Taylor responsável pelos vocais do segundo. No-One But You é a única música do Queen totalmente concebida após a morte de Freddie Mercury que envolve apenas os membros originais remanescentes da banda em sua gravação. Tal fato faz dela uma espécie de despedida do nome Queen, que seria usado em futuras gravações como Queen + e o nome do participante convidado. Queen Rocks foi o último lançamento do autêntico Queen, com John Deacon deixando-o no final de 1997 para se aposentar, após 26 anos de serviços dedicados à banda.

Em 1999, sai, sob o nome Queen +, o fraco Greatest Hits III, uma mistura de músicas de Made In Heaven (e também algumas dos álbuns anteriores que ficaram de fora de Greatest Hits II), das carreiras solo de Mercury e May, remixagens e versões ao vivo cantadas por convidados. A década de 2000 contou com inúmeros lançamentos e relançamentos do Queen original. Os mais conhecidos são:
• Em 2003, o relançamento do famoso show da Magic Tour no Wembley Stadium. O DVD (trazendo o show completo) e CD (com algumas bonus tracks) foram renomeados Queen: Live At Wembley Stadium;
• Em 2004, o CD e DVD Queen On Fire: Live At The Bowl, show gravado na Inglaterra durante a turnê de Hot Space;
• Em 2006, a coletânea Stone Cold Classics;
• Em 2007, o relançamento do filme We Will Rock You com a adição das faixas Flash e The Hero, não disponíveis na versão original. Este relançamento foi batizado de Queen Rock Montreal e foi acompanhado de um CD trazendo o áudio do filme;
• Em 2009, mais uma coletânea, Absolute Greatest, que nada mais é do que um resumo dos três Greatest Hits.

May e Taylor seguem usando o nome Queen + até hoje em shows e lançamentos de gravações novas. Entre 2004 e 2009, formaram uma parceria com o vocalista Paul Rodgers (famoso por suas ex-bandas Free e Bad Company) chamada Queen + Paul Rodgers, que lançou Return Of The Champions, Live In Ukraine (ambos em CD e DVD) e Super Live In Japan (apenas em DVD), que consistem de canções do Queen com algumas das ex-bandas de Rodgers. Em 2008 foi lançado The Cosmos Rocks, o único álbum de estúdio da parceria. O projeto acabou amigavelmente e nenhuma das partes descarta a possibilidade de uma futura reunião. (John Deacon foi convidado a participar do projeto, mas preferiu não interromper sua aposentadoria. Mesmo assim, deu apoio aos demais integrantes.)

Se o Queen tivesse continuado com Deacon e May e Taylor dividissem os vocais das canções ao vivo e lançassem novos álbuns apenas como um trio (como foi feito em No-One But You), sua carreira após 1997 teria sido muito melhor. Porém, o legado deixado por Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon juntos encontrado em seus 14 álbuns de estúdio é muito mais do que suficiente para comprovar que o Queen foi o maior exemplo de evolução natural dos Beatles na história da Música.

It Was Worth It!

2 comentários:

  1. Primeiro obrigada por comentar no meu blog.Valeu!! Tô só começando...
    Quanto ao texto, excelente pesquisa e comentários. Vivi essa época do Queen no anos 80, com todo o entusiasmo,curtindo cada momento
    e vibrando com as novidades que saiam sobre o grupo.Mas também escutava muitas outras coisas e hoje faço a minha seleção.Que pena não poder ter assistido um show com o Freddie,mas consegui estar no show com o Paul Rodgers aqui em São Paulo. Foi maravilhoso e inesquecível. O Brian e o Roger ao vivo tocam maravilhosamente, com uma emoção verdadeira.É de arrepiar!!

    Realmente vou guardar esse texto para o meu arquivo pessoal.Já faz um bom tempo, conheci o site brasileiro do Queem,o Queenbrazil.com aonde sou colaboradora e de vez em quando mando notícias que ali são publicadas. Aliás existe mais de um site no Brasil e vários pelo mundo afora e ainda com muitos fãns. Um abraço.

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