quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Montes Claros

Eu sempre tive uma relação de amor e ódio com Montes Claros. Quando criança, eu adorava visitar a cidade e esperava por cada final de semestre ou ano para poder encontrar e brincar com meus primos. Tudo era muito bom naquela época, pois crianças não carregam as preocupações e responsabilidades de um adulto.

Sim, um adulto. Pois, aos 17 anos (ainda longe de responsabilidades), tive a primeira oportunidade de me mudar para aquele lugar. Através de Felipe (vulgo Neo, devido ao seu momento careca que evidenciava um buraco atrás de sua cabeça), apresentado a mim por meu primo Farley, conheci muitas pessoas e, através destas, conheci muitas outras mais, em um curto espaço de tempo.

Eu havia me mudado para lá porque recebi uma proposta de trabalho que não se concretizou. Portanto, passava todo o meu tempo na rua com meus “recém-conhecidos”. Nesta época, conheci a Aninha e ficamos juntos por sete anos. Durante este tempo, fui embora de Montes Claros algumas vezes. Minha última tentativa de morar lá ocorreu no segundo semestre de 2008, e não durou mais do que isso.

Entre idas e vindas, fui gradualmente percebendo que aquela cidade não me agradava por diversos motivos. Alguns deles eram ausência de privacidade, falsidade e inveja. Éramos um dos casais mais conhecidos por todos naquela época (na verdade, apesar das atuais circunstâncias, ainda somos) e havia muita gente querendo estar no meu lugar ou no dela, ou simplesmente não queria que estivéssemos juntos. Acabamos sobrevivendo a isso, pelo menos.

Outro motivo era a falta de oportunidades profissionais. Só havia trabalhos fracos e mal-remunerados. Não priorizavam as pessoas que realmente sabiam das coisas e como fazê-las, e sim aquelas munidas de “Q.I.”. Eu já estava achando tudo aquilo patético.

Mas Victoria foi gerada e nascida naquele lugar. Ela foi e é a melhor coisa que já aconteceu em toda a minha vida. Além da Aninha (quem me deu este inestimável presente), adquiri alguns bons amigos cuja amizade segue forte até hoje. Outros se perderam com o tempo por vício em drogas pesadas ou até mesmo foram mortos de forma inesperada. Após o início de 2010, eu ficaria dois longos anos sem pisar naquela cidade da qual jurei a mim mesmo que jamais voltaria a morar.

Nestes dois anos, voltei para Brasília, iniciei minha faculdade, meu relacionamento se encerrou e arrumei um trabalho do qual gosto muito. Eu não pensava em ir a Montes Claros tão cedo, pois tinha muito receio de acabar vendo algo que certamente poderia me deixar pior do que já estava. Minha filha me visitava esporadicamente, então eu estava tranqüilo sabendo que não precisaria ir lá para vê-la.

Até que, nestas últimas férias, não foi possível a sua vinda para Brasília, pois não havia quem pudesse ficar com ela enquanto eu trabalhava. Percebi que a única forma de ver minha filha seria ir a Montes Claros. Eu já estava bem o suficiente para isso. Pedi uma semana de folga no meu trabalho e avisei aos amigos mais próximos de que minha chegada era iminente e ocorreria no último dia 29.

Foi muito estranho estar de volta àquele lugar. Dois anos se passam muito rápido, mas muita coisa muda. Quanto à minha filha, jamais fico decepcionado. Cada vez que nos encontramos é uma sintonia diferente, mas igualmente perfeita. Cada momento com ela é precioso, desde um simples passeio no shopping, uma ida ao cinema ou até mesmo uma volta pelo quarteirão. Quando nos despedimos, percebi nela a tristeza ao me ver partir mais uma vez, o mesmo olhar que sua mãe transmitia tempos atrás.

