segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Sepultura: Kairos

Eu tive a oportunidade de assistir a um show do Sepultura no Porão do Rock de 2002, quando a banda estava divulgando o álbum Nation (2001). Infelizmente, como não conhecia as músicas, fui embora mais cedo. No ano seguinte, ao ouvir Chaos A.D. (1993), me arrependi bastante de não ter conferido aquele show e uma nova oportunidade só surgiu em 15 de Dezembro de 2006, quando tocaram em Dallas e eu tive o enorme prazer de conhecer e conversar com Derrick, Paulo e Andreas (este último após a apresentação).

Se foi com Dante XXI, álbum lançado naquele ano, que passei a prestar mais atenção e a apreciar a fase da banda com Derrick Green nos vocais, A-Lex (2009) foi o responsável pela consolidação da minha paixão pela banda, independentemente de quaisquer fases ou formações. Em 2010, o Sepultura anunciava que um novo álbum seria feito e que vídeos dos ensaios seriam disponibilizados pela Internet periodicamente. Posso afirmar que esta foi a única vez em minha vida que acompanhei o processo de composição e gravação de um álbum. A expectativa por um novo álbum de estúdio da minha banda de Metal preferida em todos os tempos era enorme.

Kairos, lançado em Junho de 2011, foi o 12º álbum de estúdio do Sepultura – o sexto com Derrick, igualando em números com Max Cavalera. A banda optou por um som mais direto e pesado e remete bastante à famosa “trinca clássica” Beneath The Remains (1989)/Arise (1991)/Chaos A.D., fazendo de Kairos, em minha opinião, o melhor trabalho do Sepultura desde aqueles tempos.

Spectrum, se não funciona tão bem como faixa de abertura – especialmente de um grande trabalho – tampouco decepciona por sua cadência constante e riff simplista. Aqui já se pode notar a presença dos solos mais elaborados de Andreas Kisser, ausentes durante muitos anos. Kairos, a faixa-título, segue cadenciada em sua maior parte. Porém, a segunda metade da música é extremamente empolgante, com um riff simples e matador (uma especialidade de Andreas). Perfeita para agitar nos shows. O andamento do álbum começa a acelerar com Relentless, apresentando um excelente trabalho de bateria de Jean Dolabella e solos guitarrísticos intercalando entre si. Segue-se 2011, a primeira de quatro vinhetas (extremamente desnecessárias, por sinal) de aproximadamente 30 segundos de duração.

Just One Fix é uma música da banda Ministry e não conheço sua versão original. Entretanto, se há algo inegável é que o Sepultura sempre mandou bem em covers, improváveis ou não. Esta em questão até soa Industrial, mas, felizmente, não lembra em nada a modernidade encontrada em Roots (1996). Aqui temos Metal direto e de qualidade. Dialog traz a cadência de volta juntamente a um dos melhores refrãos do álbum. Propositalmente ou não, seu final lembra muito o do épico Desperate Cry, clássico do álbum Arise e, talvez, minha canção preferida da carreira da banda. Mask já anuncia as guitarras desesperadas de Andreas pedindo espaço. O refrão contém blast beats, remetendo ao Black Metal. Cheia de passagens e ritmos quebrados, é uma das mais empolgantes de Kairos. 1433 é a segunda vinheta a ser apresentada.

Seethe é a canção mais curta do álbum. Uma pena, pois há tantas idéias boas encontradas nela que poderiam render facilmente uns dois minutos a mais sem soarem repetitivas. Ainda assim, outro destaque. Born Strong é minha música preferida de Kairos e traz um dos melhores riffs já criados pelo Sepultura em seu refrão. Esta poderia facilmente fazer parte do Arise caso houvesse sido escrita naquela época, tamanha é a similaridade de estilos. Embrace The Storm não traz nada de muito interessante, sendo assim a canção que menos gosto aqui. 5772, a terceira vinheta, passa quase despercebida quando logo se inicia a frenética No One Will Stand, a música mais Thrash Metal do álbum, onde toda a banda se sobressai, até mesmo Paulo Jr. que, como todos sabem, nunca foi um grande baixista. Mas realmente quem se destaca logo no início é Jean, demonstrando grande técnica em sua bateria. Grande homenagem ao Thrash old school.

Desde Against (1998), o primeiro álbum com Derrick, o Sepultura encerra seus trabalhos com excelentes canções instrumentais/semi-instrumentais – as exceções vão para Roorback (2003) e A-Lex, sendo este último devido à inclusão da dobradinha A-LEX IV/Paradox em seu encerramento. Em Kairos, a banda apresenta Structure Violence (Azzes), uma parceria com o grupo de percussão francês Les Tambours du Bronx. A faixa traz elementos eletrônicos, frases ditas em Inglês e Português e alguns momentos cantados por Derrick. O trabalho de percussão é fantástico, assim como os riffs de Andreas. O Sepultura criou aqui a melhor faixa de encerramento de sua carreira, superando até mesmo a excelente Clenched Fist, do Chaos A.D. 4648 é a vinheta que finaliza Kairos de vez. Nesta, podemos conferir vozes da banda – mais precisamente as de Derrick e Andreas – conversando.

A edição especial de Kairos ainda traz duas bonus tracks. A primeira é Firestarter, mais um cover, desta vez da banda The Prodigy. Também não conheço a versão original desta, mas a encontrada aqui é ótima e traz um experimentalismo interessante. A outra é a inédita Point Of No Return. Mesmo não sendo do calibre de outras como Relentless, Dialog, Mask ou Born Strong, não consigo encontrar motivos para que ela não fosse incluída como parte do álbum, pois sua qualidade é inegável, sendo até mesmo melhor do que algumas das canções “oficiais”. Esta edição especial também traz um DVD contendo os mesmos vídeos dos ensaios disponibilizados na Internet.

Kairos foi uma volta bem-sucedida ao Metal praticado outrora e trouxe mais um punhado de excelentes canções ao catálogo do Sepultura, mostrando uma banda super coesa e afiada. Infelizmente, em Novembro passado Jean anunciou seu desligamento da banda, sendo substituído por Eloy Casagrande, o moleque virtuoso das baquetas. Eu espero apenas que ele seja um substituto a altura de Jean, que, por sua vez, fez justiça ao trabalho do fantástico Igor Cavalera. O confortante é saber que o Sepultura sempre foi e ainda é maior do que qualquer integrante que faz ou fez parte da banda, e eu só tenho a agradecê-los por tornar minha vida ainda mais feliz com sua música original e de extrema qualidade.

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