domingo, 13 de novembro de 2011

A Rock Opera

O texto a seguir não analisa as canções em si. Elas apenas estabelecem uma conexão com momentos da minha vida, como uma espécie de trilha sonora. Minha intenção era apenas escolher bandas clássicas do Rock – o que cresci ouvindo. A escolha destas canções não foi tarefa fácil.

Behind Blue Eyes
The Who
Who’s Next (1971)

O blue do título desta pequena obra-prima não remete à cor, e sim à tristeza. A letra se refere a um homem mal-compreendido e vazio que, apesar de parecer odiado por todos, encontra refúgio em outra pessoa.

Ninguém sabe como é ser... a ovelha negra. Julgado, criticado, acusado. Enfim, um mar infinito de adjetivos negativos. Quando eu tinha meus 16 anos de idade e vivia em Belo Horizonte, eu era o alvo de fofocas da família – tanto a de mãe quanto a de pai – e diziam até mesmo que eu usava drogas e era má influência àqueles ao meu redor.

Para começar, nunca fui usuário de substâncias ilícitas. Quem me conhece sabe que fumo cigarros (e que faço um grande esforço para parar com isso) e que curto tomar umas de vez em quando. E quem não gosta disso, porra? Não gostava muito de estudar naquela época, mas e daí? Isso nunca fez de mim uma pessoa inferior ou menos inteligente. A arte sempre me permitiu aprender, expressar meus sentimentos – sem a necessidade de apunhalar alguém pelas costas – e refletir sobre o que é o melhor para mim.

Aquele foi um momento difícil na minha vida. Realmente tive a impressão de que todos haviam virado as costas e que agora éramos apenas eu e eu mesmo. Agora que tudo passou, não sei dizer se o fizeram por bem, mas posso garantir com toda a certeza de que aquela não foi a forma correta de se fazer.

Goodbye Stranger
Supertramp
Breakfast In America (1979)

Goodbye Stranger é a síntese da promiscuidade masculina, do homem desimpedido que não sente a necessidade de ter uma companheira fixa, pois enxerga a situação como o fim de sua liberdade e juventude.

Para começar, tive um relacionamento sério durante sete anos. Quando este relacionamento acabou, senti que deveria aproveitar a vida ao máximo. E qual foi a solução que julguei ser correta? Fazer um bestial devastation! O resultado: era bom durante, mas, logo ao final, eu sentia o velho vazio novamente. Não era como quando eu tinha 17 anos. Ao menos fico feliz em saber que (quase) todas as garotas se tornaram minhas amigas depois disso.

O tempo foi passando e eu percebi que ficar na minha seria a melhor opção para me recuperar. Enfim, depois de um tempo eu percebi que ninguém é insubstituível e que há um mar de peixes por aí. Só tem um problema: se antes eu achava que os peixes só apodreciam depois de mortos, agora sei que a decomposição começa a ocorrer logo quando aprendem a nadar. Claro que há exceções, mas sereias de fato nunca existiram.

Ainda sigo solteiro e sem pressa de sair desse status. Afinal, não quero ser precipitado e acabar me estressando com a escolha que fiz. Dizem que sou bastante frio para relacionamentos, mas é justamente isso que me faz manter a cabeça no lugar e ter mais tempo para me dedicar às minhas obrigações e hobbies.

Wind Up
Jethro Tull
Aqualung (1971)

A faixa de encerramento do maior clássico do Jethro Tull retrata a tentativa de educação religiosa de um garoto rebelde por parte dos adultos ao seu redor, apenas para descobrirem que tal garoto não tem mais “salvação”.

Quando eu era pequeno, minha mãe me obrigava a ir à igreja com ela. Eu sempre me deitava naquele longo banco de madeira e dormia feito uma pedra. Para começar, quem realmente acredita em Deus não precisa ir à igreja, pois se Ele é Onipresente, irá lhe ouvir onde você estiver. O fato de eu ser obrigado a ir a estes encontros me fez criar certa raiva.

Detesto quando estou caminhando pelas ruas com meus fones de ouvido e alguém me aborda para oferecer a palavra de Deus. Por que estas pessoas não são felizes apenas por já terem uma crença, ao invés de tentarem arrastar mais e mais pessoas? “Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor”, dizia o sábio John Lennon. E que tal a insegurança da vida também? As pessoas depositam todas as suas crenças Nele, achando que assim terão um destino feliz, em vida ou morte.

Para mim, o poder está em nós mesmos, em nossas vontades e atitudes. Eu creio em mim, e isso basta. Mesmo assim, respeito quem não concorde comigo. Apenas gostaria que o respeito fosse mútuo e que ninguém mais me irritasse com tentativas de “conversão” inúteis que, na pior das hipóteses, me deixariam cego.

In My Life
The Beatles
Rubber Soul (1965)

As pessoas sempre acreditam que sabem tudo sobre elas mesmas. Não! Elas mudam com o tempo e por vezes só se dão conta quando alguém faz algum tipo de comentário. Eu pertenço a esse grupo.

Certa vez, comentei com meu pai que sempre sinto aquela nuvem de nostalgia sobre mim e ele me perguntou se eu não achava que sou muito novo para sentir essas coisas. Oras. Podemos sentir saudades do ontem, do minuto que se passou. Não precisamos estar velhos para lamentarmos por algo que não se repetirá, mas que será sempre lembrado com alegria. Isto, para mim, é o que a nostalgia representa.

Conheci muitas pessoas. Algumas estão mortas e outras estão vivendo. Não amei a todas, como John Lennon (ele novamente) o fez, mas guardo lembranças boas de cada uma delas. O melhor de tudo é reencontrar amigos após anos e perceber que eles mudaram, mas não com você. É saber que aquela consideração e respeito estarão ali, haja o que houver. A essência permanece a mesma.

O fato de eventualmente conhecermos aquela pessoa pela qual esperamos por toda a vida altera o que sentimos por quem já passou por nós? Pode ser. Quando finalmente percebi o quanto minha filha é importante para mim, o conceito que eu possuía sobre o amor mudou. Passei a me amar, o que possibilitou que eu a amasse mais também. Isto não significa que passei a gostar menos das outras pessoas – apenas que amo minha filha mais.

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