Se as pessoas mudam, as amizades permanecem inalteradas. Antes da minha chegada, perguntei ao meu amigo Hernanny se poderia ficar em sua casa, o que foi imediatamente aceito. Quando fomos jogar sinuca juntos pela primeira vez após anos, nos divertimos relembrando frases que proferíamos durante as partidas, além de cantar Easy, bastante conhecida na versão do Faith No More, em alto e bom som, exagerando um pouco e não ligando para quem pudesse achar ruim. Grande companheiro de todas as horas.

Reencontrar Tayná, minha amiga mais antiga em Montes Claros, foi um dos melhores momentos da semana. Há cerca de quatro anos planejávamos nos encontrar para tomar uma Coca, fumar uns cigarros e conversar sobre putaria da forma como fazemos tão bem. Finalmente conseguimos transformar a vontade em realidade e acho que, apesar de também termos conversado sobre coisas mais sérias, há tempos eu não ria tanto. Não sei como um ano atrás eu havia me afastado dela apenas por estar irritado comigo mesmo e com outras pessoas dentre as quais ela não estava incluída.

Felipe era a única pessoa das quais não fazia tanto tempo que eu havia visto pela última vez, já que seu irmão Alceu mora em Brasília e ele costuma visitá-lo aqui ao menos uma vez por semestre, sempre me avisando com antecedência para que possamos marcar de sair. Eu o reencontrei na casa de João e Priscila (prima de Felipe), companheiros de Rock N’ Roll assim como nós. Priscila tem o dom de me fazer sentir em casa, sempre colocando para tocar o que gosto de ouvir, pois gostamos de várias bandas em comum. Alice In Chains é sempre presença certa. Na minha última noite na cidade, também me encontrei com Elton e Amom, outros dois companheiros daqueles áureos tempos de Avenida/Praça da Matriz/Shopping Popular.

É difícil conseguir medir as palavras para poder falar sobre Aninha. A última vez que ficamos juntos foi no início de 2011 e, mesmo que não estivéssemos mais namorando naquela época, a química foi intensa. Passado um ano sem vê-la, eu acreditei que estava pronto para seguir em frente. Na prática, foi muito diferente. Ela continua me enlouquecendo com sua beleza e encanto. Infelizmente, por mais que ainda exista amor mútuo (isso é óbvio para todos, como pude constatar), não depende de mim ficarmos juntos novamente. Basta que ela o queira e faça possível.

Voltar para Brasília após rever tantos bons e velhos amigos só fez aumentar a nostalgia habitual dos tempos em que eu realmente sabia o que era diversão. Estar com a Vicky traz luz à minha vida. Pela primeira vez em muito tempo, deixei Montes Claros sem realmente querer, mas isto não significa que eu voltaria a morar lá algum dia. Apenas fui embora com um aperto no coração e muita confusão em meus pensamentos.

4 comentários:

  1. Meu amigo, meu amigo! Por mais que você esteja longe, algo de intenso permanece mano! Logo nos revemos pra jogar uma boa e velha sinuca, fumar uns caretas e tomar várias cocas no Molho de Tomate! Abraços Pedrão, fica em paz ai cara...

    Felipe

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  2. Pedro!!! Minha casa sempre será sua casa!!! Adoro nossos papos, venha sempre que puder que estaremos te esperando com o maior prazer!!! Beijos de sua amiga Piu.

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  3. Como as palavras nós remete a uma viagem de lembranças... Estive presente em alguns bons momentos citados neste post, e a identificação é forte! Fico feliz de ler um texto tão bem escrito onde sinto a sinceridade e a sensibilidade do dom da escrita e do amor da palavra de um ex colega de sala que só matava aula (inclusive comigo) para ouvir rock na praça. Sempre tive a certeza que muitos da nossa galera eram promissores, e ia render muita coisa boa no futuro, e assim vejo você. A sensação boa que Moc me deixou está aqui guardada no meu coração até hoje. Fiz uma viagem no tempo e percebi como foi bom e como é bom viver, fazer amigos e manter historia.
    Forte, lindo e sucinto!
    Michele Liebe

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  4. Nossa, você escreve muito bem. Que bom que MOC te trás coisas boas novamente. A sua forma de descrever momentos é tão verdadeira e de bom entendimento. Parabéns.

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